Capítulo 3

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                                                                                 *Anna*

    Os feixes de luz laranjas, que entravam pela janela, me acordaram na tarde daquele mesmo dia. Varri o quarto do hospital com os olhos e estava tudo igual, exceto pela bandeja de café da manhã na ponta da cama. Minha mãe assistia ao programa do canal 6, como fazia toda manhã. Percebendo minha agitação ela olhou para mim e sorriu :

_Olha quem acordou. Está se sentindo melhor? _ perguntou ela.

_Sim mãe, só estou um pouco confusa. _ respondi.

_Ô minha querida... você sofreu um acidente. _ ela recordou e continuou _O policial que te encontrou ontem à noite está aqui. Ele veio te fazer umas perguntas para entender melhor o que incidente. Posso chamá-lo?_ perguntou.

    Assenti com a cabeça.

    Ela foi até à porta do quarto e abriu. O policial entrou de cabeça baixa, com um bloquinho e uma caneta em mãos. Ele ainda vestia o mesmo uniforme azul-marinho escuro. Sem estar, agora, com a cabeça quase explodindo e prestes a desmaiar, pude observá-lo melhor. Usava um distintivo preso ao lado esquerdo do peito, um retângulo prateado estava logo abaixo, com o seu nome escrito, Dave W., e na lateral do ombro esquerdo foi costurada o emblema do departamento de policia de Nova Iorque. Quando ele levantou o rosto e olhou para mim, um sorriso atencioso e gentil apareceu em seu rosto, mas os olhos azuis estavam cansados - ele não deve ter conseguido dormir.

_Muito prazer, meu nome é Dave Wood._ apresentou-se.

_Sua mãe já deve ter te falado o porquê estou aqui._ ele deduziu.

    Assenti com a cabeça.

_Bom, para começar, quando eu te encontrei você estava totalmente desorientada em um beco próximo ao Central Park com a Columbus Avenue, tinha acabado de anoitecer e você era a única pessoa naquele beco._ ele contou.

    Meio apreensiva, sabendo que minha mãe estava do meu lado, perguntei :

_Não tinha mais ninguém? Nenhuma garota?_

    Ele negou com a cabeça.

_Agora é a sua vez, do que você se lembra?_ disse ele

    Daí em diante contei a história toda sobre os assaltantes, tomando cuidado de não mencionar a Bianca, pois sabia que minha mãe não reagiria bem - será que todo mundo ficou louco? Ou fui eu quem fiquei?

    Após eu terminar de narrar os fatos, o jovem policial agradeceu a minha cooperação e saiu do quarto. Depois de umas duas horas, uma enfermeira veio ao quarto e nos informou que eu tinha recebido alta. Então fomos para casa. Mal podia aguentar toda a agitação, pois enfim  mostraria à minha mãe que eu não estava louca e então começaríamos a procurar pela minha irmã.

                                                                                            (...)

    Lar doce lar... umas das coisas que ainda não tinha mudado na minha vida. Era um apartamento na W. 57th Street com a 9th Avenue. O prédio ficava na esquina, era feito de tijolos cor de barro e todas janelas eram iguais. O meu lugar favorito era a saída de incêndio, de lá de cima eu via o movimento da rua, as pessoas andando, os carros passando.

    Depois de subir três lances de escada, finalmente chegamos. Minha mãe mal tinha terminado de abrir a porta quando sai correndo na direção dos quartos. Quando abri a porta do meu quarto uma luva de box invisível me atingiu no estômago. Todas as coisas de Bianca não estavam mais lá. O quarto que antes tinha duas camas, duas escrivaninhas, dois espelhos na parede, vários posteres e livros dos ídolos de Bianca e paredes com cores diferentes - porque nós não entramos em um acordo em relação à tinta das paredes, agora tinha uma cama, um espelho, uns dois posteres da minha banda favorita e as paredes pintadas em amarelo - minha cor favorita. Quando percebi, eu já estava chorando e deitada na minha cama, sem ter certeza sobre mais nada.

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