Lobo Mau

Mau Começo

Quando criança, Clarke costumava acompanhar o pai em algumas caçadas. Às vezes dariam passeios e, com sorte, voltariam com algum coelho, flores e diversas histórias para contar. Os dias em que visitou o que seu pai chamava de Grande Jardim, foram os melhores de sua infância e eram memórias que ela guardava carinhosamente no coração. Mas desde que o pai fora sentenciado a se entregar ao lado dos Grounders, sua visão a respeito do Grande Jardim mudou.

Sua mãe simplesmente odiava a ideia dela perambulando pela área isolada, as árvores pareciam monótonas, as flores não carregavam o mesmo cheiro e as cores que a cercavam simplesmente desapareceram sob seus olhos. Por isso era realmente difícil depois de tantos anos permanecer no local por horas à fio, enquanto analisava meticulosamente a cena do crime.

O nome do garoto era Sawyer Reynolds. Há poucos dias era apenas um garotinho feliz que gostava de correr pela vila com seus amigos e, assim como a maioria das crianças, estava permanentemente proibida de ir à floresta sozinho, ainda mais no escuro, por isso foi uma surpresa para todos quando após os primeiros sinais de luz solar alguns caçadores encontraram seu corpo na floresta norte, próximo à entrada da vila.

Foi particularmente difícil fazer com que os pais do pequeno Sawyer se afastassem da cena sangrenta, mas alguns dos moradores finalmente conseguiram fazer com que o casal se afastasse para que Clarke pudesse examinar o corpo e o chefe do conselho analisasse a cena. O cheiro da natureza que habitualmente sentia na floresta estava completamente mascarado pelo de sangue e morte. Felizmente, o corpo ainda não havia entrado em estado de decomposição devido a neve que praticamente o cobria.

Ela realmente gostaria de dizer que o garotinho havia deixado este mundo de forma rápida e indolor, no entanto, as marcas em seu corpo lhe diziam que haviam sido horas de tortura até que ele finalmente descansasse em paz. Suas unhas das mãos e pés haviam sido arrancadas, seu corpo nu deitado na neve era uma mistura de gelo, machas roxas e pretas e sujeira, seus olhos, antes verdes, estavam abertos e completamente vidrados, sua boca entreaberta deixava um rastro de sangue seco até a garganta, haviam marcas de dedos em seu pescoço e um ferimento feio e encoberto de sangue seco na parte de trás de sua cabeça. Haviam pedaços de arame costurados pela extensão de sua perna e no lugar onde deveriam estar seus mamilos e o lugar onde deveria estar seu abdome havia sido costurado com a pele de outro animal.

Ela suspirou. Depois de afastarem os pais da criança e os olhares curiosos dos espectadores, restaram apenas ela, Jaha e o Pastor Kane que, durante as últimas horas, manteve as mãos grudadas em seu crucifixo e rondou o corpo rezando incessantemente. Levantando-se do chão frio e repleto de neve, encarou os dois homens e cruzou os braços tentando espantar o frio.

-É difícil definir a causa da morte. As marcas em seu corpo sugerem horas de tortura, por isso, meu melhor palpite seria morte após muita perda de sangue. O que realmente me deixa intrigada é como ninguém ouviu seus gritos- ela desviou os olhos para o garotinho novamente. Era impossível que tivesse passado por todo aquele processo em silêncio. Ela se esforçou para não deixar nenhuma lágrima cair, como vinha fazendo desde que vira o corpo pela primeira vez. Precisava ser racional e não deixar suas emoções tomarem conta de si, exatamente como sua mãe havia lhe ensinado- Não há marcas evidentes em sua boca, então suspeito que ele não foi amordaçado.

Jaha suspirou e passou a mão pela cabeça. Ele olhava para o pequeno Sawyer e Clarke conseguia identificar diversas emoções em seus olhos castanhos. Medo, pena, apreensão, determinação. Ela sabia que neste momento, diversos cenários do que poderiam ter acontecido passavam pela cabeça do líder do conselho, mas era evidente para os três ali presentes que apenas uma pessoa, ou melhor dizendo, clã, seria capaz de tal brutalidade.