2. A Segunda Hora.

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Aos poucos a água quente lavava todos meus pecados, dentre eles, ter comparecido àquele apartamento. Eu simplesmente não sabia o que havia dado em mim. Aos meus olhos completamente céticos naquele  momento, bater na porta de um estranho seria menos constrangedor do que ficar na presença daquele homem, e apenas ter ficado longe dele ao tomar o maldito banho me fez refletir melhor, mesmo que por dez minutos no máximo.

Sua gentileza me assustava. Não se atreveu à tocar em mim, uma coisa que sempre admirarei em Jungkook é seu bom senso. Porém, a maneira como ele me entregou as roupas, ofereceu comida, entretenimento e até mesmo seu olhar direcionado à mim... Todos aqueles fatores me assustavam ao extremo. E pior que isso, me indicava certa hipocrisia. Ele não foi gentil quando foi pego traindo, nem nas imediatas horas depois. Inclusive nem ao menos nas horas e dias antes. A questão era que, na época, eu sentia Jungkook distante, irritadiço e seco. Seja lá o que eu fizesse pra salvar meu casamento, nada funcionava, e isso me corroeu por dentro aos poucos. O Jeongguk que eu conheci não tinha absolutamente nada a ver com o Jeongguk daqueles dias.

Mas definitivamente tinha a ver com o Jungkook daquela noite, mesmo que mais retraído por motivos óbvios, e isso sim era assustador, mais assustador que qualquer filme ou série de terror que já tenha assistido.

[...]

— Como vai Yerim?

Ergui meus olhos à ele, mesmo que por poucos segundos antes de abaixar novamente, preferindo com toda certeza encarar a bendita almofada de crochê do que seus olhos.

— Ela vai ótima. Continua sendo a melhor aluna de sua classe. Mas às vezes sente sua falta.

Decidi jogar no ar, apenas para ver sua reação. Não era uma mentira, Yerim de fato sentia falta de Jungkook, afinal, ele a criou juntamente à mim desde seus dois anos. Ela teve Jungkook como pai, e de repente, passou de vê-lo todos os dias à chorar de saudades sua. A proporção era maior que o rapaz imaginava, porém, meu orgulho normalmente nem me permitiria dizer o que acabou de ser dito, quem dirá lhe informar o quanto ela vem sentindo sua falta.

— Oh... Eu estava com vontade de visitar ela, de qualquer forma. Só estava pensando um jeito de te contatar e... Avisar.

— Você tem meu número — rebati rude, voltando à encará-lo, dessa vez com mais vontade. Porém, ele permaneceu em silêncio durante longos segundos.

— Olhe, eu sei o que está pensando, — ele disse finalmente, quebrando o silêncio — mas não tem mais o que fazer. Eu errei, okay? E não posso mudar o passado, então não precisa jogar isso na minha cara à todo instante.

— Você não hesitou ao jogar na minha cara que não estava satisfeito com o casamento, como se a culpa fosse inteiramente minha.

— Yoongi...

— Não, chega. Não quero falar sobre isso.

Então, permanecemos em um silêncio extremamente constrangedor.

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