3. Knots

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Perdão estar sumida, porém venho preparado umas oneshots. Uma delas é hot.

Aliás, eu tenho muitas hotshots. Vocês leriam se eu publicasse um livro só de hotshots?

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— Eu irei preparar o jantar — ele disse simplesmente, depois de tanto tempo sem falar nada. Então saiu, me deixando completamente sozinho.

O relógio zombava de minha cara. Os ponteiros passavam tão devagar, cada "tic" me enlouquecendo mais, e cada "toc" terminando de consolidar minha loucura. Os barulhos lá fora faziam parecer que o mundo estava desabando, e talvez, de fato estivesse. Porém, eu sentia ele o fazer ligeiramente acima de minha cabeça.

Não estava sendo uma experiência agradável, nem de longe.

Porém, todo sentimento que eu tivesse à respeito foi completamente ocultado ao que ouvi a melodia suave vinda da cozinha. Jungkook e eu sempre fomos fãs de Amy Winehouse e jazz em geral, desde que nos conhecemos. As notas foram reconhecidas por mim como sendo "Me and Mr Jones".

Parecia que ele estava fazendo de propósito, pois escutar aqueles acordes já tantas vezes ouvidos por mim me levaram à uma época que àquela altura já parecia tão distante. Conseguia escutar sua voz cantarolando na cozinha, algo que, se possível, me fez afundar ainda mais. Sua voz sempre fora algo tão relaxante ao meu ver, mas que agora só me remetia à um relacionamento fracassado.

Já não me sentia mais naquela sala quando me levantei. Era quase como um transe. Fui até a janela e escorei meus cotovelos no parapeito dela, observando a tempestade com um desdém que jamais pensei haver em mim. Não sabia quantos "tic tocs" eu tinha escutado, nem quantas vezes escutei acordes feitos com o saxofone, vez ou outra cantarolando sem perceber. Só sabia que algum tempo depois fui despertado com o toque do meu celular.

— Alô — disse ao atender.

— Yoon? Onde você está?

— Perdão... Eu ia buscar a Yerin agora pouco, mas a tempestade começou a cair e eu...

— Yoongi, terminei, se estiver com fome — Jungkook, em um momento completamente inoportuno, gritou da cozinha.

— Yoon, essa é a voz do...?

— Longa história, Junki.

— Mas você mesmo disse que nunca mais ia querer ver ele.

— Eu vou precisar ver ele de qualquer forma, pela Yerin. E a tempestade começou a cair enquanto eu estava à caminho. Acabei parando bem perto daqui, não tive escolha senão parar e pedir pra ficar com ele — sussurrei rapidamente.

— Sabe que não irá passar tão cedo, né?

— Sei... Vinte e quatro horas no inferno.

— Boa sor... Hey! Yerin, saia de cima da janela!

— Muito difícil cuidar dela? — disse, um sorriso permeando meu rosto. De alguns tempos para cá, Yerin era a única que conseguia arrancar um sorriso verdadeiro de mim, então apenas a menção em seu nome era capaz de deixar meu coração mais quente que qualquer chá que Jungkook pudesse me oferecer.

— Essa garotinha não cansa nunca! — escutei ele falar com alguém no fundo, apesar de ser inteligível. — Yoonie, ela quer falar com você.

— Passe à ela.

Alguns ruídos se fizeram presentes na ligação até que finalmente o aparelho fosse passado à garota.

— Papai!

— Oi princesa. Como vai aí no tio?

— Bem papa. Mas o tio Junki não me deixa fazer nada.

— Eu te conheço, Yerim. Sei que se ele deixasse você colocaria fogo na casa.

— Calúnia! — exclamou a garota. Estava prestes a falar novamente quando escutou a voz de Jungkook no fundo novamente, chamando pelo meu nome.

— É Yerim no telefone? — disse ele.

— Papa, essa é a voz do Jungkookie appa?!

— Jesus... — murmurei, dizendo um sim para Yerim logo depois. Para Jungkook, apenas direcionei um sinal de jóia.

— Eu quero falar com ele! Por favor! — minha princesa insistiu.

Eu quis negar. Eu quis fazê-lo, afinal, não importasse o que eu fizesse, não seria eu o afastando de Yerim — Jungkook já faz isso sozinho. Porém, eu não podia fazer isso com minha garotinha. Ela sentia uma falta imensurável de Jungkook, eu podia ver isto, eu podia sentir isto. Ela, desde pequena, sempre foi muito apegada à ele, como se estivesse tentando tapar o rombo causado pela ausência de sua mãe biológica. Seria cruel eu privar ela de ter contato com uma parte tão importante de sua vida, embora eu tivesse mais raiva dele do que era possível contabilizar.

Meu orgulho já ferido levou mais uma apunhalada quando eu murmurei para Jungkook o óbvio: Yerim queria falar com ele. Com um sorriso pequeno e quase imperceptível, ele pegou o aparelho de minhas mãos.

— Oi pequena! — dissera animadamente.

Assim como podia ver como Yerim sentia falta de Jungkook, podia ver também como ele ficara feliz ao falar com ela. Aquela cena, mesmo que parecesse tão boba, fez acender uma pequena chama de esperança, porque, afinal de contas, o Jungkook pai pelo qual eu me apaixonara ainda estava lá. Voltar não era uma hipótese, mas, de alguma forma, ver ele falar com Yerim durante longos minutos, como um pai com saudades, fez com que eu me sentisse mais feliz e otimista quanto aos laços de nossa família.

Naquele momento, eu senti que, não importava quantas tesouras tentassem cortar estes laços, eles não eram apenas laços — eram nós firmes, prendendo-nos uns aos outros com força. Senti que ainda éramos uma família.

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