O Terapeuta

Capítulo 1

Todas as manhã eu estou sentado na mesma mesa, fazendo meu pedido às 5h31: leite e torradas com geleia. É sempre a mesma coisa, as mesmas pessoas, as mesmas comidas.

Mas hoje; hoje, o atendente não estava às 5h31 olhando para mim, esperando eu fazer o meu pedido. Ele estava olhando para você, e foi você que fez o pedido às 5h31.

Não consegui piscar, não consegui respirar, nem as batidas do meu coração seriam audíveis nesse momento. E o motivo? Você. Você mudou tudo e agora é a minha vez.

Eu aprendi que em um jogo de tabuleiro cada jogador tem a sua vez, eu estava jogando e você jogou na mesma hora também. Que erro. Agora é a minha vez de novo e eu preciso consertar o jogo. O problema? Isso causa alterações no tabuleiro e ninguém gosta de mudar o jogo de repente.

Você passou por mim, e cadê a sua audácia nesse momento para me olhar? Você é fraca e você vai ver isso em você.

Na manhã seguinte, você repetiu a ação e agora eu terei que me acostumar a minha nova rotina de fazer o meu pedido às 5h32

— Bom dia!

— Bom dia!

Eu te observei por três semanas e eu descobri coisas sobre você, Emily. Isso, agora eu sei o seu nome. Mas você não disse para mim, você é fraca demais para conseguir uma conversa comigo. Você disse para o atentendente que não consegue esconder o sorriso quando te ver. Não se engane, pequena Emily, esse sorriso não é simpatia. Você vai passar por mim novamente, como faz desde o primeiro dia que apareceu.

— Emily, certo?

— Sim. Eu lhe conheço?

— Temo que nem eu mesmo me conheça, garota.

— Prazer — Você deu um riso para não ficar constrangedor — eu tenho que ir, estou atrasada.

— Claro, eu também. Sou terapeuta.

— Legal. Bom trabalho.

Você é fraca Emily, eu já sei disso, temo que nem seja o único a saber, mas você não é burra. Porque não me falou para onde ia mesmo quando eu disse? Você não me achou uma pessoa confiável ou você faz o que não deveria?