Trivium, A lua de Sangue

Capítulo 2 , "Ath yul Dabos..." - A Queda de Dabos...

Devin e Rhadamani seguiam pelo Rio Dabos, descendo com velocidade, mas ainda ouviam os uivos e barulhos das movimentações, eles estavam correndo na margem do gelado rio e não pareciam desistir. Sentiu uma fisgada no local de seus ferimentos. Estavam piorando.

- Meu Deus, o que faremos? - Perguntou.

-Estou pensando Devin. A única resposta que posso te dar agora é que
precisamos fugir. São muitos. Não posso com todos.
- Quem é você? - Porque esta me ajudando em vez de ter fugido?
- Espere ai! - Se surpreendeu Devin. - Como você sabe meu nome?
- Uma pergunta de cada vez garoto. Vou te explicar mais tarde se é que você me entende. O importante agora é a nossa fuga. - Respondeu Rhadamani.

Com um som de folhas e galhos um vulto se precipitou no ar. Um dos animais havia saltado em direção ao pequeno bote onde os dois estavam.Com um grito Devin se encolheu na parte dianteira do bote. Por poucos metros o Lobisomem não caiu dentro do bote.

- Eles estão saltando! Eles estão saltando! - gritou desesperado.

Rhadamani pediu ajuda para Devin e com um segundo remo na parte lateral conseguiram mudar a direção do barco levando os para a ponta mais leste do rio. Desta forma ficando mais longe da margem por onde os animais os perseguiam. Havia alguns blocos de gelo no rio dificultando mais ainda o controle do bote. Além de guiar o bote para longe da margem deveriam desviar dos blocos de gelo á sua frente.

- Olhe, lá na frente a direita tem um bem grande.
- Precisamos virar o bote! -Gritou Devin.

Com um grande esforço conseguiram desviar do bloco, porém o forte movimento fez com que o bote virasse muito batendo a parte traseira em outro pequeno bloco, sendo então arremessado. Devin se desequilibrou , sua mão estava dormente e desta forma não pode se segurar no bote e foi jogado na água gelada.

Foi como se estacas de gelo penetrasse cada centímetro de sua pele. Tentou gritar dentro da água, mas nem força teve. Instantaneamente seus músculos começaram a enrijecer e sentiu que suas mãos estavam se fechando. Nadou para a superfície e o ar que inspirou encheu seu pulmão de dor. Estava muito frio. Não estava pensando direito, ficou praticamente paralisado pela temperatura da água e seus movimentos estavam lentos.

- Estou congelando. pensou.

Foi puxado para cima pelo velho.Caiu de lado dentro do bote e olhou fixamente para o ele. O Velho mas continuou a remar..
Vamos garoto, força. Não podemos desistir agora.Venha, comece a remar também, isso o ajudará com o frio.

Devin apanhou o remo com muita dificuldade e seguiu remando com ele. Virou o pescoço e viu dois lobisomens no rio. Tinham pulado atrás dele, se não fosse a mão do velho, estaria agora nas garras daquelas criaturas. Um calafrio passou pela sua espinha.

- Estamos quase chegando se eu me recordo. Disse Rhadamani.
- Chegando onde? - Perguntou Devin com os queixos batendo. Seus lábios e as pontas de seus dedos estavam roxos.
O velho sorriu e disse.

- Pensando bem não foi muito ruim cair no rio agora. Bom que já se molhou, assim será mais fácil.
- Mais Fácil ? - indagou o garoto.
- A Queda de Dabos. - Disse o velho, e Devin se lembrou..

O Rio Dabos era um dos principais rios da Região de Variøn, situado ao Norte do continente. O Rio seguia da encosta das cordilheiras e passava por Rorthried e seguia paralela a floresta ampla, por onde eles haviam fugido. O fato mais marcante do Rio Dabos era que próximo de Dubriack, existia uma grande cachoeira e ela foi batizada de A Queda de Dabos.

- Não podemos ir adiante Rhadamani. Se cairmos pela muralha de água, temos poucas chances de sobrevivência. - Disse Devin.
- Sim, concordo com você, porém ainda temos chances. Se ficarmos para trás a morte é certa garoto.

Seguiram mais alguns metros e novamente quase foram atingidos pelos saltos dos lobisomens. Eles eram extremamente fortes. Saltavam mais alto do que algumas árvores próximas e era questão de tempo para conseguirem atingir o bote. Sentia a fúria saindo dos olhos deles. Uma fúria quase que contagiosa. Quando Devin focava os olhos nos deles, era como se a raiva deles fosse transmitida para ele, Devin sentia vontade de matar, quase que podia sentir a mesma sede de sangue das criaturas.

Desviou o olhar para se concentrar no caminho e começou a sentir uma fina e gelada névoa, juntamente com um som se propagando de forma tangencial. Estavam se aproximando da queda. Um aperto foi tomando seu coração e pensou novamente em sua mãe. Viu os lobisomens parando e um deles o olhou diretamente nos olhos e pronunciou palavras que Devin nunca tinha escutado, mas que as sentiu no coração.

- Telo Tullouk Akaiot... (Você está morto...) - Disse ele. Rhadamani virou-se para o Lobisomem que havia falado e respondeu.
- Tadien Namheha Netolj ! (Então venha nos pegar !)
-Nenriv Atis itsilak askan toivor. (Pagará caro por isso sangrento) -
Disse finalmente o Lobisomem e então todos se viraram e correram para dentro da mata.

Incrivelmente Devin conseguiu de alguma forma captar a intenção da fala, não compreendeu a lingua mas em sua mente foi a mensagem que se formou. Não sabia como mas tinha a certeza de seus significados e Rhadamani também compreendia e falava aquela lingua. Com certeza a lista de perguntas que tinha para fazer ao velho havia aumentado.

- Segure-se! - Gritou Rhadamani.

Devin nao teve tempo de pensar direito e o bote caiu. Sentiu seu corpo rodopiar na queda, foi estranho, lento. Viu o velho cair ao seu lado com a boca aberta gritando e os braços na frente do rosto. Sentiu as gotas no ar o atingir no rosto e o som da cachoeira se aproximando e depois apagou e..

... escuridão.


Continua...