Acredito que todos nós possuímos uma música especial em nossas vidas. Aquela música que tocou na rádio em um momento completamente inoportuno de sentimentos certeiros; que estava tocando no fundo da festa do seu primeiro beijo; a música que pertencia a ti, de alguma maneira.
E é apenas disso que eu consigo me lembrar quando penso na minha morte, no último verso daquela música, no último verso de uma música que, de alguma forma estranha, foi decidicada a mim.
Essa história toda começou na última semana de férias de verão, meus pais decidiram que eu estava muito quieta, mais do que o natural, e isso não era feitio de uma garota de uma garota de apenas treze anos, chamaram meus tios para uma conversa curiosa.
Tão curiosa que lembro que, eu e minhas primas, escoramos os ouvidos a porta de madeira, acima das medidas de crianças que estavam lá des de que meus cimco anos, e nos concentramos mais do que em uma prova de matemática, só para tentar ouvir sobre o que se tratava a conversa dos adultos.
-Será que estão conversando sobre algo que fizemos de errado? - Marina, minha prima mais nova questionou.
-Fica quieta, Marina, assim não tem quem ouça o que se passa lá dentro - Luana, sua irmã mais velha retrucou.
-Para de ser grossa.
-Então para de ser chata, oh garota.
E assim se seguiu uma briga familiar, gradativamente andei para trás em passos calmos observando as duas em sua discussão, contando os minutos que levariam até que nossos pais questionassem o barulho fora do quarto vindo ver o que se ocorria, coisa que não demorou muito.
Após a separação da briga fomos direcionadas a sala para uma conversa franca, eu já estava sem o certo entusiamos, mas mesmo assim, permaneci ali para ouvir.
-Vivian, Luana, Marina e Matheus, temos uma surpresinha pra vocês - teria começado minha tia com uma empolgação tão viva que teria contagiado a qualquer um a sua volta - alugamos uma cabana no litoral, perto das montanhas, vamos passar a última semana de férias de vocês lá.
Automaticamente coloquei um sorriso no meu rosto, eu amava o litoral des de que me conhecia como gente, lembro de que quando era pequena íamos para lá nos fins de semanas que se acoplavam com os feriados, tudo se tornava mais simples e calmo, infelizmente essa frequencia teve que acabar após a troca de emprego da mamãe.
-Quanto a gente vai? - perguntei, falando pela primeira vez de forma animada.
-Hoje a tarde mesmo pegaremos a estrada - minha mãe respondeu feliz ao ver que meu humor teria mudado, hoje, tenho saudades de não tê-la deixado mais feliz.
-Fala sério, vocês vão me prender em uma casa com essas meninas azucrinando meu ouvido - Matheus reverberou fazendo uma cara tediosa.
Automaticamente, tia Lucinda, sua mãe, lhe encarou com uma cara feia e contou uma novidade que teria me feito ainda mais feliz.
-Pare com sua má educação, Matheus, os vizinhos também irão conosco, você vai ter o Lucas para se distraí.
Lucas Ventoso, meu vizinho des do maternal e colega nosso de escola, ele e seu violão formavam uma bela dupla com seus olhos castanhos curiosos e seu sorriso muito bem alinhado.
Ele era o típico garoto extrovertido e cheio de vida, nós não eramos muito próximos na escola, pelo menos não tanto quanto ele era com meus primos, mas nos davamos bem.
E como de costume, seu charme e sua bondade me fizeram fixar os olhos no garoto, bem clichê, mas todo adolecente precisa do seu clichê, e querendo ou não minha mente sempre me fez acreditar que aquilo não seria possível e que passaria assim como minha adolescência, hoje vejo que seu coração ainda me pertence, contudo, é tarde demais para dizer isso.
Ao sermos dispensados corri para cima arrumando minha bolsa com tudo necessário para a semana e desci para sala sentada a sala anciosa para dar as tão esperadas quatro horas da tarde, meu sorriso entregava tudo sempre que alguém passava pela sala e me encarava, uma gargalhada leve era solta e se seguia pelo resto da casa.
Aquele dia, as quatro horas foi meu momento mais feliz daquelas férias, infelizmente as quatro horas do penultimo dia da semana aquele sorriso seria apenas uma lembrança.
~*~
Após um bom tempo de viagem chegamos a cabana, o frio ultrapassava até a camada mais grossa do agasalho mais caro, mas eu não me importava, a sensação gélida, por mais estranho que pareça, me aquecia em forma de alegria e memórias.
Pouco a pouco os carros dos meus tios chegaram, Marina reclamava de algo, Matheus estava emburrado, como sempre, e Luana parecia ser a única a está satisfeita com a decisão de nossos pais.
Caminho até um pouco abaixo da montanha me sentando em uma pedra e fico a observar o fim do por do sol, que era "engolido" pelo mar que ficava atrás de todas aquelas elevações de terra em uma praia calma e límpida, e aquilo me distrai, até o frear de um carro me chamar atenção.
Lucas tinha chegado junto de seus pais e seu violão se encontrava protegido pela capa acoplada a suas costas, ele teria cumprimentado a todos na frente do chalé, de repente vi seus olhos curiosos procurarem algo, e essa procura acabou no momento em que me encontrou, seu sorriso aumentou e uma de suas mãos se elevou em um cumprimento.
Não fiz questão de virar meu rosto para fingir que não estaria lhe olhando, ou simplesmente fingir está encarando outra coisa, não, eu queria que ele visse que o encarava, para mim, esses tipos de escolhas de conquista ou não conquista não surgiam efeito na matéria "coração" o cumprimeitei com um sorriso e um leve balançar de dedos, após essa pequena troca de olhares me volto a olhar o sol.
Depois de um tempo ouvi a agitação se afastar, provavelmente, todos já estariam dentro da casa preparando o jantar e ligando a lareira da casa, mas um único som perdurou, o som do vento misturado com o som dos animais ao redor, e o som dele.
Passos ecoavam junto a toda essa mistura, galhos secos eram quebrados e o balançar de um ziper com um chaveiro se batiam contra algo firme, eu sabia que era Lucas, não fiz questão de desviar meu olhar ao o ver se sentar ao meu lado e procurar o que tanto encantava meus olhos.
-Pensava que ia falar com Matheus.
-Hmm... Ele está muito distraído com um joguinho de celular - ela fala em um tom desinteressado e se vira pra mim voltando ao seu sorriso estonteante - Tudo bem, Vivian?
Agora sim eu lhe encarava sentindo a súbita felicidade por ele ter vindo falar comigo em vez dos meus primos.
-Tem certeza que é assim que você quer começar uma conversa?
Lucas teria feito uma careta como quem falhou feio na sua tentativa e colocou a mão de forma exagerada em seu peito peito, mas exatamente no coração.
-Ai, tem razão, eu sou um marte em forma de humano.
Acabo por dar uma leve gargalhada lhe dando um soquinho leve no seu braço, o que faz rir junto comigo.
-Creio que já devo ter dito isso, mas você fica muito bonita quando sorrir.
Concordo com a cabeça, o fato de ser fechada sempre o fez caçar meu sorriso.
Depois de um tempo com papo banal ele me pediu um abraço contra o frio, faço uma careta mas cedo ao seu pedido, assim terminou minha tarde.
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O Último Verso
Novela JuvenilUma pequena história de verão constituída por um romance, infelizmente, inacabado. "O último verso da nossa música sempre é o mais emocionante"