Maio de 1995
Era uma noite pouco estrelada quando Lídia decidiu dar uma volta para esfriar a cabeça, ela andava muito estressada e chateada com o seu namorado, Manuel.
Eles se conheceram na floricultura da família dele, em uma tarde quente de verão, no mesmo dia marcaram um encontro na cafeteria mais famosa da cidade, a Flor de mel. Lídia estava ansiosa para conhecer mais o garoto moreno de cabelos compridos, vestiu seu vestido mais delicado e foi ao seu encontro. Na cafeteria Manuel já à esperava sentado na mesa próxima a janela, ele segurava um buquê de margaridas. Lídia sorriu e acenou para ele, indo ao seu encontro. Aquela tarde foi a mais maravilhosa de todas e não precisou de mais um dia sequer para Lídia se apaixonar por Manuel.
Hoje eles já namoravam cerca de um ano, e estavam felizes, ela o amava de verdade e não tinha dúvidas dos sentimentos dele, mas ele tinha que ser tão cabeça dura? Ela sabia que era o jeito dele, e que talvez estivesse brigando por motivos fúteis, ele era o cara mais incrível do mundo, mas infelizmente Deus a fez com muito ciúme e desconfiança.
"E daí que ela é prima dele? Tinham que ficar tão grudados? Eu mesma já beijei meu primo, não seria algo impossível seria?" Ela pensava sozinha enquanto olhava pras luzes da cidade, os carros indo e vindo, bicicletas passando e casais passeando de mãos dadas.
Lídia só queria passar aquela noite com Manuel, só aquela, mas ele disse que era a noite da visita a casa da tia e não poderia deixar de ir. Sua tia estava muito doente, e seus primos devastados, incluindo a loira que era o motivo de sair fogo pelas orelhas de Lídia.
A mãe de Manuel fazia questão de ir todas as quintas a casa da irmã, ajudar com a faxina e lhe fazer companhia, e claro que Manuel tinha que ir junto, para ficar de olho nos primos pequenos e os distraí-los.
Mas a verdade é que Manuel evitava Lídia desde aquele dia, ela não conseguia entender o motivo para tamanha distância, afinal, ele não queria também? Ou será que ele só queria aquilo?
Muitas coisas passavam pela cabeça de Lídia, muitas dúvidas, e a incerteza só a deixava ainda mais triste e com raiva.
Lídia dobrou na esquina da Rua Santana e entrou direto na lanchonete, ela precisava de gordura em suas veias.
- Um X-bacon com batata frita e um refrigerante grande, por favor - ela pediu à garçonete que estava atrás do balcão.
Depois de 10 minutos fitando as paredes da lanchonete, a garçonete que parecia exausta lhe entrega seu pedido mostrando-lhe um sorriso.
- Aqui está senhorita.
- Obrigada - Lídia murmura.
O lanche parecia delicioso, e Lídia belisca algumas batatas fritas antes de dar a primeira mordida naquela bomba de colesterol criada pelos deuses. Ela devora o lanche rapidamente, sentindo aquele sabor relaxante e engordurado a cada mastigada. Comida era como um calmante natural para ela, tudo podia ser resolvido deliciando uma pequena maravilha culinária. Menos aquele sentimento que estava fazendo seu coração de adolescente se derramar em lágrimas.
Depois de comer tudo, Lídia, pagou o lanche e deixou uma gorjeta para a garçonete, partindo em direção a casa da tia de Manuel, ela não sabia o porquê, só sabia que iria até lá e deixaria aquela loira bem longe do seu namorado.
Chegando a seu destino, Lídia bateu na porta que logo foi aberta pelo caçula da família.
- O Manuel ainda está aqui?
- Ele saiu com a minha irmã - diz o menino tirando o pirulito que estava em sua boca - acho que eles não demoram - quer entrar?
Lídia acena positivamente com a cabeça e o menino de onze anos dá espaço para ela entrar.
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Jardim de Margaridas
General FictionE se de repente sua vida é uma teia de mentiras e sua única certeza é que as margaridas te entendem? Flora descobre que sua mãe mentiu por 23 anos. Indignada, confusa e com raiva se vê presa em situações sufocantes, crises existenciais e em busca de...