Capítulo 3

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Era difícil para Flora encarar a realidade depois da descoberta surpreendente que tivera, mas é como o avô dela sempre diz: vida que segue.

E ela estava tentando seguir.

Como de costume, Flora, prendeu seus cachos em um coque e pegou suas coisas indo diretamente para escola em que dava aula. A turma do sexto ano a esperava, não havia tempo para crises existenciais causadas por parentescos desconhecidos.

- Bom dia Sr José - Flora cumprimentou o porteiro.

- Bom dia flor do dia - ele disse sorrindo como sempre.

Flora esboçou o melhor sorriso que poderia dar e foi para sala dos professores.

A escola era pequena, mas aconchegante, as cores azul e amarelo eram espalhadas nas pinturas das paredes, portas e troncos das árvores. Em cada porta havia uma plaquinha pendurada indicando qual era a turma que ali estudava. Ela passou pela sala do nono ano e virou a esquerda dando de frente para a sala dos professores, onde pode sentar e esperar até que desce a hora da aula.

Geralmente Flora era falante, brincava e sorria alegrando todos os outros professores, seu bom humor pela manhã era algo de outro mundo, mas não naquele dia. Flora estava quieta, brincava rodando a garrafa da água na mesa, olhando fixamente para o nada e alheia a qualquer assunto daquela manhã, todos estranharam seu comportamento atípico, mas preferiram a deixar quieta e sozinha. O relógio marcava sete e quinze quando Flora se levantou e foi para a sala do sexto ano esperar sua turma chegar.

O sinal soou e crianças começaram a correr por todos os lados indo em direção as suas salas. Flora já aguardava sua turma sentada a mesa.

Um a um os alunos chegaram e desejaram bom dia para a melhor professora, segundo eles mesmos, do mundo todo.

- Bom dia - ela respondeu ao aluno se permitindo sorrir.

Todos, um a um, foram entrando na sala e sentando nas cadeiras. Flora fechou a porta assim que a última criança passou por ela.

Tirando o material da bolsa, Flora, respirava lentamente tentando não sucumbir, tentando não lembrar do quão maluca sua vida estava.

- Página 65 - ela anunciou em voz alta -, iremos começar um novo capítulo hoje, sobre a "descoberta" do Brasil - ela faz aspas com as mãos.

- Por que das aspas?

Uma aluna perguntou.

- Porque hoje eu quero propor algo diferente a vocês, mostrar talvez um lado dessa história do qual vocês nunca pararam para ver. Será que o Brasil realmente foi descoberto? O que chamamos no ensino fundamental de descobrimento pode ser chamado assim? Eu quero mostrar para vocês não o ponto de vista europeu, mas o ponto de vista indígena. Mas antes, vamos ler o texto que tem no livro. Sabrina poderia começar a ler para mim?

Sabrina rapidamente começou a ler o texto.

- O livro mostra que Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil em 1500 por acidente, mas se sabe que as Américas já haviam sido descoberta anos antes, em 1492, Por Cristovão Colombo. Já se sabia que havia um continente, ou ao menos terras, indo pela rota que ele tomou. Portugal estava em uma época de navegações e colonizações e procurava explorar mais isso. Será que realmente foi um acidente? Por acaso se errou a rota? Vários livros de história já abordam o descobrimento do Brasil, não como descoberta, mas sim como um desembarque dos europeus a terras tupiniquins.  

E assim ela seguiu sua aula, e por um instante esqueceu de todo o ocorrido na noite anterior. 

***

Observar Flora dando aula era uma das coisas preferidas de Henrique, ele trabalhava na escola havia 2 anos, entraram juntos por aquela porta no primeiro dia de trabalho, ela como professora e ele como merendeiro, desde esse dia algo o inquietava em relação a ela. Como seu trabalho mais pesado era no intervalo, Henrique escapava, vez ou outra, da cantina para observar as aulas de Flora. Ela falava com entusiasmo, mexia as mãos sem parar, em um salto ia da mesa até a lousa, caminhava por entre os alunos, era bonito ver a forma como ela amava  que fazia.

O sino tocou e Henrique correu para seu posto na cantina, atrás deles saíam crianças desesperadas para comer e brincar.

- Atrasado - disse uma mulher de cabelos grisalhos lhe entregando uma touca.

- Desculpa mãe - ele disse de cabeça baixa se dirigindo a vitrine de salgados.

Do outro lado do pátio, Flora sentou-se em um banco debaixo de uma árvore e pegou um livro para ler enquanto esperava a cantina ficar menos tumultuada, saiu com tanta pressa de manhã que esquecera seu sanduíche.

As crianças já haviam devorados seus lanches e estavam correndo pelo pátio quando Flora se aproximou do balcão da cantina, o intervalo dos pequenos já iria acabar para o do ensino médio começar e aquele era o o horário ideal para ela comer,  já que sua próxima aula era para o segundo ano do ensino médio.

- Eu queria um pão de queijo e um suco por favor - falou para a mulher que estava no caixa, ela lhe entregou duas fichas.

Flora andou em direção ao Henrique.

- Bom dia professora - ele disse com um sorriso brilhante.

- Bom dia Henrique.

- Em que posso ser útil hoje?

- Um pão de queijo e um suco de laranja por favor - ele prontamente a entregou.

- Como foi a aula hoje Flora?

- O de sempre, perguntas difíceis de responder, algumas bolinhas de papel, mas conteúdo dado com sucesso - ela falou sorrindo.

Ele sorriu de volta e desejou boa aula quando ela se afastou em direção ao banco, de volta para o seu livro. De todas as coisas que Henrique admirava nela a inteligencia e determinação eram as que mais o encantava

***

- Não esqueçam de trazer o fichamento na próxima aula - Flora lembrou seus alunos assim que o sinal tocou os liberando para a casa.

Recolheu suas coisas da mesa e foi embora, pela tarde não daria aulas, por hora ela poderia voltar a sua realidade e esquecer um pouco das suas responsabilidades. Ela precisava pensar.

Flora sempre pegava ônibus para ir e voltar do trabalho, mas naquele dia ela decidiu ir a pé, eram cerca de 4 km, não demoraria tanto assim e o ar puro iria lhe fazer bem. O sol de meio dia era forte, mas o vento ajudava a amenizar, morar no litoral tinha suas qualidades, ventava muito, e o calor era amenizado, além do mais Flora sempre amou o calor, nunca se deu bem com o frio ou a chuva, sua pele precisava de sol.

Quarenta minutos depois Flora já podia ver o portão de casa e sentir o estomago reclamar da fome, abriu rapidamente o cadeado e entrou correndo para a cozinha, tinha um prato feito no microondas lhe esperando, como de costume. Flora comeu rapidamente e subiu para o quarto, tudo o que ela menos queria era esbarrar coma mãe agora.

Colocou seu álbum preferido de jovens baianos para ouvir e deitou na cama fitando o teto. As palavras de sua mãe ficavam ecoando cada vez mais pela cabeça de Flora, era complicado absorver tudo, entender tudo. Como assim seu pai não era seu pai? Já não bastava os problemas da recente vida de adulta agora ela também tinha que encarar um drama de ficção adolescente, e esse problema Flora não sabia como resolver.

***

Oi, espero que tenham gostado desse capítulo,  não esqueçam de curtir e comentar o que acharam.

Até o próximo, prometo não demorar.

Beijos <3

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⏰ Última atualização: Jan 29, 2020 ⏰

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