Irmã solitária

Lamento-me

O hospital já estava escuro a essa hora, Carla passeava pelos corredores como um zumbi, suas sandálias dois números maiores que o seu normal, a fazia cair a cada três passos, chegou à recepção e pôs o olhar no relógio, um temor tomou o seu corpo, teria que sair, começou a correr embora não servisse com o que teria de enfrentar

Observa-se que está crescida- Uma voz gélida vinda do corredor estreito a sua frente interrompe sua corrida desajeitada- Não era o combinado? Após às 23:59 iríamos comemorar...- seu tom levemente chateado não escondia o ódio.
O que foi? Algo está lhe matando por dentro?

Como não lhe respondeu da sua garganta gargalhadas enlouquecidas encheram o recinto, um frio subiu à espinha na alma aterrorizada

Contar-lhe-ia todos os segredos? De como é a morte? Não, deixaremos você descobrir- A dentadura se posicionava para fora com o seu jeito insano de abrir a boca

Eu iria lhe contar, mas queria lhe poupar do sofrimento, desculpe, deveria ter dito que tinha câncer, mas estava tão alegre...- A irmã era comprimida pela culpa

De nada importa agora, estou morto- Então a ergueu no ar- Feliz aniversário para nós

A sombrinha presa ao seu pulso balançava lentamente ao seu lado, suas últimas palavras foram apenas sussurros- Lamento-me