1| Penumbra

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Reino de Valência,
Século XVII

Um mês havia se passado. As pessoas ainda corriam pelo reino e pelo palácio; ainda se perguntavam quem foi o assassino do rei Dimitri Volkov.

Aos trinta e sete anos, morto à sangue frio; ao menos, era o que diziam aqueles que viram o corpo. O funeral foi digno de um rei: música fúnebre, flores lindíssimas, lágrimas e longos discursos por parte da nobreza.

Não fazia parte daquilo. Não era esposa de um duque ou filha de um conde; estava longe de possuir o sangue real. Minha função era servir bebidas e reverenciar àquelas pessoas como se fossem Deus. Naquele dia, minha função também foi ser egoísta o suficiente — comigo mesma — e sufocar a dor lancinante que consumia cada canto do meu ser.

O funeral do rei Dimitri foi suficientemente triste, entretanto, a penumbra que estava instalada dentro de mim, sobressaía ao pranto de qualquer um que estivesse dentro do salão real.

E não! Eu não estava exagerando.

— Valentina Deveraux! Estou falando com você. — Senhora Natasha gritou.

Meu pensamento estava distante. Ainda presente naquele dia negro. O mesmo dia em que o rei Dimitri foi assassinado.

— Perdão, senhora Natasha. O que dizia? — Pisquei algumas vezes e voltei minha atenção para a mulher a minha frente.

— Seja mais atenta, da próxima vez. — Seu olhar reprovador foi indiferente pra mim. — Leve o chá para o príncipe Klaus. Ele está no escritório do nosso digníssimo e falecido rei. Que Deus o tenha. — Senhora Natasha estampou uma expressão triste, através de um suspiro.

— Sim senhora. — Engoli em seco e peguei a bandeja.

Saí da cozinha e me dirigi até o escritório do rei. Teria que subir alguns lances de escada. Já estava acostumada com aquilo tudo. Trabalhava no palácio há sete anos. Fiquei no lugar de mamãe, depois que ela se foi.

As pinturas da família real, espalhadas pelas paredes já não me chamavam mais atenção.

Quando cheguei próximo ao escritório, vi a porta entre aberta. Estranhei a ausência de guardas. O rei tinha sido assassinado e o príncipe — único herdeiro do trono — arriscava sua segurança, ficando à mercê de qualquer perigo.

Cautelosa, aproximei-me da porta. Meu coração palpitou forte no peito, assim que ouvi sua voz.

Naquele momento, pude entender o motivo do rei estar "desprotegido". Arthur Fontaine estava com ele.

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