Um sábado como qualquer outro

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O trabalho da semana tinha realmente sobrecarregado ela, toda a papelada, a reunião que gerou outras discussões, a chefe pegando no pé pelos serviços que ainda estavam incompletos... Os segundos passavam devagar e parecia que o final de semana nunca chegaria. Mas ali estava ele, bem na sua frente, pronto para poder se jogar. Eram 19h15 quando as portas do metrô se abriram para finalmente tomar o rumo de casa. Os minutos de viagem foram aproveitados para checar as mensagens, e o aplicativo estava cheio delas. Milhares de convites para festas, bares, boates, todos muito convincentes de que fariam aquela mesma noite valer a pena. Mas não para Heaven, não naquela noite. Ela só queria poder chegar em casa, tomar um banho e ganhar seu tão desejado momento de descanso.
"Ai Laura, eu queria ir, queria mesmo, você sabe disso, mas essa semana foi tão puxado pra mim, sabe... Eu até queria beber um pouco pra esquecer toda essa merda, mas acho que deitar e descansar me faria melhor."
E o áudio foi mandado para Laura. Heaven não deu muito tempo para os pensamentos sobre festas e bebidas, afinal isso definia seus últimos finais de semana. Em alguns minutos sua estação era a próxima, então se levantou e ficou perto da porta. Os passos até em casa foram mais longos e pesados que o normal e sua cama parecia inalcançável. Finalmente quando chegou em casa, correu para o chuveiro e tomou um banho rápido, na pressa de dormir logo. Parecia até estranho ser 21h e ela estar indo deitar, não seria esse horário em que sua noite começava?

Os raios de sol que ardiam suas pernas a despertaram às 12h30 do sábado. Não era um sábado de ressaca que seria curado com uma nova, era um sábado comum que os planos consistiam apenas em filmes, séries e um almoço que seria escolhido por um aplicativo. Rapidinho ela passou um café e fez dois pães com manteiga para começar o dia. Enquanto comia, escolhia sua programação daquele dia. Alguns filmes, umas séries que pareciam interessantes... Sua lista completa e capaz de deixa-la ocupada até umas 21h já estava pronta para ser assistida. Seu banho foi adiado por planos de não se levantar do sofá por um tempinho... Aproveitando que era um dia tirado para ela mesma, se perfumou, hidratou e colocou uma roupa super confortável, mas que sinceramente não estava dentro de nenhum padrão de estilo e ela já sabia, mas não fazia diferença naquela situação. Antes de mais nada, ela garantiu seu almoço, que seria a lasanha de cogumelos de sempre (ou de vez em quando, digamos, mas que era o único pedido que fazia). Por volta das 15h, o primeiro item da sua lista já tinha ido junto com seu almoço, e o próximo seria "os comediantes do mundo". Sendo Brasil a primeira temporada, já reconheceu alguns nomes. Thiago Ventura e Afonso Padilha. Veio a memória dos vídeos que assistia nos "escondidos" do trabalho. Ambos faziam parte do grupo 4 Amigos, que também contava com o Marcio Donato e o Dihh Lopes. Há um tempo ela assistia uns videos do canal e gostava muito. Depois de assistir todos os episódios do Brasil, resolveu dar uma atenção no seu celular. Cheio de mensagens da Laura, pedindo explicações da falta na festa, e novos convites para a noite de sábado. Obviamente não seriam considerados, aquele dia era dela e ela merecia, não precisaria de festas, bebidas e tudo que compõem uma divertida madrugada, pelo menos não naquele dia. Dando uma pequena pausa na programação da Netflix para fuçar seu instagram, que obviamente estava cheio de recordações alheias das festas que aquela sexta-feira tinha proporcionado, acabou passando pelo stories do perfil dos 4 Amigos. Ali na foto tinham todas as datas de show do mês que começou há 3 dias atrás.
"dia 4 - teatro santo agostinho - 20h"
E se... não! Hoje era dia de seguir os planos feitos, nada de sair de casa, até por que isso quebraria a questão de ser auto-suficiente por aquele dia, sem precisar ter que sair para se divertir. Esquece isso, vai! Coloca um filme e esquece. Enquanto um outro episódio de Narcos já chegava em 20 minutos de duração, ela se deu conta que estava completamente imersa em pensamentos e não tinha prestado atenção em nem um minuto do que tinha se passado. Não tinha importância, outro dia continuava. Se levantou e foi se arrumar.

Eram 16:50 quando ela olhou no relógio, seria o tempo necessário para se arrumar. Deu play na sua playlist favorita e começou. Os 20 minutos pensando foram os necessários para tirar a conclusão que seria ótimo sair sozinha, aproveitar sua própria companhia mesmo rodeada de gente. Faziam meses desde a última vez que foi no teatro, por que depois de ter ido morar sem seus pais tinha dado menos importância a coisas essenciais, como ir assistir uma peça ou no caso, um standup. Na hora de escolher a roupa, já eram 18h20. Encarando o guarda-roupa cheio de opções, percebeu que seria uma escolha difícil. Seu vestido preto, não... calça jeans, também não... essa blusa branca... acho que não... O relógio marcava 18h40 quando ela provava a sexta e rejeitada peça de roupa. Fuçando pela milésima vez seus cabides, encontrou uma blusa da cor vinho que tinha comprado semana passada. Aquele era o momento perfeito de usar a blusa que era um pouco decotada, de manga longa e cavada nas costas. Colocando junto com a calça e o sapato que achou mais combinar, o look estava -finalmente- pronto. Se olhando no espelho dava para ver o quão linda era, tudo nela harmonizava e criava a mulher maravilhosa que refletia no espelho. Com a confiança lá em cima, espirrou seu perfume, pegou sua bolsa, a chave do carro e partiu.

Afonso PadilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora