Nada. Nem ar, nem luz, nem som. Nada.
A minha existência poderia ser algo solitário e vazio, quer dizer, vazio é. Tudo dentro de mim é inexistente, um grande buraco onde tudo que se perde é desintegrado; sou solitário, mas nunca sozinho. Habito em tudo que tem ar, tudo com luz e som – os sons dos anéis de Saturno são os meus favoritos, só não conte para ele -, tudo que não possuo e parece até patético se sentir solitário com a vida a sua volta, mas se tranque numa caixa de vidro em meio à multidão e saberá como me sinto. Não tenho voz, apenas um som bonito que criei em meus pensamentos para me sentir mais como Urano, pomposo e belo. Triste, eu sei.
Então já aviso se quiser se livrar de melancolia, esse livro não é pra você, só falta o copo de uísque barato e cigarros de esquina.
Júpiter sempre me alertou sobre isso – claro que não diretamente, não possuo boca e Júpiter tem essa mania com seus monólogos intermináveis -, ouvia suas lamentações sobre estar apaixonado pela estrela que cruzou seu Corpo e nunca mais voltou. Pobre Corpo que fala sozinho e mal sabe que se apaixonou por um pequeno asteroide que cruza sua vista de 75 em 75 anos, sem falta. Agora eu, como um nada sem órgãos, julgava impossível sofrer que nem aquele coitado, se possuísse boca riria na cara daquele sujeito patético.
Mas parece que até o Nada pode sentir alguma coisa.
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Vácuo
Poetry"Vácuo é a condição de um local completamente vazio, sem a presença de quase nenhum tipo de matéria. Líquidos, sólidos, gases e até mesmo o ar. Nenhuma dessas substâncias ou matérias existem em espaços em vácuo. Nenhum ser humano conseguiria sobrevi...