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Todo dia é a mesma coisa.

Ela levanta atrasada e quase sempre tropeça em seu notebook velho aos pés de sua cama, havia assistido séries dessa vez e ficou com preguiça de guarda-lo no guarda-roupa. Acordou tarde demais para arrumar os cachos amassados pelo travesseiro, os olhos pequenos pelo sono, o corpo suado e a leve dor de uma espinha embaixo do braço.

"Como ela foi parar aí?" li seu pensamento e você nem sabe. "Como você foi parar aí?" acho adorável essa sua mania de conversar com objetos inanimados, a vítima da vez foi o notebook chutado, quem sabe eu serei o próximo?

'Você assistiu Supernatural e ficou com preguiça de guardar' gostaria de poder te responder e rir da sua cara fofa de confusão, cheirar seus fios e beijar seus lábios secos pelas horas sem hidrata-los. Se bem que eles devem ter gosto de morango, ou cereja, ou uva, ou qualquer que sejam aquelas frutinhas vermelhas e roxas que você come todo dia de manhã com chá gelado.

Você calça seus chinelos e caminha para fora do quarto, a gatinha malhada aos seus pés.

Sabe que está atrasada, mas não sai de casa sem suas frutinhas e seu chá gelado. Acho que é o que me fascina sobre você, amassa os cachos negros e sai sem se importar com ninguém; posso estar te superestimando e criando uma ilusão dentro do meu vazio, mas perdoe esse pobre ninguém que nunca sentiu nada.

Queria poder ser eu quem estaria na mesa da cozinha te esperando com um copo na mão e suas frutinhas na outra, quem sabe te beijar para sentir toda aquela mistura depois?

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