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A sexta-feira lhe trouxe um gosto amargo.

No domingo, faria uma semana que Zayn estava desaparecido e nada havia mudado. No mundo são, a hipótese de fuga havia sido levantada. A família não tinha inimigos (ao menos, não no nível de sequestrar o filho) e nenhum pedido de resgate havia sido feito. No diário do garoto, muitas fantasias sobre ir embora para um lugar distante onde pudesse conhecer coisas novas apontavam para o seu desejo de partir. A polícia afrouxava as investigações, sem saber mais onde procurar. Mas este era o atual cenário, como disse, no mundo sensato.

No seu mundo, no entanto, a sanidade estava mais para visita do que para moradora, as pistas pareciam cada vez mais malucas. Segundo elas, Zayn estava no mundo das fadas e precisaria de um anjo para chegar lá. E não era um anjo qualquer, tinha que ser um anjo importante, desses que devem receber milhares de e-mails por dia.

Estava sentado em sua carteira, sem conseguir prestar atenção na aula, observando a carteira vazia de Zayn. Olhou em volta. Ninguém parecia ligar. Os colegas conversavam normalmente, o professor  prosseguia sua aula, o relógio continuava a marcar a hora. Nada mudara. Nada parara. Aparentemente, somente ele estava realmente preocupado com Zayn.

Harry se lembrou como foi difícil romper a barreira que o amigo construiu ao seu redor. Zayn vinha de uma outra escola, de uma outra cidade e era evidentemente uma novidade.

Os outros adolescentes o olhavam com curiosidade, mas Zayn permanecia sério e distante.

Zayn usava muito preto. Insistia em usar lápis preto na linha d'água e manter a imagem de gótico chic.

Falava baixo e nunca sorria.

A maldade peculiar do ambiente de escola logo lhe deram um apelido óbvio: Vandinha*.

Zayn não pareceu se importar, mas Harry sabia que era só atuação. Ele mesmo, que recebera muitos apelidos no decorrer da vida, sabia que eram apenas rótulos que os colegas usavam para tentar compreender outras pessoas.

Harry por exemplo, era o Harry Viado.

Quando estavam dispostos, usavam seu nome completo: Harry Viado Não Estiloso.

Harry não se importava.

Seu pai lhe explicara que as melhores e mais brilhantes pessoas já foram chamadas de alguma coisa ruim na escola. Harry aprendeu cedo a ser livre e não depender da aprovação de ninguém para seguir o caminho que escolhesse. Por isso, escolheu se aproximar do garoto mais esquisito da escola.

Achou que ia encontrar uma dessas pessoas wiccanas e, para puxar assunto, comprou uma revistinha  na banca chamada Wicca e leu. Gostou e, num intervalo de aula, ofereceu a revista para Vandinha, tendo o cuidado de chama-lo de Zayn.

Espantado, o garoto aceitou a revista, pegou suas coisas e, sem agradecer, levantou e foi para uma carteira vazia lá atrás. O professor entrou e a aula começou. Harry temeu que tivesse cometido uma gafe, mas não havia nada que pudesse fazer naquele momento.

Ao fim da aula, enquanto arrumava suas coisas, Harry foi surpreendido por um Zayn de pé ao seu lado, devolvendo-lhe a revista.

— Gostei muito! Obrigado — disse o garoto.

— De nada...

Zayn ficou parado diante dele e Harry não sabia bem o que dizer, pego de surpresa pela atitude amistosa.

— Você quer almoçar comigo? — perguntou Harry.

Zayn ficou parado algum tempo, como se pensasse longamente sobre o assunto.

— Talvez outro dia.

E foi embora. Harry poderia lamentar a derrota, mas ele não era esse tipo de pessoa.

moon of fairies | larryOnde histórias criam vida. Descubra agora