Arte de tudo

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Sou feita de dor. A dor que sinto sempre que fico a sós com os meus pensamentos, a dor que sinto sempre que me ponho a pensar na minha vida. Vida essa, cheia de acertos e falhanços, se calhar mais falhanços. A dor que sinto assim que a Lua torna-se a minha luta durante a madrugada, então tenho a caneta na mão e tento organizar num papel os pensamentos desorganizados que tenho dentro da minha cabeça.
Será a dor uma arte? Não sei, mas ela faz-me produzir arte quando escrevo sobre a bagunça que é a minha mente, sobre o meu estado de espírito ou, ainda, sobre uma situação hipotética que insisto em criar.

Às vezes ponho-me a pensar sobre todas as coisas que carrego dentro de mim. As mágoas que não foram superadas ou esquecidas porque parte de mim insiste em viver presa no rancor. Será ele uma arte?

Sou feita do medo: medo que tive da sociedade não me aceitar; medo que tenho até hoje dos seus estúpidos padrões, mas que passo por cima sempre que repito a mim mesma que eu sou o meu próprio padrão. Medo que tive de perder alguém que já perdi e medo que tenho de perder quem tenho e, até mesmo, de me perder. Será o medo uma arte?

Sou feita de sorrisos: sorrisos que os meus lábios já desenharam várias vezes por me lembrar de algo ou/e alguém... assim como também os sorrisos que eu mesma tive de esculpir quando disse "não faz mal", mas havia sido uma facada no peito.
Às vezes é mais fácil sorrir do que demonstrar a nossa dor. Será o sorriso uma arte?

Sou feita do prazer: prazer este que ainda é imaginário mas que um dia, certamente, deixará de o ser. Mas atenção! Prazer não é

só o da carne, é também prazer em algo que fazemos, prazer em fazer alguém feliz ou a si mesmo, e até mesmo, o prazer pela dor. Sou feita de uma lista interminável de prazeres, alguns já despertados, outros por despertar. Mas sei que o tenho a percorrer em cada fibra do meu corpo. Será o prazer uma arte?

Sou feita de lembranças. Porém, ironicamente, eu consigo esquecer-me em questão de segundos daquilo que eu mais gostaria de lembrar e não me esqueço daquilo que eu mais peço para esquecer. Não consigo perceber a minha mente... gostaria. Lembranças, até do ponto mais insignificante, eu tenho dentro de mim mas nem consigo me lembrar do que eu ontem comi. Será a lembrança uma arte?

Sou feita de sonhos. Muitos sonhos, dos mais estranhos aos mais bonitos, dos mais comuns aos mais incomuns e dos mais compreensíveis aos mais incompreensíveis... enfim. Só sei que os tenho e são meus, de mais ninguém. E lutarei incessantemente para que, pelo menos, metade deles não sejam só sonhos. Pois, sonhos permanecerão sonhos se não lutarmos para que eles se tornem realidade. Serão os sonhos uma arte?

São questões como estas e várias outras que percorrem na minha cabeça e, é destas artes que sou feita, assim como outras também. Tenho-as dentro de mim e um dia ganharão vida e se farão sentir como um grito de guerra bem no início de uma batalha. Sou mulher, sou humana, sou feita de artes.

   -Ubuntu

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