Arte Negra

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Mas não é que a coisa tá preta ? A coisa tá muito preta
A coisa está tão preta que eles pensaram que com alisantes eles calariam a minha revolta, logo eu? Descendente de reis e rainhas que juntamente com o seu povo, travaram batalhas contra a opressão ... até que tiveram as suas gargantas cortadas e as suas cabeças expostas como troféus.

A coisa tá tão preta, que eu indignada nem posso ficar... "Preto que fala de racismo? Ahh Jesus... é só drama que essa gente sabe fazer."
A coisa tá tão preta que eles até pensam que me podem calar como fizeram com os meus antepassados que passaram quinhentos anos a ser humilhados e calados. Ah, mas a mim? A mim eles não me podem calar, a minha voz ecoará pelos ventos que sopram na montanha do Morro do Moco.
A coisa tá preta, que eu posso sentir os raios solares violentarem a minha pele e secarem a minha garganta como faziam com os meus antepassados, mas hoje em dia eu sou a rainha da minha própria fonte de água, eu sou a minha fonte de água, eu sou um bem essencial para mim mesma.

A coisa tá tão preta que eu sinto a dor das mães negras... ah... pretas que desfilavam na sanzala com toda a sua graça e sorriso de criança foram usadas por capatazes e pelos seus senhores que mais tarde carregavam com olhares tristes, um bastardo no seu ventre.

A coisa tá tão preta, tão preta que eu acho-me linda. A minha beleza é espelhada no pôr-do-Sol da Ilha, quebrando assim os padrões de beleza deste mundo... o mundo entristecido por capas de revista.

A coisa tá tão preta, que nós, os filhos da mãe África, espalhadas por este mundo... oprimidos, aculturados e ridicularizados, travamos uma revolta pacífica com a finalidade de quebrar as correntes ainda presentes do colonialismo. E eles não nos vão calar, não desta vez.

A coisa tá preta, tão preta, tão preta, tão preta, tão preta, tão preta, tão preta, tão preta, tão preta que significa que a resistência está aqui presente.

-Mad Hatter

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