A lua, as ligações e o adeus

6 1 0
                                    


  A lua estava linda. Ela observava da sacada do seu apartamento sozinha já fazia uns bons dez minutos. Era aquela lua que ainda não estava totalmente cheia, mas era imensa e amarela, ocupando o céu quase que por inteiro, pelo menos era assim na sua cabeça.
Ela pensou em mandar uma mensagem, falar da lua como sempre fazia, mas já não sabia se podia. Não sabia se podia, não porque não tinha coragem, até porque falar coisas demais sempre fora seu forte e o seu fraco também... Mas porque não sabia se devia. Na última vez que se falaram, foi a maior briga de todos os tempos.
Os anos passaram e ele simplesmente não aprendeu. Tinha as mesmas atitudes de quando eles tinham dezoito anos. Ele ligava sempre que precisava dela e coincidentemente, ou não, era sempre de madrugada. Não existia não, sabe? Se não respondesse as mensagens imediatamente, ele ligava e era insistente.
Seis anos atrás, ela achava lindo. Se sentia, na sua baixa autoestima, especial, afinal, era o boa noite antes dos dois dormirem. Era a sua voz que ele ouvia depois de tudo. Ele dizia que ela trazia paz, trazia razão, era fácil de lidar e ela acreditava que isso fosse bom.
Era um jogo que ambos faziam sem saber e sem saber superar. Porque em algum momento, um dos dois mandaria uma mensagem pra falar da lua.
Acontece que ele ligou, era madrugada e véspera de prova. Ela ficou furiosa, porque ele não entendia que tudo tinha mudado. Ela tinha dito um milhão de vezes que já não era a mesma da época em que se apaixonaram e que ele não tinha o direito de fazer essas coisas, que ela tinha uma vida e não podia estar disponível a hora que ele quisesse. Ele nunca entendeu. Nesse dia, ela não teve paciência para uma ligação dele em crise, muito provavelmente alcoolizado ou drogado, pra falar do mundinho dele. Ela perdeu o controle e falou tudo o que estava entalado todos esses anos: que ele era um egoísta e que ela não ia gastar mais sua energia com ele.
Ela não sabia se estava arrependida, já que estava com o celular na mão pensando ou não se devia dizer algo. Antes daquele roupante, ela sempre tivera muita consideração pela história dos dois. Era um sentimento de amor que não se vai, sabe? Mas ela era uma pessoa totalmente diferente e aquele amor, ah, aquele amor era pouco.
Aos vinte e quatro, ela já não queria migalhas, não queria ser o ponto de apoio de ninguém, não queria as ligações só de madrugada, não queria mais joguinhos. Ela queria cumplicidade, sintonia e equilíbrio. Se fosse para amar de novo, que fosse com alguém disposto a se entregar tanto quanto, se fosse para estar num relacionamento, que fosse com alguém no mesmo ritmo, se fosse para se jogar, que fosse com alguém que lhe desse as mãos pra pular junto.
E não, não dava pra manter alguém que fosse tóxico na sua vida. Não dava pra manter alguém que a consumisse de novo, que ficava bravo em saber da sua própria vida e que achasse que era possível dar play de onde eles tinham parado. Eles não eram as mesmas pessoas mais.
Sem nem saber por onde começar, ela digitou sem muito pensar:
"Sabe, Eduardo, eu tô olhando pro céu e a lua tá incrível, você tá olhando também? Eu não sei o que dizer nessa mensagem, não depois do que aconteceu. Pela primeira vez, desde que a gente se reencontrou, eu não gostei de você e eu te falei todas as poucas e boas que guardei nesses anos todos. Eu fui maldosa, eu sei, mas não vou pedir desculpas. A Luísa de hoje, não gosta do Eduardo que você é, não é mais compatível, sabe? Talvez nunca tenha sido, eu só me gostava muito pouco pra entender. E parece que eu tô chutando cachorro morto ao vir dizer isso, mas é que eu queria um adeus dessa vez. Você vai sempre ser sempre especial, não tem como ter outro primeiro, mas nosso tempo passou."
Ela terminou e olhou para o céu refletindo se enviava ou não. A lua brilhava mais até que as estrelas e ela entendeu. Tem coisas que são melhores quando não ditas. O fim veio sem um adeus.  

Eduardo e Luísa, a saga sem fimOnde histórias criam vida. Descubra agora