Ela deitou na cama e seu gato - novo companheiro de vida - deitou em cima do teclado do notebook enciumado pela falta de atenção enquanto ela pensava se deveria ou não escrever alguma coisa. Era um grande dilema: continuar a reviver as coisas na memória, ou eternizar no papel como ela costumava fazer e limitar a memória a aquelas palavras que escolheria... a verdade é que ela não sabia se queria perder o espaço de imaginar os "e se"s.
Tinha sido uma competição do caralho pra nunca mais se esquecer, de certa sua faculdade tinha feito história, mas acima de tudo, aquela quinta-feira tinha sido histórica.
Era um dia sem jogos, infelizmente, quarta tinha sido um dia de derrotas, mas ainda sim, uma competição pra ninguém nunca mais baixar a cabeça e em seu penúltimo ano, ela não poderia deixar de querer criar um clima diferente nos jogos com a sua turma. De tarde havia começado a "quinta do quinto" e ela já estava no seu terceiro ou quarto copo de corote quando eles apareceram na porta do alojamento. Por eles, entende-se os caras de outra faculdade, e ela, em sua animação foi trocar uma ideia despretensiosamente, afinal, ela já meio que conhecia eles, mas não imaginava que a recíproca fosse a mesma.
Foi uma conversa fluída e eles sabiam exatamente quem era ela e ela nem ao menos estranhou a intimidade. Era "Lu, isso", "Lu, aquilo", risada atrás de risada e a conexão de olhares constantes. Ela até sentiu necessidade de falar pros amigos que estavam juntos e mandou uma foto, estava leve, como se pertencesse a aquela conversa a vida inteira.
O momento deles não chegou. Ele era conhecido demais e sempre alguém aparecia até a hora que ele teve que ir. Não sabia se era coisa da cabeça dela ou não, mas ela sabia que queria fazer acontecer.
Graças ao bom Deus, existem amigos benevolentes que resolveram intervir. Naquela noite, ambos arrastados pra outro alojamento se encontraram e zero arrependimentos. Mentira. Ela se arrependia, e muito, de não ter vivido mais. O encaixe foi natural, as conversas eram fluídas, não houve nada que ela não queria, pelo contrário sempre queria mais. Talvez esse tivesse sido o erro, ou melhor, o erro foi ter aceitado o convite de ir dormir.
Dormir junto com alguém é sempre um problema. É intimidade demais. É dividir uma mesma cama, um mesmo oxigênio, é acordar olhando um pro outro e observando os traços nos momentos mais serenos. É um erro, mas mesmo assim, como ela poderia resistir? Já estava a horas encaixada naquele abraço que parecia ter sido projetado para que ela coubesse.
Acordou com a sensação de que tinha que fugir dali. Imaginou-se como em um de seus filmes favoritos de infância, que deveria ir embora, antes que fosse tarde demais. Saiu correndo, mas esqueceu de deixar um sapatinho de cristal, mas qual o problema, afinal? Ela nunca teve problema em ir atrás do que queria, até aquele dia.
Ela foi atrás e ele simplesmente ignorou. Agora ela relembrava daquela noite, que ela se sentiu livre, única e ela mesma, mas não sabia se deveria ir atrás de continuidade. Provavelmente não. Por isso, ela não queria colocar no papel, era tirar a possibilidade de dar certo no futuro e acima de tudo, se em algum momento essas palavras chegassem a ele, ele saberia. E homem, em sua mania de achar que só a mulher sente demais, iria achar que ela queria um relacionamento, ou teria se apaixonado. Mentira.
Luísa andava muito sincera com as suas vontades e com tudo o que ela sentia. Ela sentira que aquela noite tinha sido marcante. Ela queria que ele soubesse, entretanto, estava presa no medo do "o que ele vai pensar?". Infelizmente, nem todos eram Eduardos com quem ela podia ser totalmente sincera, ou pelo menos, ele não tinha dado esse espaço a ela.
Ela abriu novamente o instagram, naquela conversa visualizada "ei, que pena que vamos deixar as coisas inacabadas" e resolveu que não deveria esquecer essa noite. Ele não deveria saber o tanto que poderiam ter sido, ela não queria viver mais uma saga como era Eduardo e Luísa, ela não aguentaria.
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Eduardo e Luísa, a saga sem fim
RomanceEssa é uma coletânea sobre relacionamentos. Na verdade, é uma coletânea sobre como um lado deles enxerga os fatos e se lembra deles. É a pequena imensidão se sentimentos e confusões da Luísa em relação ao Eduardo. Eduardo que nessas crônicas é um só...