Na hora do almoço no refeitório dos funcionários da Frankenberg's chegara a seu auge. Não havia lugar em nenhuma das longas mesas e chegava cada vez mais gente que se punha a esperar das divisórias de madeira. As pessoas que já haviam pego suas bandejas de comida passeavam entre as mesas à procura de um lugar onde pudessem se espremer ou de uma vaga prestes a surgir, mas não havia lugar. Emma comia nervosamente, com o folheto de "Boas-vindas à Frankenberg's" apoiado no açucareiro que estava à sua frente. Estava lendo da semana anterior, no primeiro curso de treinamento, não tinha mais nada para ler e sentia que no refeitório era preciso ter alguma coisa em que se concentrar, por isso leu tudo de novo sobre a loja.
Ela virou as páginas depressa e viu escrita em letras pretas garrafais, estendendo-se por duas folhas: "Você corresponde ao padrão da Frankenberg's?". Olhou para as janelas do outro lado do salão e tentou pensar em outra coisa. No belo suéter vermelho e preto que vira na Saks um pouco mais cedo e que talvez comprasse para Killian, como presente de aniversário, se não conseguisse encontrar uma carteira de aspecto melhor do que as que já vira por vinte dólares. Alguém mexeu no açucareiro, o folheto apoiado desabou. Emma olhou para o par de mãos do outro lado, mãos de mulher. Sua pele parecia ser aveludada, na mão direita exibia uma aliança de ouro, suas unhas estavam pintadas de vermelho. Observou atentamente os traços da mulher e olhou para o seu rosto querendo saber como ela seria.
— Você é a garota nova, não é? — disse com uma voz cheia de doçura.
— Sim — disse Emma erguendo os olhos.
— Você está se saindo bem? — e ali estava a mulher sorrindo para ela, seus olhos brilhavam, pareciam bastante afetuosos — Você está se saindo bem? — repetiu a mulher, pois aumentava os barulhos das vozes que estavam ao redor.Emma umedeceu os lábios.
— Estou, obrigada.
— Gosta daqui?Emma assentiu com a cabeça.
— Acabou? — um rapaz de avental branco agarrou a xícara da mulher que estava vazia.
— Sim, obrigada — assentiu Ruby — Eu fico no setor 3, no departamento de suéteres — disse com uma certa insegurança, como se estivesse procurando dar um recado antes que fosse interrompida ou que as separassem — Se quiser conversar comigo, estarei te esperando.— Como você se chama? — Emma perguntou.
— Ruby e você?
— Emma, Emma Swan — respondeu meio tímida.
— Um prazer te conhecer.
— O prazer é meu — disse Emma e de repente, podia sentir seu coração batendo, como se tivesse voltado a viver.Emma não foi visitar Ruby, mas procurava por ela toda manhã quando os funcionários iam entrando aos poucos no prédio, por volta de quinze para as nove, e procurava ela nos elevadores e no refeitório. Nunca a via, mas era agradável ter alguém para procurar pelos departamentos. Fazia toda diferença no mundo. Quase toda manhã, quando Emma ia trabalhar no sétimo andar, costumava parar um pouco para olhar um determinado trem de brinquedo. O trem ficava isolado em uma mesa perto dos elevadores. Não era um trem grande e bonito como o que corria sobre o piso nos fundos da seção de brinquedos, mas havia uma fúria nos seus minúsculos e ativos pistões que os trens maiores não tinham. Emma se mantinha hipnotizada por eles. Naquela manhã, Emma se afastou depressa do trem e seguiu adiante em direção à seção de brinquedos, onde trabalhava. Às 9h05, a enorme seção começava a dar sinais de vida. Retiravam-se os panos verdes das longas mesas. Brinquedos mecânicos começavam a jogar bolas para cima e barracas de tiro ao alvo pipocavam enquanto seus alvos giravam.
A Sra. Ingrid, gerente da seção, tirava alguns brinquedos das prateleiras do estoque e punha-se nos balcões de vidro. Essa altura, os primeiros fregueses já saíam dos elevadores, hesitando um pouco com a expressão indecisa e um tanto espantada que as pessoas sempre demonstravam diante da seção, para depois tomar rumos incertos.
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REGINA
RomanceEm uma realidade tão difícil de ser quem você realmente é, principalmente na década de 1950, o único meio de se proteger da fúria alheia é camuflar os sentimentos, de forma que apenas os mais perspicazes possam realmente decifrá-los. O que não é fác...