A odalisca

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Ela dançava no meio do salão. Entregue à música. E seu corpo ondulava como uma cobra. Ele olhava, e queria se aproximar. Tinha medo de ser rejeitado. Mas era Carnaval, e tudo podia ser num dia como aquele.

E ele chegou perto, dançando também. E logo os corpos se entrelaçaram. Serpentinas e confetes voavam no ar. Assim como o perfume e o suor da pele dela. E era uma coisa de enlouquecer. Mais que o uísque on the rocks no bar.

Ele tocou os cabelos pretos da moça. Ela dançava e sorria. Estava vestida de odalisca. Fechava os olhos e se balançava no ritmo da música. E o conduzia. Ele se sentia enfeitiçado.

E então se beijaram. Os olhos dela revelavam um mundo, que poucos tinham acesso. E ele estava sendo convidado a entrar. Era impossível resistir. E ela não se negaria.

Mas amanheceu o dia. A música parou. As serpentinas e os confetes estavam todos no chão. Ela tinha ido embora. Nem um nome, nem um telefone. Era quase como um sonho. Deve ter sido só um sonho.

Mas é Carnaval!
Não me diga mais quem é você...

Amanhã tudo volta ao normal.
Deixa a festa acabar,
Deixa o barco correr.

(Chico Buarque - Noite dos Mascarados)

Contando um contoWhere stories live. Discover now