Capítulo 5

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Já dentro de casa, de banho tomado e meias aquecendo os pés, ela encarou mais uma de suas decepções. O envelope branco estava no meio das correspondências comuns quando ela chegara em casa. Levou um tempo para reconhecer o endereço do remetente. Mas quando o fez, ela precisou reunir o resto de coragem - e esperança - que ainda tinha dentro de si. Era uma carta-resposta ao seu pedido de admissão de uma faculdade na Virgínia. Ela não se lembrava de ter enviado essa em particular. Mas não importou, o conteúdo era igual a outras cinco cartas que ela tinha recebido nos últimos meses.

" Querido candidato, infelizmente..."

Era a frase que ela mais tinha lido e relido em todas elas. Depois de um tempo as palavras pareceram ficar gravadas na sua memória e conseguia vê-las até de olhos fechados. Mas não podia dizer que não previu isso acontecendo. O orientador também tinha alertado-a nos diversos emails e reuniões que tiveram. Mais mesmo assim ainda era difícil encarar as consequências. Tinha sido meses de preparação e escolha junto com a mãe. Ainda se lembrava de como elas tinha passado horas e horas olhando panfletos e web sites de faculdades tentando decidir quais valiam a pena candidatar-se e em quais ela teria chances de ganhar uma bolsa. Mesmo depois que tudo dera errado, ela ainda considerava isso seu plano A. Não tinha muito interesse por nenhuma área em particular, mas ser aceita em lugar tão longe dali era sua chance para recomeçar. Talvez até voltar a ter uma vida normal. 

Não tinha mais ninguém com quem pudesse contar, família ou amigo. Ela estava simplesmente sozinha. Tinha juntado o dinheiro o suficiente para uma passagem de avião e para se manter durante alguns meses sem precisar trabalhar. O destino que era ainda parte incerta.

Graças ao céus ela tinha sido esperta o suficiente para pensar em plano B. Não era tão bom quanto o primeiro, mais pelo menos também seria uma chance para recomeçar, valeria a pena tentar. Apesar de que para isso, ela teria que voltar para onde tudo tinha começado. Para o ponto onde sua vida tinha mudado, de onde a mãe dela tinha fugido apenas com uma mala e uma criança de baixo do braço. Não, não podia considerar isso um recomeço. Não mesmo. 

Resumindo: seu plano A estava descartado, mas o plano B dava a ela calafrios. 

Ela respirou fundo e se levantou, se recusando a deixar-se afetar por aquilo. Pegou a maldita carta e ligou uma boca do fogão. Observou as chamas por alguns segundos, e depois encostou lentamente o papel nas chamas. A carta teve o mesmo destino que todas as outra que receberá - em questões de segundos se encolhia e se transformava em um amontoado de cinzas em suas mãos - Igualzinho ao futuro dela.

De repente ela se sentiu com falta de ar. Apagou o fogo e subiu as escadas, mas no quarto ela também não sentia nem um pouco melhor. Estava agoniada, andou de um lado para outro do quarto tentando controlar a respiração, mas não teve sucesso. Então tomou uma decisão: precisava sair dali.

Olhou em volta, procurando uma roupa limpa e as suas chaves. Talvez desse sorte e hoje o carro pegasse. Ela acabou trocando o pijama por um vestido que tinha esquecido no cabide atrás da porta. E as meias por uma sandália de salto que ela não usava há algum tempo. Pegou a bolsa e saiu da casa praticamente correndo. O carro estava estacionado em frente a casa e ela rezou para que ele aguentasse o suficiente. Quando virou a chave, o motor falhou por alguns segundos e depois ganhou vida e ela quase chorou de alegria por isso. Abaixou os vidros e deixou que o vento forte entrasse. Ainda conseguia estava se sentindo sufocada, por isso pisou no acelerador como se isso resolvesse todos os seus problema. Estava indo um pouco rápido demais para aquele carro velho mas estava com pressa. Dessa vez ela tinha um lugar certo para ir.

Tinha certeza de que Jennifer não se importaria que ela aparece por lá mais uma vez e se desse sorte, encontraria John e Maria também.

Mas quando estava quase saindo da cidade, o motor do carro começou a fazer barulhos estranhos.

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