[Amostra] Não te Esqueças de Mim

Prólogo

Sofia narrando:

   Eu tinha ficado imóvel diante daquela cena, o tempo para mim tinha parado naquele instante e os meus olhos apenas os fixavam. A minha mão ainda agarrada a maçaneta da porta do quarto, começou a aperta-lá ainda mais forte, a ponto de sentir os meus dedos a ficarem doloridos. Só conseguia sentir o meu coração a se despedaçar e a dor a suplicar aos meus olhos para serem fortes e não desabarem. Só que já era tarde demais, a minha visão estava embaçada pelas lágrimas que começaram a escorrer pelo meu rosto. Sentia raiva e só tinha vontade de fazer alguma estupidez, mas assim que vi o Rafael se levantar, eu fugi. Finalmente consegui me libertar daquela porta que me impedia de sair dali, de correr para bem longe. Fui pelas escadas de madeira que rangiam a cada degrau que eu descia, até chegar há porta da entrada que era de alumínio e tinha um vidro esbranquiçado. Ao abrir a porta, saí o mais rapidamente daquela casa, passando pelo pequeno jardim na frente da casa. Quando já estava a chegar ao passeio para entrar no único táxi que estava na rua, ouvi o Rafael a chamar-me bastante alto. Eu olhei para trás sem deixar de avançar para a frente, vendo-o a sair pela porta em tronco nu. Fiquei cheia de sentimentos horríveis que eu não sabia quais eram, eu tinha acabado de ser traída mas não queria acreditar que aquilo me estava a acontecer. Eu era capaz de lhe dar uma segunda oportunidade, mas primeiro precisava de pensar e de me acalmar. Quando estava a virar a cabeça para a frente para evitar de cair, senti que tinha mandado um encontrão em alguém, inevitavelmente perdi o equilíbrio e estampei-me no chão. A pessoa com quem dei o encontrão era um rapaz, que logo me ajudou a levantar e disse-me:
   - Desculpa não estava a fazer atenção por estava andar. Deixa-me ajudar-te. Não te magoaste? - disse o jovem preocupado, abaixando-se para me ajudar a levantar.
    Eu queria me levantar o mais rápido possível para fugir do Rafael, e pondo-me rapidamente de pé sem esperar que ele me ajudasse, respondi apressadamente ao jovem, tentando sorrir:
   - Não faz mal, não há nada que o gelo não resolva.
   - Sofia espera! - Disse o Rafael a chegar ao pé de mim.
   - Larga-me! Não me toques. - Afastei-me dele o melhor que podia evitando olhar para os olhos dele.
   - Espera por favor! Vamos entrar e conversar, não é o que tu pensas.
   Naquele preciso instante senti uma adrenalina dentro de mim e os meus olhos fixaram os dele, a minha mão deixou-se levar por aquele impulso que nunca tinha sentido dando-lhe uma chapada na cara.
   - Nunca mais me dirijas a palavra, seu traidor! - deixando-o admirado virei-me e deixei-o plantado a ver-me ir embora. Ainda consegui ouvir aquela histérica gritar da janela do quarto dele a chamá-lo. Eu estava tão furiosa que nem queria saber quem era, porque não queria ficar mais ali, apenas queria ir embora para longe e chorar. Mas para a minha infelicidade o taxista que estava ali tinha ido embora, e eu comecei a me sentir desamparada. O rapaz do encontrão que ainda estava ali, percebendo do que eu estava há procura disse:

   - Aquele táxi já foi embora, mas se quiseres, embora eu não seja taxista posso dar-te boleia para algum lado. Podes ir atrás se te sentires mais há vontade. - Disse o rapaz sorrindo timidamente.
   - Eu não quero causar incômodo, ainda por cima que não conheço o teu...
   - Chamo-me Filipe e não causas incômodo nenhum. - Sorriu o rapaz. - Se eu estivesse na tua situação gostaria que me fizessem a mesma coisa.
   - Obrigada - sorri timidamente.

                                      ***

Filipe narrando:

    Estava sentado no carro, com a mão esquerda e a testa apoiadas sobre o volante, enquanto os meus olhos fixavam a minha mão direita que segurava um colar em cima dos meus joelhos. Não sabia o que havia de pensar, o que havia de fazer ou dizer, estava apenas ali sentado a pensar e a imaginar no que podia ter acontecido se eu tivesse agido mais cedo. Não sabia como lidar com esta dor dentro de mim, que se intensificava cada vez mais a cada segundo. Sentia um mau estar no meu peito e um aperto no meu coração, estava também a tentar me controlar para não chorar. Naquele pequeno instante deixei escapar uma pequena lágrima que limpei logo com a mão que segurava o colar vermelho.