Tempestades

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O professor de Mecânica quis nos estimular a conhecer mais sobre engenharia civil, uma vez que além de professor ele era profissional da área. Então quando ele surgiu com a proposta de fazermos uma visita à obra, todos se animaram.

Dormi no ônibus durante o caminho. O empreendimento era distante distante da universidade, quase saindo da cidade.

— Hey, JP! — ouvi alguém me chamando e abri os olhos vendo Bruno, um colega de turma.

— E aí?

— Queria só conferir se sua sua cara de sono é bonita mesmo! — riu, e até Jean caiu na risada ao meu lado.

— Quê?

— Você não faz meu tipo! — brincou fazendo os outros colegas ao redor rirem.

— Quê? — repeti sem entender o que estava acontecendo, porque todo mundo parecia saber, exceto eu.

— Perguntei às meninas qual cara aqui fazia o tipo delas, e quase metade delas escolheram você. — Bruno contou. — Que sorte hein!

Apenas ri com a informação.

Na minha antiga escola, eu era aquele que podiam chamar de popular. As meninas me achavam bonito, os meninos brigavam para me terem no time, e os professores me tomavam como exemplo. Eu sempre era o príncipe nas peças de teatro e o líder do time de futebol nas gincanas.

Mas tudo mudou quando entrei na universidade. Não tinha mais tempo para me enturmar e parecia que o lado carismático que morava em mim tornou-se introvertido.

— E qual garota é seu tipo? — perguntou animado e parecia que todo mundo parou para ouvir. — A Natália tá ganhando!

— Bem... — limpei a garganta.

Queria dizer que já estava interessado em alguém, mas não sabia como ela era e nem se ela estava ali.

— Turma! — o professor se pronunciou. — Estamos quase chegando. Vou dar-lhes algumas instruções. Sente-se, Bruno!

Soltei um suspiro e me concentrei nas palavras do professor. Pegamos os capacetes de obra e entramos. Se tratava da construção de um condomínio com casas para a classe alta. Metade do terreno estava com as casas quase prontas e a outra metade na fase de fundação.

Apesar do calor, nuvens cinzas estavam nos seguindo, e cada vez que eu olhava para o céu elas pareciam ainda mais escuras. E então um trovão.

— Acho que vai chover, talvez seja melhor voltarmos para o ônibus ou os tênis de vocês nunca mais esquecerão toda a lama que vai surgir num segundo — o professor contou rindo.

Eu queria terminar a visita, ainda tinha muito para ser visto, nem tínhamos chegado nas arquibancadas da quadra da área comum.

Jean saiu correndo na frente, ele estava bem arrependido de ter ido de tênis brancos. Poucos de nós estavam vestidos corretamente, com botas resistentes para obras. Eu mesmo tinha ido com meus tênis velhos de todo dia, eram eles ou os chinelos de dentro de casa.

— O que está achando do passeio? — professor Sérgio se aproximou andando tranquilamente ao meu lado.

Algumas gotas de chuva já estavam caindo e foi engraçado ver quase toda turma correndo para o ônibus.

— Queria ver mais — contei ao professor que bateu em meu ombro com a mão pesada.

— Faremos outra visita antes do semestre acabar.

Alguém me achava sabichão e puxa saco de professores, alguns colegas comentaram entre as prateleiras da biblioteca, onde escutei sem querer. "João Pedro deve se achar demais porque os professores gostam dele, não é?". "Ele vive fingindo estar mais interessado que todo mundo, aff!". "Até parece que ele é tudo isso!".

Minha Admiradora Secreta Onde histórias criam vida. Descubra agora