três

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TRÊS

Eu não ia passar mais nenhum dia com a minha família até que o meu apartamento estivesse arrumado. Os meus pais não me deixavam ir embora de jeito nenhum e estavam me obrigando a dormir lá, mas eu não podia. Eles sabiam que eu não podia. Além dos meus pais, a minha irmã mais nova estava implorando para que eu ficasse lá com ela. Eu queria ficar, mas eu não podia. Eu queria terminar de arrumar tudo antes de começar a trabalhar, porque quando eu começasse eu não ia nem ter tempo de respirar.

A bagunça do meu apartamento estava deixando meus nervos à flor da pele. Eu tinha a sensação de que nunca ia conseguir deixar tudo arrumado do jeito que eu queria, porque sempre ia aparecer alguma coisa para atrapalhar. E ainda tinha aquele garoto que batia na minha porta para pedir o secador. Ele não tinha um? Por que ele não comprava um para ele?

Aquilo me lembrou de que eu ainda estava com a tesoura da mulher simpática. Eu já estava dando uma má impressão. Ela ia achar que eu tinha roubado a tesoura dela. Fiz uma nota mental para não esquecer da bendita tesoura, mas antes de devolvê-la, eu ia abrir todas as caixas e achar o bendito secador para emprestar para o garoto loiro, porque ele batia todo santo dia na minha porta pedindo o secador emprestado.

Quando eu cheguei no prédio, o porteiro me entregou todas as correspondências que estavam se acumulando lá, porque eu não tinha pegado nada ainda desde o dia que eu tinha me mudado. Destranquei a porta do meu apartamento e acendi a luz, vendo toda a bagunça lá dentro. Aquilo me dava vontade de chorar, porque eu me sentia sufocada no meio de toda aquela bagunça. As únicas coisas que estavam no seu devido lugar eram os móveis pesados. O resto dependia de mim. A única coisa boa de tudo aquilo era que a minha cama já estava arrumada e eu tinha um lugar decente para dormir.

Joguei as minhas coisas na ilha da cozinha e vi a tesoura da mulher simpática em cima de um dos armários da cozinha. Ainda bem que ela estava lá, senão eu ia esquecer de devolvê-la mais uma vez e a mulher nunca mais ia emprestar coisas para mim porque ia achar que eu era uma ladra. Eu estava passando uma ótima impressão para os meus vizinhos. Além de ladra de tesouras, eu era desorganizada ou era aquilo que parecia, porque eu nunca achava as coisas lá no meio e nem era capaz de achar o meu secador para emprestá-lo para o garoto loiro.

Resolvi abrir todas as caixas para não ter mais que pedir a tesoura emprestada. Eu não teria mais problemas. O bendito secador estava misturado com as louça da cozinha. Não, eu não fazia ideia de como ele tinha ido parar naquela caixa. Eu tinha certeza de que tinha colocado-o em outra caixa. Mas enfim... Era só devolver a tesoura e eu ia fazer aquilo imediatamente, porque eu ia esquecer de novo se esperasse mais um minuto.

Bati na porta do apartamento da mulher simpática e esperei alguém abrir a porta. A maçaneta girou depois de alguns minutos e eu ensaiei o meu melhor sorriso, esperando que ela não estivesse brava comigo por ter sumido com a tesoura dela. Mas quem estava na porta era a pessoa que eu menos esperava ver. Era o garoto loiro. O que ele estava fazendo no apartamento dela?

-- O que... -- eu apontei para ele com a tesoura na minha mão. -- O que você está fazendo no apartamento da mulher simpática?

-- O que? -- ele me olhou confuso. -- Eu moro aqui...

-- Mas... Mas e aquela mulher que veio me atender? -- eu ainda apontava a tesoura para o peito dele, tentando entender tudo aquilo. -- Você não mora naquele apartamento? -- eu apontei para a última porta do hall.

-- Não... Eu moro nesse. -- ele me olhava como se eu tivesse algum tipo de problema. -- A mulher que te atendeu era a minha mãe...

-- Ah... -- eu dei uma risadinha. -- Enfim, ela me emprestou a sua tesoura e estou aqui para devolvê-la. -- eu estiquei a mão da tesoura na direção dele para que ele pegasse-a de volta. -- Obrigada, foi de grande uso.

Eu já ia fechar a porta do meu apartamento quando ele me mandou esperar. -- Já achou o seu secador?

Eu revirei os olhos e suspirei. -- Sim...

-- Você pode me emprestar, então?

hairdryer ;; njhOnde histórias criam vida. Descubra agora