um

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UM

O apartamento estava uma bagunça. As caixas da mudança estavam espalhadas por todo lugar, em todos os cômodos. Eu estava perdida no meio daquilo tudo e não sabia como ia me virar para arrumar tudo sozinha. Eu podia ouvir o meu celular tocando insistentemente na cozinha, o que estava me irritando, porque o interfone também estava tocando, misturando o barulho dos dois aparelhos.

A minha mãe estava me ligando no celular, o porteiro queria falar comigo no interfone e os homens da mudança estavam atrás de mim fazia cinco minutos para que eu assinasse todos os papéis. Eu fui até a cozinha, peguei o meu celular e desliguei-o, mas o interfone ainda tocava.

Com um suspiro de cansaço e tirando as mechas de cabelo que insistiam em cair no meu rosto, eu atendi o interfone fazendo um gesto para que os dois homens da mudança parassem de falar. -- Srta. Lanes, sua correspondência já está entregue.

-- Tudo bem...? -- eu não entendi o por que do porteiro estar me falando aquilo. Eu não queria saber das minhas correspondências naquela hora. Eu tinha milhões de outras coisas para desempacotar e me preocupar.

-- Aqui está a última caixa, senhorita. -- um terceiro homem colocou a última caixa em cima da ilha da cozinha e eu coloquei o interfone no gancho, deixando o porteiro falando sozinho. Eu já tinha feito aqueles homens esperarem demais.

Eles me entregaram uma prancheta com as quatro folhas que eu tinha que assinar. Um dos homens me mostrou o x que indicava onde eu deveria fazer a minha assinatura e me entregou a caneta. Eu assinei as quatro folhas e os três se foram do meu apartamento. Olhei para a sala e só o sofá e a televisão estavam no devido lugar.

Peguei meu celular de cima do armário da cozinha e liguei-o novamente. Tinha mais quatro chamadas perdidas da minha mãe. Suspirei. Para que tanto desespero? Liguei para ela, que mal deixou o telefone tocar direito.

-- Filha! -- eu ouvi a voz da minha mãe do outro lado da linha. -- Ah! É tão bom saber que está tudo bem.

-- Sim, tudo está normal. -- eu olhei para as caixas. Normal dentro do possível.

-- Eu e seu pai estamos tão felizes por isso estar acontecendo! Te ver no seu próprio apartamento, começando a sua própria vida aumenta ainda mais o nosso orgulho. Nós já estamos com saudade!

-- Hm, ok, mãe... -- foi a única coisa que eu respondi. A minha mãe era tão irritante às vezes.

Depois de prometer à minha mãe que ela ia poder me visitar quando tudo estivesse pronto, ela desligou o telefone. Eu quase chorei de felicidade quando vi que a chamada tinha sido encerrada. Soltei um suspiro e massageei a minha orelha, que estava vermelha e doendo. Não que eu não gostasse da minha mãe, mas eu estava cansada. Eu nem sabia mais o que estava fazendo. Fiquei sentada no sofá por uma boa hora, tomando coragem para ir desempacotar tudo, mas eu acabei cochilando lá. As caixas podiam esperar.

Mas pelo jeito, a pessoa que estava batendo na porta não podia esperar. Eu estava tão cansada que nem tinha forças para ir até a porta, além de ter acabado do acordar do meu cochilo. Suspirei indo em direção à porta no maior desânimo para atender quem quer que estivesse lá.

Quem quer que estivesse batendo na porta, estava tão impaciente que eu achava que o apartamento da pessoa estava pegando fogo ou alguma coisa naquelas dimensões. Dei uma corridinha até a porta, desviando de inúmeras caixas vazias e quase tropeçando em muitas outras.

Finalmente a minha mão tocou a maçaneta e eu abri a porta. Um garoto estava parado lá. Não, garoto não. Ele devia ter uns 20 anos. Ele era magro e um pouco mais alto que eu, tinha olhos azuis e o cabelo descolorido dele estava bagunçado em todas as direções, algumas mechas caiam sobre a testa dele. Ele estava com as mãos no bolso da calça e mordia o lábio inferior de um jeito adorável.

-- Bom, você é uma garota... -- ele sorriu.

-- Sou...

-- Você pode me emprestar o seu secador?

hairdryer ;; njhOnde histórias criam vida. Descubra agora