31/08/2016
Olá, fazia um tempo que não escrevia, ando muito ocupado, eu e meus colegas consultamos todos os dias em lugares que parecem submundos, vemos o sofrimento das pessoas durante à doença e a alegria das mesmas após a cura, elas se sentem seguras em nossos cuidados, essa é uma responsabilidade enorme, por isso escolhi essa profissão, para lembrar que mesmo que o choro dure uma noite, a alegria vem ao amanhecer. E sinto que assim será com minha vida. O tempo está passando, e falta pouco para que eu volte para casa, mas não quero voltar a minha vida de antes, mesmo que tenha que fazer algo radical para isso, eu serei livre. Me sinto como um pássaro preso sem causa com sua família dentro de uma gaiola, porém fui liberado e vou lutar para que minha família também seja. No próximo mês, Vilho me levará para a Baixada Americana, irei para a zona inimiga do meu país, os Estados Unidos. Vocês podem até achar que estou traindo o meu país, mas não, quem realmente o traiu, foi Fídel Castro e Raul Castro, eu só estou buscando uma vida melhor.
Vir para cá, me trouxe novos horizontes, antes eu só pensava em continuar vivendo daquela maneira, hoje, eu penso em crescer, buscar novas experiências, ter uma casa maior e um carro melhor. Espero que dê tudo certo em levar minha metade e meus herdeiros para os Estados Unidos, pois se não, prefiro ser um passarinho preso na gaiola com amor, do que ser livre, porém não ter ninguém para compartilhar minha felicidade. Estou ansioso para partir. Gostei de conhecer este país tropical, amanhã, Vilho me levará para conhecer uma praia brasileiras, nas quais nunca fui, já que onde estou não há praias. Iremos para São Paulo, na praia de Ubatuba, algumas horas de distância daqui, levarei meu caderninho em que escrevo, para lhes contar sobre esta experiência.
03/09/2016
Já está de noite, talvez hoje tenha sido o dia que mais me sensibilizei com alguém no trabalho, a mãe de um paciente com câncer foi visitá - lo há poucos dias, ela me disse que sentia que esta era a última vez, seu coração estava partido. Não sabia ela que dias depois receberia uma notícia, seu filho havia se curado, eu nunca tinha visto alguém tão feliz e nem uma cura tão milagrosa, já que a quimioterapia não estava fazendo mais efeito no corpo daquela criança, a família era cristã, assim como eu, e por conta disso entendi o que havia acontecido.
15/09/2016
9:00
Agora é a hora, chegamos na Baixada, estou entrando para falar com eles, creio que irei demorar, já que tudo aqui é muito burocrático e secreto.
17:00
Vilho- Eai Pepe, conseguiu?
Eu- Sim, mas não irei.
Vilho - Como assim? A tanto tempo você esperava por isso.
Eu- Disseram - me que se eu for, só poderei voltar para Cuba daqui à vinte anos, e não pretendo ficar sem minha amada por tanto tempo, dia 31 partirei para Cuba novamente.
Depois desse breve diálogo fomos para casa.
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Oi, eu sou Pepe
Non-FictionEsta é uma história cheia de emoção, narrada por Pepe, um cubano.