Epílogo

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_Não podemos ser ingênuos sr., os números não irão ter tamanho progresso de uma hora para outra.

O gerente de contabilidade apontava para os relatórios que demonstravam linhas drasticamente decrescentes. O sr. Andrade, por sua vez, apoiava-se com os cotovelos à mesa, com uma das mãos coçando o queixo, como se aquele movimento fosse esclarecer suas ideias e fazer surgir uma solução extraordinária em sua mente.

_Tenho que admitir, embora não goste nem um pouco de me enganar, que já tentamos o que estava ao nosso alcance dentro da organização. Mudamos estratégias, contratamos especialistas, criamos novas campanhas... Mas isso não tem sido o suficiente para que o lucro volte a crescer. A concorrência está implacável.

_ É por isso, sr. Andrade, que a empresa precisa de um investimento. Volto a dizer que essa é a única forma de lançar a coleção nova de batons e conseguir retorno o mais rápido possível.

Aquela conversa exaustiva de sempre, Andrade não estava com ânimo pra pensar sobre aquilo. Assim, dispensou o contador, por hora, e marcou outra reunião com ele para o dia seguinte. Quando se viu sozinho em sua extensa sala de diretoria, jogou-se no sofá de canto, passando a mão pelos cabelos. Suspirou, cansado de tentar lidar com tudo sozinho. A Bella Ltda. havia recebido propostas de possíveis investidores, mas sr. Andrade era orgulhoso demais para tomar quaisquer atitude que pudesse significar que ele precisava de ajuda. Passou os últimos meses dizendo a si mesmo que iria lidar com o declínio de sua empresa só. Adiou a decisão de que precisaria de um investidor, um acionista, o máximo que pôde. Mas agora... Não havia mais como adiar.

Amanhã revisaria as propostas de investimento que havia arquivado, mas por hoje, tinha que relaxar um pouco. Por isso, saiu antes do horário convencional, e foi para um... Digamos... café. A quem se quer enganar? Ele foi para uma casa de prostituição.

Pediu as bebidas mais fortes, bebeu, bebeu, bebeu e quando achou que não podia ficar mais bêbado, bebeu mais. Andrade não lembra de muita coisa dessa noite, mas recorda de ouvir uma voz sussurada a cantar. Era uma das garotas que trabalhavam no local. Ela cantava um jazz no palco, usando apenas uma lingerie preta. A partir daí, ele só lembra de algumas cenas da noite, boa parte delas bem explícitas, e que envolviam a cantora e uma cama.

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Foi uma péssima ideia, ele refletiu enquanto se dirigia a empresa no dia seguinte. Agora lhe restavam olheiras profundas e uma dor de cabeça infernal. Logo naquele dia, no qual ele entraria em contato com os possíveis investidores... "Merda", ele praguejou enquanto sentia que a dor só piorava.

Depois de analisar juntamente ao seu contador, marcou uma reunião com uma possível acionista, que certamente tinha muito capital a investir. Leu os papéis novamente, embora já não absorvesse nada.

Claire Legrand. Nome imponente, como deveria ser? Uma senhora com anos e mais anos de experiência em investimentos? Seria ela uma daquelas velhas tradicionalistas e arcaicas? Sr. Andrade descobriria em breve...

FelinaOnde histórias criam vida. Descubra agora