"Nossa velha amiga"

638 89 17
                                    

— Aquela velha desgraçada? Qual a parte do “não se meter em confusão” você não entendeu? — Falei segurando seus ombros.
Ele me pega pelo pescoço, fica uns segundos agarrado a mim e sussurra:
— Qual a parte do “aproveitar a noite” você não entendeu?.. — Ironizou com o ar abafado em sua máscara.
Eu gelei. Sally Fisher sempre sabe dar um choque em alguém. Nunca tente ir contra um argumento dele.
— Você topa ou não?

Chegamos a casa da senhora Packerton. Estava ansioso pra ver o grande plano de Sal contra O Demônio da Mortadela.
Ela escalou um galho da árvore do jardim da casa
Ah não.. — Pensei
Estendeu a mão pra mim, eu toquei sua mão quente e subi. A árvore ainda úmida pela chuva que havia caído mais cedo.
—  É sério que você não considera isso “invasão domiciliar”? — Pensei.
Sal subiu até o topo e apoiou-se no telhado. Olhou pela janela e fez um gesto com a mão indicando “a barra está limpa”. Ele abriu a janela e indicou para eu entrar primeiro, e depois disso deu um pulinho o fazendo cair em cima de mim. Onde nossos lábios quase se encontraram.
Puta merda, Sal.  — Pensei com nervosismo
Ele inspecionou o quarto vazio e cogitou o mesmo que eu:
— Onde será que a professora está a essa hora da noite?
— Provavelmente está em seus cultos satânicos. — Falei fazendo o menor rir.
Ele conferiu as gavetas e pareceu encontrar algo em uma delas.
— O que tem aí dentro? — O perguntei.
O rapaz de cabelo azul puxou uma calcinha de velha da gaveta e riu.
— Mas que porra é essa? —  O perguntei em meio a minha gargalhada. — Vai fazer a velha vestir mortadela?
— Não vai fazer diferença, ela já nos faz comer mortadela sabor bunda mesmo. — Sal falou e começamos a rir como duas crianças.
Duas crianças que já fomos um dia. Um dia em que não conhecíamos os problemas da vida. Eu descobri a pouco tempo que Sally começou a se distanciar de todos por uma briga com seu pai, ele o culpava pela morte de sua mãe. Mas, eu ainda conseguir o Sally Fisher lá dentro, o meu Sally Fisher.
— Passa a mortadela, baby! — Ele exclamou.
O menor colocou uma rodela de mortadela em cada calcinha larga. Era realmente engraçado que ele tenha planejado cada ação ridícula dessa noite.
— Missão cumprida? — O perguntei quando o mesmo terminou.
— Ainda não. — Ele falou adentrando a mão no bolso e sacando mais um bilhete, igual ao anterior da casa de Fhelps, E o colocou sob o criado mudo. — Agora sim, Larry. Está satisfeito?
Repentinamente, me veio um pensamento em mente. E saiu meio sem freio, exitante:
— Só vou ficar depois que ver seu rosto. — Falei me aproximando e segurança suas mãos.
— Oh não! Você, certamente, não quer passar mal hoje! — Ele disse se afastando. — Desculpe, cara.
Volto a realidade, percebendo que levei um fora. Senti meu estômago embrulhar pelo constrangimento.

Nós descemos da mesma forma que subimos. Mas dessa vez Sal pediu para eu ficar parado, e se pendurou em minhas costas.
— Estou exausto... Caralho. Me leva até o último destino, então vou te dar alguma recompensa. — Ele falou me fazendo corar.
— ...Mas qual é o próximo destino?
— Ashley. — Disse ele.
Arregalei os olhos ao ouvir o nome de nossa... “Velha amiga”. Lembro-me bem de quando éramos um grupo, eu, Sal, Ash e Todd. Ash se tornou uma garota totalmente diferente. Soube que a 4 anos atrás, Sal e ela brigaram como nunca. E foi isso que despedaçou o grupo.
— Sally... O que aconteceu a quatro anos atrás com você e ela?
Sally pensou, e balancando os pés decidiu me responder:
— Lembra de quando eu fugi de casa pela primeira vez? Eu tinha brigado com meu pai e fui até a casa dela. Então no meio da noite acordei e vi o pai de Ash do meu lado sem roupa e tentando tirar a minha calça. Ash ameaçou de que ia espalhar mentiras sobre mim se eu contasse o que havia acontecido. — Ele confessou.
Que vagabunda! — Pensei.
— Então eu apenas mandei ela se ferrar. Agora que você já sabe também quer se vingar dela? — Perguntou ele
Sally era bem decidido. E eu também. Jurei a mim mesmo que iria contar meus sentimentos a Sal nesta mesma noite, e nada podia me impedir!

Sally of paperOnde histórias criam vida. Descubra agora