─ Ebony

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Qualquer farsa que lhe tentem dizer, que passe pelos seus ouvidos e caia direto sobre o chão. Pois, mesmo que seja apenas uma única, tais mentiras apenas farão de ti uma mais nova farsa. E é isso que eu temia, é isso que temo. Tornar-me uma farsa, moldada pelas línguas ásperas de desconhecidos ─ ou até mesmo de conhecidos. Sinto esse horror consumir meu corpo, afogar-me no líquido negro da fraude. É como a obscuridade da noite que aparece subitamente, sem nem dar indícios de onde ou como surgiu. A escuridão sórdida do desespero. Eu me lembro que fugi certa vez para a floresta, longe de casa. Em meio daquele lúgubre diálogo interminável, eles falavam sobre mim, sobre a imagem deturpada de um eu que jamais poderiam compreender por inteiro.

Então fugi. E ele me buscou.

Ele olhou para mim sem dizer nada, e me envolvendo calorosamente em seus braços paternos, pegou-me no colo ─ eu ainda era bem pequena na época ─ me levando embora. Só que dessa vez tampando meus ouvidos ao dizer você não precisa ouvi-los, Ebony, temos que nos ensurdecer para as mentiras.

Mas, ainda assim, o breu ainda aparecia para me assombrar, para me corromper em um negrume de ilusões. Entretanto, nesses momentos de pânico eu sempre me lembrava dos olhos dele, de suas mãos impedindo-me de ouvir qualquer som obscuro. Mas, ainda assim, isso continuava. As pessoas continuavam. A escuridão ressurgia. E eu me encontrava novamente em cárcere. Porém, graças a ele, eu tinha uma maneira de escapar. Eu me lembrava do seu olhar e de seu abraço, os quais, como o sol, traziam novamente a luz.

as mentiras são como trevas.

Nós permanecemos em cárcere.Onde histórias criam vida. Descubra agora