Nós permanecemos em cárcere.

─ Rose

Ela segue, convicta, a dança perversa do sacrilégio. Apesar disso, ela diz não acreditar em tais palavras tão brutas e bárbaras, e portanto, eu também deixei de acreditar. Calamidade parece estar escrito delicadamente em seu rosto, eles dizem. Porém, para mim, o que está escrito, não apenas em seu rosto mas em todo o seu corpo é tentação. Seus espinhos rosados, delicados e suaves como um sopro. Em mim sua alma, sua mente e seu corpo se despem na mais pura e frágil perdição. Porém, nos tempos de ódio nossa paixão é sentenciada, e tudo o que sentimos uma pela outra acaba se perdendo em incontáveis injúrias. Cortam de nós um laço irrompível. Mas seguimos. Apesar de tudo nós seguimos. Por mais que outrora eu negasse, já não posso mais dizer que não a amo, seria a mais fajuta mentira. Nossas almas se entrelaçam em uma só rósea entidade, repleta de doçura, e também, de uma perversa inocência.

Eu a encontrei na degastada escadaria da biblioteca. Com olhos avermelhados e inchados, seu rabo de cavalo pendia sobre seu ombro. Apesar de não ter me importado tanto com sua presença de início, sua melancolia me atraiu, e senti tristeza pelo desconhecido sofrimento que a perturbava. Acabamos conversando durante todos os dias posteriores, e seu semblante já não era mais o mesmo, seu rosto já esbanjava alegria e solicitude, além de um suave sorriso que brotava em seu rosto quando eu a presenteava com uma rosa. Passamos a desejar um mundo só nosso, onde apenas nós duas pudéssemos existir. Sem mais ninguém. Sem mais nenhum semblante cáustico corroendo nossos sonhos.

Ela é o abismo o qual me jogo todos os dias. A masmorra que prende as mais intensas de minhas vontades. O meu cárcere moldado em paixão, em amor. Queria eu poder ficar nesse labirinto, perdida, fingindo estar à procura de alguma saída. Uma saída que eu, e somente eu, sei que não existe.

a rosa chama que arde sobre mim, ela é minha mais nova forma de amar.