─ Amber

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Um gesto materno, daqueles que refletem o mais puro carinho que possa existir em toda face terrestre, assemelha-se com a claridade de um dia ensolarado. Não muito quente, mas caloroso o bastante para nos fazer lembrar das paredes do que um dia chamamos de lar, do que um dia nos abrigou, acompanhando-nos por um longo período de nossas vidas. Que conosco, guardou nossas lembranças e nossos segredos sem qualquer julgamento ou repúdio.

A chama grotesca, de um fogo indesejado, lembra-me de suas atitudes cálidas, transbordando odiosidade. Seu rosto horrendo, disforme, como uma besta. A destruição. Os reparos que ela sempre tentava fazer, mas ele vinha e destruía novamente.

Eram dois extremos, ora um lar, ora meu próprio cárcere. Ela sentia cada queimadura, as quais estavam destinadas a mim, mas se tornando meu escudo ela me protegeu. Ainda me lembro bem, era como se duas asas amareladas, brilhantes, surgissem dando a ela mais força. Força para cuidar de nós. Enquanto ele, ardente como brasa, fervia em um alaranjado de desespero. Em um alaranjado de insanidade.

Quando eu via os dois, eu via mamãe como uma ovelha, uma ovelha que fora obrigada a se casar com um lobo.

Eu ainda lembro das chamas, dos gritos, e do líquido avermelhado que escorrera dela no fim. Apagando suas belas asas escaldantes. E dele, ainda comigo, prendendo-me nas paredes queimadas de arrependimento.

papai é de um abrasador alaranjado.

Nós permanecemos em cárcere.Onde histórias criam vida. Descubra agora