Sabe aquela sensação de vazio? Era o que eu estava sentindo. Acordei no meio da madrugada com uma vontade horrível de chorar. Sentei na cama e fiquei assim pelo ou menos uns vinte minutos, sem expressão, sem nada. Não estava conseguindo controlar meus pensamentos, parecia que o mundo ia cair na minha cabeça.
Levantei e me direcionei para a porta de saída, tive vontade de andar por ai, pela noite, até que essa sensação passe. Então assim fiz, comecei a andar pelas ruas.
A noite estava fria e o céu estrelado, a lua brilhava como nunca com sua cor prata. As ruas da pequena cidade nunca pareceram tão vagas.
Eu caminhava admirando o céu e pensando como tudo estava uma merda. Minha família me odeia, minhas notas na escola foram abaixo do que esperava, meus amigos (se é que posso chamá-los assim) me abandonaram, sinto saudades da minha antiga cidade. Tudo estava desmoronando, e eu estava indo junto.
Afinal, o que é ter uma vida feliz? Ter muito dinheiro? Muitos amigos? Namorar? Viajar o mundo? Ou a mistura de tudo isso? Eu não sei. Só sei que que a palavra felicidade não existe no meu dicionário, ou se existiu algum momento foi removida.
O vento frio me fez arrepiar e perceber que já estava distante de casa, estava próxima a uma praça. Andei mais um pouco e cheguei lá, sentei-me num banco e comecei a respirar e respirar. Algumas lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto frio... e eu chorei, chorei muito. Essa sensação é horrível. Sentir-se vazia é horrível. Ficar sozinha o tempo todo é horrível.
Alguns minutos de choro depois, ergui a cabeça... e foi assim que percebi que não estava sozinha. Do outro lado da praça, sentado segurando suas pernas, encostado no poste de iluminação, e olhando pra mim, estava um menino. Permanecemos nos encarando um tempo, eu estava sem graça, será que ele me viu chorar esse tempo todo?
Tentando parecer segura de si, tranquei a cara.
- Tá olhando o quê?! - falei num tom de irritação.
Em resposta, o garoto riu, quase gargalhou. Ele estava debochando de mim, pensei.
- Eu falei o que você tá olhando! - repeti.
- Agora estou olhando aquela árvore no final da rua, por que a pergunta? - respondeu, olhando no lugar que falou.
- Não se faça de idiota, você estava olhando pra mim! - disse, já me irritando de verdade.
- Então, se já sabia, por que me perguntou? - disse ele. Eu fiz um barulho de raiva, esse garoto tava me tirando do sério, meu sangue esquentou e me imaginei depositando um soco na cara dele. Quando alguém me tira do sério, me imagino fazendo algo violento com ela, mas nunca tenho realmente vontade de fazer, minha mente é tão confusa - Vai me contar por que estava chorando? - falou se movendo para me olhar melhor.
- Não é da sua conta garoto!
- Só estou querendo ajudar - disse ele. Ele parecia disposto a conversar.
- Hmm... - disse, dando uma pequena - Apenas não estou no meu melhor dia.
- Mas o dia mal começou, são três da manhã.
Fez-se um silêncio
- Foi pra rir? - perguntei.
- Não sei, você achou engraçado? - respondeu ele. Eu deixei escapar uma risada - É, achou.
- Não achei, só ri da situação.
- Então tá.
- Tá.
Um clima constrangedor pairou. Não é para menos: uma garota, que sai de casa sem rumo, para em uma praça esquisita, senta, começa a chorar, encontra um garoto vestido todo de preto te encarando e começam uma conversa estranha e cheia de ignorância.
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O Tudo, o Nada e o Mundo
Roman pour AdolescentsNo meio da madrugada, sob o céu incrivelmente estrelado, duas vazias vidas se encontram, e a partir desse acontecimento inicia-se uma tempestade de acontecimentos e aprendizados em suas cabeças turbulentas.