Órbita.

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"Eu não sei como é isso. Não sei como os planetas fazer para se alinharem, mas, espero que se alinhem as nossas bocas, nossos olhos e se tivermos sorte, nossas almas. Porque não há coisa melhor e mais bonita que duas pessoas que dançam na mesma órbita."


Que os anéis de saturno me expliquem como teu sorriso me tira de órbita. 


Ana não fazia ideia do que estava acontecendo ao seu redor. Não sabia dizer se era o álcool falando mais alto, mas pode jurar que viu o mundo se afunilar na direção da mulher que cantava uma das melodias mais lindas que já ouvira na vida. Enquanto balançava em círculos o conteúdo marrom de seu copo e flechava um imenso sorriso em sua direção, disse em puro êxtase:

— Eu quero bis! — incitou Ana — Vai, canta essa de novo?

Seguindo-a, os outros artistas que estavam ao redor fizeram o mesmo e pediram por mais, rindo em posse do álcool, porém lúcidos o suficiente para reconhecerem um talento quando veem e escutam um.

Sem jeito, Chiara sorriu e acenou para Daniel, que lhe entregou de novo o violão.

— Va benè — "Tudo bem" disse num suspiro grave e descontraído, encostando os lábios ocasionalmente na parte metálica do microfone — questa è Isola, ancora una volta — "essa é Isola, mais uma vez" disse olhando diretamente para Ana, que agora puxava uma cadeira e se inseria na roda bem à sua frente.

Chiara dedilhou sua música outra vez e cantou, com muito mais vontade que da primeira vez. E Ana a observava e a cada mudança de tom sentia arrepios novamente por debaixo do blazer que insistiam em se dissiparem na base de sua nuca, forçando-lhe a levar a mão vez ou outra até o local.

Ela já não conseguia mais beber seu uísque com coca-cola; não queria que o som de um gole abafasse aquele som incrível, muito menos que seus olhos perdessem um movimento sequer daquela criatura incrivelmente misteriosa que cantava e encantava cada ouvinte daquele estúdio. Ana moveu-se para apoiar a o queixo em sua mão livre e Chiara olhou-a de relance; deu um sorriso largo em meio a uma sílaba que cantava. Sorriso o qual Ana teve para si que foi destinado a ela e que também jamais esqueceria. Ao findar da canção, mais aplausos e assobios irromperam no espaço, saudando-a mais uma vez.

Chiara entregou seu violão na mão de Daniel e fez um breve agradecimento.

— Quem daria o prazer de fazer as honras agora... Hm... Deixe-me ver — perguntou ele rodando o corpo no centro — Hm... Que tal você, Ana?

— Ma che?! Io?! — "O quê?! Eu?!" disse Ana em italiano para provocar o riso de Chiara e acabou atingindo toda a roda com a sua graça.

— Vamos Aninha, não me faz uma dessas, temos visita! — soou brincalhão e apontou para Chiara com a cabeça.

— Tudo bem, mas só se eu puder usar esse violão — falou Ana olhando diretamente para a dona do instrumento.

Chiara assentiu e permitiu que Ana utilizasse seu instrumento. A brasileira o recebeu em mãos depois de entregar seu copo de uísque para Jorge que estava ao seu lado e com cuidado, passou a alça do violão por cima do ombro e posicionou-o em seu colo. Já com o microfone em sua frente, Ana empertigou-se para cantar.

— Essa é em homenagem a nossa visita, seja muito bem vinda! — disse Ana encarando-a por cima do microfone e a viu fazer um leve meneio de cabeça e balbuciar algo que seus olhos não puderam identificar, pois o álcool já turvava sua vista.

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