A festa bombava. O barulho era de matar. Em um canto, pessoas amontoadas pulavam umas contra as outras com as mãos para cima, gritando e balançando.
E ele poderia falar com ela. Ah, como ele queria. Como deveria ser boa a sensação de estar com ela, longe dali, juntos.
Mas isso só na sua imaginação que fingia ser o suficiente. Porque ele, ele era insuficiente.
E ele queria. Porém, não iria. Não, nunca conseguiria alcançar todos os seus desejos ao lado dela. Era tão sorridente, alegre, confiante, bela... E ele ali, observando. Tímido demais para ir falar com ela ou até mesmo sair de lá — as pessoas veriam.
Foi embalado pela música e pelos desejos de outras pessoas.
💄
Não aguentava mais fingir. Seus sorrisos. Suas risadas. Seus olhares. Suas brincadeiras. Aquela não era ela para ela mesma, apenas para os outros, mas de que aquilo adiantava? Seria apenas uma memória diferente do que ela mesma era para ela mesma, nada além.
Estava farta. Seus sorrisos não mais perdurariam para aqueles outros que eram daquele jeito. Porque ela não era. Mas como era? Não sabia ao certo; nunca antes havia se dado uma chance de descobrir como seria.
Quem sabe aqueles outros também não compartilhavam daquele sentimento... Mas nunca demonstravam, e provavelmente nunca demonstrariam. Então, ninguém saberia de nada. Assim como ela.
Estava cheia. Ia sair dali. Estava decidida. Arranjou alguma desculpa boba e caminhou até a saída.
🎩
"Minha nossa, ela está indo embora!", foi o que pensou o rapaz ao vê-la esquivando-se das outras pessoas em direção à saída.
Mas ao menos uma decisão ele conseguiria tomar sem pensar no que os outros pensariam dele na vida, não é? Ele não parou para pensar nisso. Deveria segui-la, pelo menos um pouco. Talvez ele não arranjasse uma desculpa para falar com ela, ou se esbarrassem...
Atravessaram o corredor e o arco da porta.
Ela parou na calçada de fora do edifício e aparentemente não prestou muita atenção na pista...
Pois um carro teve sangue no vidro e um corpo derrotado voando por cima de si.
Que visão catastrófica.
Que sensação de desgraça.
Que horror, que horror, que horror...
O mundo poderia tanto ter sido um lugar melhor com ela nele.
Ou talvez ele apenas não a merecesse.
E de repente, quando voltou a sentir as coisas do mundo real, ouviu uma ambulância ou uma viatura; viu luzes amarelas brilhando e piscando forte; sentiu empurrões e uma vontade de cair no chão e de chorar. Mas era tímido demais para isso. Apenas voltou andando para dentro do edifício, segurando as lágrimas e esbarrando-se contra outras pessoas curiosas. Talvez depois a polícia aparecesse para falar com ele. Não importava mais. Nem mesmo queria saber se ela estava viva ou não. Apenas chorar escondido, longe dali.