Fraternal

63 9 11
                                    

A neve caía com intensidade do lado de fora, cobrindo o chão com um enorme tapete branco. Os pinheiros, antes verdes, estavam, agora, com seus ramos quase completamente cobertos por uma espessa camada esbranquiçada, deixando-os albinos.

Papyrus se encontrava sentado no sofá com várias almofadas e cobertores ao seu redor. Ele observava a nevasca com um semblante preocupado, vestia um casaco pesado e tinha uma caneca de chocolate quente repousando em suas mãos, que estavam protegidas por um par de luvas alaranjadas.

Após sorver o líquido fumegante em um pequeno gole, ele pousou a xícara sobre o umbral da janela. A fumaça esbranquiçada, que escapava do líquido escuro, embaçava a vidraça que o protegia do clima hostil que fazia do lado de fora de sua casa aconchegante.

Ele soltou um suspiro infeliz, fazia quase uma hora que Sans havia saído para ir comprar comida. Papyrus insistira para que o irmão ficasse em casa e se mantivesse a salvo daquele clima congelante, mas ele recusou, contestando que era melhor sair antes que a nevasca ficasse mais forte. Eles poderiam ter recorrido ao estoque, quase infinito, de sobras de espaguete, mas, por algum motivo, todos os tapewares foram encontrados vazios e jogados no fundo da geladeira. Papy tinha certeza absoluta que aquilo se tratava de mais uma das traquinagens daquele cãozinho irritante, mas o réu sequer havia dado as caras até o presente momento. Provavelmente estava escondido dentro do armário que ficava embaixo da pia ou em um dos cestos de roupa suja na lavanderia.

De repente, um movimento do lado de fora da janela chamou a atenção do esqueleto, o retirando de seus devaneios. Uma pequena centelha de esperança surgiu em sua alma quando assistiu uma pequena forma cambalear com dificuldade lá fora, tentando cruzar o mar branco que Snowdin havia se tornado.

A porta tremeu nas dobraduras, alguns momentos depois, quando algo pesado se chocou contra ela. Papyrus observou, estático, a maçaneta se mover um pouco, até por fim girar, escancarando a porta e deixando uma pequena figura coberta de neve cair para dentro da sala de estar.

- Sans! – Exclamou o esqueleto maior se colocando de pé e correndo na direção do irmão. – Você está bem? – Questionou, preocupado, o ajudando a levantar.

- S-S-Sim, P-P-P-Papyrus... – Gaguejou, seus ossos chacoalhavam tanto devido ao frio, que ele mal conseguia abrir a mandíbula para responder ao irmão. Papy fechou a porta para manter o vento gelado do lado de fora, enquanto que Sans retirou seu casaco, que estava duro devido a neve acumulada no tecido. - E-Espero q-q-que a s-s-s-sopa est-t-t-teja quent-t-te. – Murmurou estendendo uma sacola para o irmão mais novo, duas pequenas embalagens térmicas podiam ser vistas através do material transparente.

- Vou colocá-las para esquentar no microondas só por precaução. – Comentou Papyrus tomando a sacola das mãos trêmulas de Sans. – Você deveria subir e tomar um banho quente. – Aconselhou. – Não quero que fique doente igual da outra vez. – Sans fez um pequeno movimento com a cabeça, consentindo.

O esqueleto mais alto observou o irmão subir as escadas de maneira trôpega e desaparecer quando alcançou o patamar de cima. Então se dirigiu à cozinha e colocou o alimento para esquentar dentro do forno de microondas, ajustando o timer para dali há alguns minutos.

Papyrus cruzou os braços se apoiando contra a mesa enquanto assistia os potes girarem dentro do eletrodoméstico. Os números do display piscavam, efetuando a contagem decrescente.

Entediado com o monótono movimento dentro do aparelho, ele decidiu arrumar a mesa, esticando uma toalha sobre o tampo lustrado e colocando dois pares de pratos, copos e talheres sobre a mesma. Por fim, ouviu, contente, o bipe que veio do microondas, avisando que a comida estava pronta. Com cuidado, ele retirou o alimento quente de dentro dos potes, os despejando nos pratos.

Cold HandsWhere stories live. Discover now