Como tudo começou...

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Ela era uma moça sonhadora e ambiciosa. Trabalhava, estudava e é claro, paquerava!
Aos 17 anos já se sentia independente. Conheceu um belo rapaz em um final de tarde enquanto passeava com sua irmã. Era dia dos namorados. Ele era mesmo um ótimo partido! Bonito, de família tradicional, boas condições econômicas, tinha um belo carro... Ah em 1972, pode ter certeza que isso era raro na maioria. Ela pensou ter tirado a sorte grande. Ele se demonstrava romântico e atencioso. Era mesmo um sonho para uma moça que vinha de uma família humilde. E ainda era linda como uma boneca de porcelana.
Tudo perfeito demais para ser verdade.
Ele a conquistou fácil e começaram a namorar. Ele não a via com frequência, mas saiam de vez em quando, trocavam juras de amor e faziam planos. Os rapazes sempre foram bons em iludir as moças com suas promessas... A família dele nunca aprovaria esse amor, afinal era naquela época que os príncipes não se casavam com plebéias. Mas ela acreditava que conquistaria a todos com seu charme de boa moça, bem educada e culta. Então eles viveram uma história de amor e aventura. Porém ela nunca foi aceita no seio daquela família. Até que um dia ela o surpreendeu com uma notícia que mudaria para sempre suas vidas! Ela estava grávida! E já estava de 7 meses! Naquela época isso era motivo de vergonha. Os pais obrigavam os filhos até a se casarem... Seria um acidente de percurso ou uma tentativa desesperada de segurar o homem da sua vida? Afinal eles não eram oficialmente comprometidos.
Certamente ele ficou tão desesperado quanto ela. Dizem até que a família dele já havia arranjado uma pretendente para ele, pois até isso as famílias tradicionais escolhiam para os filhos.
E agora? O que fariam? Ela certa de ter "fisgado" seu amor para a vida toda. Sonhava com um casamento de princesa, em morar em uma linda casa e criarem juntos aquele bebê que viria e certamente seria lindo ou linda, afinal os dois eram muito bonitos. Ele, por outro lado teria que enfrentar a família dele, o que seria um desafio que ele não estava disposto! Não, não! Ele jamais enfrentaria os pais e correria o risco de ser excluído! Foi aí então que mais do que depressa ele foi a casa dela e falou com o seu pai. Disse a ele que iria assumir a criança e as despesas com enxoval e posteriormente eles casariam. Porém após essa promessa, ele simplesmente desapareceu de lá. Não deu mais notícias. Foi um covarde ou um mau caráter?
O pai dela, um senhor honesto daqueles que a palavra valia mais do que qualquer dinheiro rapidamente foi intervir pela filha. A gravidez na adolescência, uma moça solteira, era uma desonra para qualquer família naquela época. Então esse pai dedicado e honesto foi a justiça solicitar o reconhecimento da paternidade e mais que isso, que o rapaz assumisse sua filha.
O processo vai andando, ela fica desamparada pelo pai da criança. Foi até colocada para fora de casa pela própria mãe que sofreu uma enorme decepção com o fato e não viu outra saída diante da cobrança que receberia de todos a sua volta sobre a atitude impensada da filha. Essa jovem prestes a ser mãe se hospedou na casa da irmã mais velha que já era casada e a acolheu prontamente. Os dias iam passando. Só restava a ela esperar. Esperar por uma atitude de seu amado, pela aceitação da sua mãe, pela compreensão dos demais, pelo nascimento da criança, por sua assistência e acolhimento familiar.
O esperado dia chegou. 23 de março de 1974. Nascia uma menina, loira de olhos azuis. Estava estampado nas suas feições as características do pai. A jovem mãe foi perdoada pela mãe e voltou para casa com a menina nos braços. O rapaz realmente nem se quer deu as caras. Quando a bebê tinha aproximadamente 2 meses de vida, foram chamados ao fórum para decidir a questão da paternidade e formalizar o casamento. Só que a moça era muito orgulhosa e após ter sofrido tanto desamparada pelo amado no momento que mais precisava, estava se sentindo frustrada, abandonada, rejeitada e envergonhada. Seus sonhos tinham se diluído, seu castelo havia desabado! Ele levou seus advogados e ela chegou sozinha, apenas com seu humilde pai e dependia de defensoria pública. Sem muitas palavras ela foi chamada e a única pergunta que o juiz fez foi talvez tudo o que ela queria ouvir antes. Porém naquele momento foram as palavras mais ácidas que chegaram aos seus ouvidos. "Você quer se casar com ele?"
Ela foi pega de surpresa. Tudo o que mais queria antes parecia ser uma ameaça agora. Em milésimos de segundos passaram milhões de coisas na sua cabeça. Ela sabia que caso se casasse com ele nessas condições por imposição da lei não seria a mesma coisa. Talvez não seria bem tratada pela sogra e sofreria as consequências, talvez fosse humilhada, talvez... Talvez era tudo o que ele queria naquele momento, assim seus pais permitiriam o casamento por não terem outra opção e seria mais fácil para ele. Mas o "talvez" selou esse destino.
Ela pensou um pouco, engoliu uma dose cavalar de orgulho e respondeu ao juiz "Não"!
O silêncio se fez presente no recinto. Ninguém entendeu mais nada. Como alguém entra em uma briga para desistir? Faz tempestade no copo d'água e nada na praia? Qual será o sentimento desse rapaz naquele momento? Saiu de lá aliviado por não precisar assumir esse casamento ou saiu frustrado demais por ela ter jogado fora a única oportunidade de uni-los?
E ela? Saiu se sentindo vitoriosa em ter decidido criar a filha sem pai ou saiu decepcionada consigo por ter feito tudo errado desde o início?
Essas são questões difíceis de serem desvendadas. Uma mistura de situações que envolvem sentimentos e mais que isso, definem uma vida!
Percebemos o quanto nossas atitudes são responsáveis pelo nosso destino. Acredito que não é questão de sorte, mas de escolhas!
Bem, esse bebê sou eu! E a partir de agora será minha história. Contada sob o olhar do meu entendimento, do que eu senti em cada momento, do que a vida me trouxe de ensinamento. Prazer! Sou a Lúcia e todos os personagens da minha história terão um nome fictício. Começa agora uma longa jornada. A escolha da minha mãe seria para meu bem ou para meu mal? Quais consequências isso traria em minha vida? Que o influências eu sofreria perante suas escolhas?

Meu bem, meu malOnde histórias criam vida. Descubra agora