flashback

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autora aqui galerooo
💜 seguinte, se forem sensíveis com assuntos relacionados à depressão, automutilação e morte, recomendo que não leiam o capítulo ou pelo menos se preparem para ler ok? se hidratem e lavem as mãos, obrigada por lerem até aqui! 💜

Capítulo 5
Finalmente chegou o sábado, nunca esperei tanto um dia na minha vida. Está tudo normal, tomei meu café e estou me arrumando pra sair com a minha melhor amiga... pela última vez. Já estava tudo acertado, será esta noite na rua da minha casa. Sem falhas, e claro, sem perigo de dar algo errado. Planejar um suicídio é completamente diferente de organizar um homicídio, requer tempo e um sistema que chega a ser lógico, além de envolver outra pessoa nele. Não foi como o suicídio de Jack Wild, o vizinho da frente, e meu melhor amigo desde o momento que nasci.
A ardência presente na minha pele, neste momento, é apenas mais uma, de todas as que existiram durante alguns anos. Todo esse processo me levará até o ponto alto de tudo isso, o fim da frustração, das cobranças, da falta de inúmeras coisas acumuladas. O fim de todo o arrependimento de milhares de coisas que senti, por ter deixado de fazer algo, ou ter feito na hora errada sem necessidade. E as acusações também eram sempre as mesmas, não era como se algumas coisas fossem minha culpa, eram todas elas. Além do mais, não pude salvar o meu melhor amigo, não é agora que alguém poderá me impedir.
Por um destino muito louco, um amigo conhece alguém que pode dirigir um carro que possa ser detonado também. E esse alguém não vai se importar se for preso, ele tem grana suficiente pra sair. Meus pais não vão ligar com toda certeza, querem mais que eu vá embora logo. A única pessoa da família que vai ligar pra isso é minha tia, um doce de pessoa que alegra todo mundo por onde quer que ela passe. Deixei uma carta pra ela se sentir melhor, já a entreguei inclusive. Não só para a mesma, mas também para Zed, meu melhor amigo, para Helena, minha melhor amiga e para os meus pais. De qualquer forma eu me importo com eles mais do que parece. E é também por isso que devo ir embora sabe lá Deus pra onde. Está quase na hora de sair, vou almoçar com a Helena e depois vamos encontrar com Zed e mais alguns amigos. Eu disse para os meus pais que dormiria na casa dela. Tudo planejado com a maior cautela possível. Só eu vou saber que não foi um acidente.
Já estou quase pronta, só preciso limpar os meus cortes e ir buscar Helena na rua debaixo. Coloquei minha roupa favorita, uma calça preta larga, com uma camiseta de galáxia que eu mesma fiz quando era menor, e meu tênis da fila branco. Sem esquecer do meu colar de pedra coral, claro. Jack me deu esse colar quando éramos crianças, de certa forma me traz a sensação de estar perto dele.

~~~~~ quebra de tempo ~~~~~

O almoço foi perfeito, Helena não desconfia de forma alguma o real motivo disso. Já estamos indo buscar Zed e alguns amigos nossos, vai ser um despedida incrível. Infelizmente vai ser doloroso para alguns deles, mas não tem o que eu possa fazer se não isso. Só quero que eles sejam felizes, principalmente Zed, eu o amo como nunca amei ninguém antes. Acho que a coisa que vou sentir mais falta é de seu abraço, eu poderia morar nele. Mas não é hora de pensar nos meus inúmeros motivos e coisas que eu gostaria que acontecessem, quero curtir o último dia com eles, como se não houvesse amanhã... já que não há mesmo.
Memorizei cada expressão de felicidade presente em seus rostos, eu observava tudo muito atentamente, não queria esquecer aqueles momentos de forma alguma. Eles sempre foram tudo para mim, me mantiveram em pé todas as vezes que ameacei cair ou entrar em colapso. Apesar de nunca terem mostrado me excluir ou algo do tipo, sempre me senti fora do "grupo", como se eu estivesse presente mas não importasse a ninguém. Eu não me encaixava em lugar nenhum, me sentia bem quando estava com eles, mas era como se eu só olhasse tudo de longe. Não queria que eles se sentissem culpados ou algo do tipo, então eu só omiti o fato de que eu não estava nem um pouco bem esses últimos meses. Eu chorei todos os dias, 6 meses. Seria mais se eu não acabasse com isso hoje, então vai ser mais um sofrimento que termina, um ciclo finalizado. A parte mais difícil de fingir que estava tudo bem era o Zed. De um jeito ou de outro, ele não descansava enquanto não soubesse o que estava acontecendo, mesmo não sendo algo tão relevante a ponto de eu tentar me machucar. Ele sabe que tenho o psicológico completamente frágil e fodido, sempre tomou muito cuidado pra não me afundar no poço sem querer. Às vezes as pessoas dão gatilhos que elas nem tem noção do estrago que fazem. Um segundo pode arruinar 24 horas. Zed realmente cuidou muito bem de mim, me protegeu de tudo aquilo que me machucava, mas agora é hora de deixá-lo pra cuidar de sua própria vida. Eu só o amo demais pra deixar que ele veja meu sofrimento e minha morte lenta desse jeito, prefiro acabar com isso logo, por mais que o faça sofrer de certa forma. Poderia ser pior.

~~~~~ quebra de tempo ~~~~~

Foi possivelmente a melhor tarde que tive com meus amigos, me diverti de verdade. Estamos voltando a pé para nossas casas, moramos quase todos na mesma rua, tudo como planejado. Antes de sairmos fui ao banheiro ligar pro conhecido do meu amigo, saber se ele já estava preparado e se tinha chegado no lugar. Ia ser bem rápido, sem tempo nem de ver o que houve.
Tentei passar o máximo de naturalidade possível, mas de algum jeito Zed sabia que tinha algo de errado comigo. Mas ele não perguntou nada, só observou enquanto eu tentava "enganá-lo" pra não deixar meu plano ser descoberto.
Estávamos andando e conversando, rindo uns dos outros, já naquela rua deserta... provavelmente eu vou sentir falta dela.
- O que acham de uma corrida até o outro lado da rua? Quem chegar primeiro ganha chocolate! - disse o mais animada possível, com tudo calculado obviamente.
- Adoro correr riscos, mas vamos tomar cuidado com os carros viu gente! - Zed disse bem entusiasmado com a ideia, mas por outro lado, preocupado também.
- Quando eu disser já, ok?
- Ok! - eles praticamente gritaram em uníssono.
O carro já estava vindo. 20:00 em ponto, como combinado.
- 1, 2, 3... JÁ! - gritei e saí correndo desesperada pela rua enquanto estavam todos parados.
- AYA, NÃO!! - Zed tinha um tom de pânico na voz, tentando me impedir, mas sempre corri mais rápido que ele.
Parei no meio da rua assim que a luz dos faróis chegaram até mim. Senti um impacto muito forte depois que parei, meu corpo foi ao chão numa fração de segundo. Eu já tinha perdido parte da visão, só vi alguns flashes e nada concreto, escutei o barulho da ambulância ainda consciente. Ouvi claramente duas frases antes de apagar completamente, uma eu não tenho ideia, a outra era a voz de Zed, desesperado e amável.

- É, um problema a mais pra resolver nessa porra.

- Fique comigo Aya, por favor, eu te amo.

Acabou. Estou fora da zona de sofrimento agora.

One Death (Uma Morte) Onde histórias criam vida. Descubra agora