1° Capítulo - Uma manhã sem sol

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Existem muitas estradas que saem das grandes cidades e levam a outras cidades menores. Cidades essas que passam despercebidas quando se está muito ocupado, distraído, animado, empolgado ou triste demais para perceber o mundo ao seu redor. Passando por uma dessas estradas existe um ônibus intermunicipal cinza, não muito diferente dos outros ônibus da mesma empresa, a não ser pelos bancos com cheiro de poeira e mofo. Dentro dele, o motorista e o cobrador conversam sobre suas esposas e o que elas devem ter preparado para o almoço, ansiosos para chegar a sua última parada antes de seu expediente acabar. O ônibus deverá chegar em menos de trinta minutos, e então descerão os últimos dois passageiros: uma garota de cabelos azuis picotados na altura do pescoço e olhos castanhos, que está sentada no fundo do veículo ouvindo rock com seus fones de ouvido e balançando a cabeça como se estivesse no show daquela banda, e um rapaz de cabelos castanho intenso ondulados a altura do queixo e olhos cor-de-mel, sentado em um banco na metade do ônibus, com a cabeça apoiada no assento e olhando através da janela um céu nublado e uma grande plantação de milho.

Após alguns minutos, e um debate entre o motorista e o cobrador sobre os benefícios e malefícios da picanha malpassada, as plantações de milho e os campos gramados deram lugar a casas e ruas asfaltadas, e o ônibus começou a desacelerar. O garoto de cabelos castanhos piscou, como se estivesse saindo de um transe, e percebendo que chegaram à cidade, se levantou e pegou suas bagagens, que estavam em um suporte um pouco acima de sua cabeça. Puxou uma mochila camuflada em tons de verde e uma bolsa de viagem preta, e ao sentir que o veículo havia parado se dirigiu a saída do ônibus, onde um homem com vestes de militar o aguardava. Usava uma boina vermelha sobre o cabelo loiro raspado, e seus olhos verde-claro pareciam ser capazes de enxergar através da cabeça do rapaz. O homem estendeu a mão, gesticulando para que ele parasse antes de desembarcar.

- Sua identidade. - Disse o militar em voz baixa, porém séria o bastante para não ser despercebida.

- Perdão? - Respondeu o rapaz, confuso.

- Sua identidade. - Pediu novamente, dessa vez um pouco mais alto.

- Ah, claro. - Disse o rapaz, puxando uma carteira preta de seu bolso, abrindo-a e revelando um documento verde com uma foto dele um pouco mais jovem.

O militar pegou o documento, e procurou o nome do rapaz em uma lista que lhe fora entregue por outro militar que estava ao seu lado, aparentando ser seu subordinado. O garoto aproveitou para olhar ao redor, e viu que havia alguns carros do exército parados em volta da praça circular que ficava no centro da pequena cidade de interior. Viu outro militar de boina vermelha dando ordens a um grupo de soldados, enquanto dois soldados conversavam com um homem de idade, e um homem de terno e sobretudo preto apontava locais em um mapa e explicava algo a três soldados armados.

- Brendan Lucius Eliot. - Chamou o militar que estava na frente do garoto, devolvendo-lhe sue documento.

- Obrigado. - Disse o rapaz, respirando fundo. Sempre odiou ser chamando por "Lucius", apesar de o segundo nome ter sido ideia de seu pai.

- Descobrimos que um grupo criminoso está tramando contra o país, e um dos possíveis alvos é esta cidade. Por favor, se souber de algo, nos avise.

- Está bem. - Respondeu Berndan, confuso, afastando-se do ônibus e saía a direita.

Caminhou para longe da praça, para uma rua a direita, passando por casas, um supermercado e um consultório odontológico. As palavras do militar ecoavam em sua mente, o impedindo de pensar em outra coisa. Antes que percebesse, quase como se suas pernas agissem por conta própria, já havia chegado em frente a uma casa cuja cor de pêssego com portas e janelas azul-celeste o fizeram voltar para a realidade. Ainda não conseguia acreditar que seu pai permitiu que sua mãe pintasse a casa com aquelas cores. Pegou o chaveiro que estava em seu outro bolso, o qual tinha três chaves e uma miniatura de um machado prateado. Abriu a porta com o único braço livre, e seu nariz foi imadeiatamente inundado pelo forte aroma de comida sendo preparada. Uma mulher alta de longos cabelos loiros presos em um rabo de cavalo veio ao seu encontro, usavando um vestido florido e um avental rosa por cima, e quase esmagou suas costelas contra seus braços em uma tentativa de abraça-lo, ou o abraçou em uma tentativa de esmagar suas costelas. Não soube definir ao certo.

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