2° Capítulo - Uma tempestade no almoço

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     Quando se assume o compromisso ser responsável por uma criança, espera-se ser capazes de proteger e cuidar dessa criança da melhor maneira possível. Alguns acabam sendo relapsos com esse compromisso, e alguns sequer chegam a enxergar o tamanho da responsabilidade que tem em mãos. E alguns tentam desempenhar essa tarefa de uma maneira tão determinada que acabam não vendo quando deixam de cuidar, e começam a machucar.

     Brendan chegou a cozinha, e só então se deu conta que ainda estava usando as mesmas roupas desde o dia anterior. Uma calça jeans escura, uma camisa cinza com uma linha preta na horizontal e uma na vertical que se cruzavam sobre seu peito direito, e um par de botas pretas simples, um presente de seu pai. O rapaz sentou-se a mesa, na cozinha e sala de jantar. A mesa era circular, e haviam três cadeiras  em volta dela, uma agora ocupada por Brendan, outra por John, que segurava um talher em cada mão e os batia na mesa, como uma criança clamando por comida, e outra cadeira que iria ser ocupada por Mary assim que terminasse de servir os pratos com a lasanha que acabara de tirar do forno. O garoto viu sua mãe tirar a espátula de dentro da lasanha e aponta-la para seu pai enquanto dava-lhe uma bronca e ele ria, e não pode segurar o sorriso. Não conseguia pensar em um casal melhor para ser seus pais. Não conseguia pensar em alguém melhor para ser seu pai...
Após Brendan conseguir acalmar sua mãe, que manuseava a espátula como uma espada contra seu pai, finalmente estavam almoçando.

 - E então? Como está sua tia? – Perguntou Mary, olhando para seu filho enquanto levava uma pequena porção de lasanha a boca.

 - Ela está bem. Adotou um filhote de gato. – Respondeu Brendan, engolindo o pedaço que mastigava. – O nome dele é Bartolomeu.

 - E o que mais? – John tentou falar, enquanto sua boca estava cheia de lasanha. Parecia que ele estava mastigando metade do prato.

 - Bem... – Brendan respirou fundo. – Como vocês já devem imaginar, eu não fui a casa da Tia Helen só pra ver o Bartolomeu. – O rapaz viu seus pais olharem um para o outro, o que só o deixou mais tenso. – Eu fui para saber mais sobre a academia militar de lá e...

 - Você não vai servir! – Disse John, engolindo o pedaço que mastigava e assumindo um semblante sério e irritado.

 - O... O que? – Brendan tentava falar, ante o susto que tomou com a reação de seu pai.

 - Querido, tem certeza do que esta falando? – Dizia Mary para Brendan, com uma expressão preocupada. – Quero dizer, a vida de um militar não é assim tão gloriosa quanto aparenta ser nos anúncios, e talvez você se identifique com outra área... 

 - Não tem que se identificar. – John falava em um tom furioso. – Administração, engenharia, medicina, psicologia, história, filosofia. Você pode escolher qualquer carreira, menos a militar!

 - Mas... – O rapaz tentava falar, em choque. – Mas, você... Você serviu e... A mamãe...

 - Exatamente! Nós servimos! – John levantou a voz. – E por isso estamos dizendo que você não vai!

Brendan começava a sentir seu sangue ferver.

 - Por que?! – O rapaz se levantou também. – Por que eu não posso servir ao país?! Se você mesmo chegou a ser Tenente! Sempre me contou suas histórias com tanto orgulho! E agora está dizendo que eu não posso?!

 - Sim, eu fui Tenente! E veja o que ganhei! – O homem ergueu um pouco sua perna direita, e Brendan se lembrou de que sob aquela calça camuflada uma prótese substituía a perna que seu pai perdera.

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