Quando se assume o compromisso ser responsável por uma criança, espera-se ser capazes de proteger e cuidar dessa criança da melhor maneira possível. Alguns acabam sendo relapsos com esse compromisso, e alguns sequer chegam a enxergar o tamanho da responsabilidade que tem em mãos. E alguns tentam desempenhar essa tarefa de uma maneira tão determinada que acabam não vendo quando deixam de cuidar, e começam a machucar.
Brendan chegou a cozinha, e só então se deu conta que ainda estava usando as mesmas roupas desde o dia anterior. Uma calça jeans escura, uma camisa cinza com uma linha preta na horizontal e uma na vertical que se cruzavam sobre seu peito direito, e um par de botas pretas simples, um presente de seu pai. O rapaz sentou-se a mesa, na cozinha e sala de jantar. A mesa era circular, e haviam três cadeiras em volta dela, uma agora ocupada por Brendan, outra por John, que segurava um talher em cada mão e os batia na mesa, como uma criança clamando por comida, e outra cadeira que iria ser ocupada por Mary assim que terminasse de servir os pratos com a lasanha que acabara de tirar do forno. O garoto viu sua mãe tirar a espátula de dentro da lasanha e aponta-la para seu pai enquanto dava-lhe uma bronca e ele ria, e não pode segurar o sorriso. Não conseguia pensar em um casal melhor para ser seus pais. Não conseguia pensar em alguém melhor para ser seu pai...
Após Brendan conseguir acalmar sua mãe, que manuseava a espátula como uma espada contra seu pai, finalmente estavam almoçando.- E então? Como está sua tia? – Perguntou Mary, olhando para seu filho enquanto levava uma pequena porção de lasanha a boca.
- Ela está bem. Adotou um filhote de gato. – Respondeu Brendan, engolindo o pedaço que mastigava. – O nome dele é Bartolomeu.
- E o que mais? – John tentou falar, enquanto sua boca estava cheia de lasanha. Parecia que ele estava mastigando metade do prato.
- Bem... – Brendan respirou fundo. – Como vocês já devem imaginar, eu não fui a casa da Tia Helen só pra ver o Bartolomeu. – O rapaz viu seus pais olharem um para o outro, o que só o deixou mais tenso. – Eu fui para saber mais sobre a academia militar de lá e...
- Você não vai servir! – Disse John, engolindo o pedaço que mastigava e assumindo um semblante sério e irritado.
- O... O que? – Brendan tentava falar, ante o susto que tomou com a reação de seu pai.
- Querido, tem certeza do que esta falando? – Dizia Mary para Brendan, com uma expressão preocupada. – Quero dizer, a vida de um militar não é assim tão gloriosa quanto aparenta ser nos anúncios, e talvez você se identifique com outra área...
- Não tem que se identificar. – John falava em um tom furioso. – Administração, engenharia, medicina, psicologia, história, filosofia. Você pode escolher qualquer carreira, menos a militar!
- Mas... – O rapaz tentava falar, em choque. – Mas, você... Você serviu e... A mamãe...
- Exatamente! Nós servimos! – John levantou a voz. – E por isso estamos dizendo que você não vai!
Brendan começava a sentir seu sangue ferver.
- Por que?! – O rapaz se levantou também. – Por que eu não posso servir ao país?! Se você mesmo chegou a ser Tenente! Sempre me contou suas histórias com tanto orgulho! E agora está dizendo que eu não posso?!
- Sim, eu fui Tenente! E veja o que ganhei! – O homem ergueu um pouco sua perna direita, e Brendan se lembrou de que sob aquela calça camuflada uma prótese substituía a perna que seu pai perdera.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Rain Project
Science FictionSe você se encontra em uma situação na qual sua vida está em risco, vai fazer tudo que estiver ao seu alcance para fugir do perigo e da morte. Mas e se a morte vier de onde você menos espera?