Otávio e eu estudávamos no mesmo turno, então estávamos sempre juntos, como um casal de namorados qualquer.
Mas todos na faculdade já estavam comentando, porque todo mundo sabia sobre o Matheus e eu, e até o ano passado era nós dois aqui. Mas ele teve que mudar o horário das aulas por causa do trabalho.
Algumas pessoas, que estudavam em período integral, até chegaram a contar para ele que eu estava com outro, ele teve que explicar que nós dois não namorávamos, e podíamos ficar com quem quiséssemos. Mas eu sei que depois de dar a mesma explicação diversas vezes, ele estava ficando irritado.
Metade das meninas dessa faculdade, estavam morrendo de inveja, afinal, de certa forma eu estava “namorando” os dois alunos mais lindos dessa universidade.
Hoje era sexta, Matheus não teria aulas, e estava de folga do trabalho. Combinei de passar o fim de semana todo com ele.
Otávio não gostou nada disso, mas eu prometi que faríamos o mesmo no próximo fim de semana.
Minha última aula, não era uma das minhas preferidas, então eu decidi adiantar um pouco meu fim de semana com o Matheus.
Quando entrei no apartamento lá estava ele, do mesmo jeito de sempre, sentado no sofá, tocando, mas dessa vez era um ukulele. A diferença é que tinha uma mala do lado do sofá.
Meu coração errou a batida. Ele está indo embora? É isso? Não, ele não pode fazer isso comigo, só de pensar nessa possibilidade comecei a chorar.
Ele viu que eu estava chorando e viu para onde eu estava olhando.
— Hei amor, calma, eu não estou indo embora.
— Então por que tem uma mala aqui?
— Nós vamos passar o fim de semana fora. E eu já arrumei tudo que precisamos aqui, só faltava você chegar.
— Onde vamos?
— Para a casa no lago do meu pai.
— Mas eu preciso arrumar minhas roupas, nessa mala aí não pode ter tudo que precisamos. Vou pegar algumas roupas.
Antes que eu pudesse me mover ele segurou meu braço.
— O que você menos vai precisar, são de roupas, confia em mim, eu já arrumei tudo o que precisamos.
Sabe aqueles caras misteriosos, que de alguma forma te convencem a fazer o que eles querem só com um olhar? É o Matheus. Eu nem ao menos respondi, apenas acenei com a cabeça que tudo bem.
Ele pegou a mala, trancou o apartamento e fomos em direção ao elevador. Quando as portas do elevador se fecharam notei que ele tinha um sorriso no canto dos lábios.
— Do que você está rindo?
— Só uma coisa que lembrei, nada importante.
Fomos para a garagem do prédio, ele destravou o carro, colocou a mala no banco de trás e logo em seguida abriu a porta do passageiro para mim.
Durante o caminho eu liguei o som, para mim era uma verdadeira tortura andar de carro sem ouvir música. Habits of my Heart começou a tocar nos alto-falantes. E vi que de certa forma ele ficou desconfortável eu diria.
—Você pode mudar de música?
— Por que?
— Porque eu estou pedindo, muda de música, por favor.
— Mudo, mas antes me dê um motivo.
— Porque se não eu vou parar esse carro e vou fazer exatamente o que ela diz.
Ele disse bem sério, e eu engoli em seco, eu não sei se fiquei excitada ou com medo.
Acabei nem respondendo nada, só troquei a música, uma bem feliz, que não faça menção a camas e lençóis.
Esse lugar para onde estávamos indo, ficava um pouco longe da cidade. Eu não sei porquê ele quis ir para lá. Um fim de semana em casa não bastava?
Um tempo depois chegamos, eu já estava cansada de ficar dentro do carro.
Eu gostava muito desse lugar, ele já tinha me trago aqui umas duas vezes, esse lugar é quase o paraíso. Uma cabana de madeira, na beira de um lago. E a vontade de ir embora? Nenhuma.
Entramos na casa, ele disse que eu poderia ficar à vontade que ele tinha que arrumar algumas coisas.
Não tinha muito o que eu pudesse fazer, não tinha internet, sinal de celular nem pensar, TV então nem se fale. Me sentei no sofá e fiquei lá olhando para o nada.
Alguns minutos depois ele voltou, e tinha trocado de roupa. Estava usando um jeans desbotado, uma camisa branca sem mangas, e estava descalço.
Mas o que me chamou atenção mesmo foi o que estava nas mãos dele. Eu já tinha notado que meus livros tinham sumido da estante, mas não pensei que tinha sido ele.
— Você pegou meus livros?
— Peguei, são bons de um jeito estranho. Eu gostei de muita coisa no personagem, mas acho que ele desperdiçou muito tempo com toda aquelas coisas de cordas, chicotes, contratos, sinceramente, acho que ele não era tão hétero assim.
Comecei a rir, não acredito no que ele está dizendo, aliás não acredito que ele leu esses livros. Mas acho que estou rindo é de nervoso.
— Eu te trouxe aqui, para testar a minha teoria de que ele poderia ter usado melhor o tempo.
— Como é que é?
— Você não quer?
— Não, espera... eu não disse isso.
— Foi o que eu pensei.
Convencido demais, adoro isso nele. Ele não precisava ter feito a pergunta, já que a resposta era óbvia. Quem é que diz não para um homem desses, falando umas coisas dessa?