Três anos atrás quando entrei na faculdade, eu conheci o Matheus, acho que a beleza dele não pode ser descrita, ele é alto, forte, tem o cabelo preto, liso e que sempre está mal penteado ou coberto por um boné. Ele tem um olhar penetrante, às vezes eu acho que ele está lendo meus pensamentos. Ele é tímido com a maioria das pessoas, não é aquele tipo cheio de amigos, mas é extremamente ousado entre quatro paredes, ou comigo no geral. Às vezes é como se eu conhecesse um Matheus e as outras pessoas conhecessem outro. Mas mesmo com toda sua timidez, e acho que até mesmo por causa dela, as meninas dessa faculdade caem matando em cima dele.
No ano passado, no meio semestre, o Otávio foi transferido para cá. Digamos que ele é o oposto do Matheus. Ele é aquele tipo que sempre é o centro das atenções, ele era quente, mas também tinha seus momentos românticos.
Matheus e eu estamos juntos desde o ano passado, mas nunca foi feito um pedido de namoro, logo, não estamos namorando. Estamos nos curtindo, sem um compromisso sério, mas não fiquei com nenhum outro nesse tempo e nem ele.
Até o Otávio aparecer.
Eu pensei que o Matheus fosse romper comigo, pelo fato de eu me sentir atraída por outro, mas ele me surpreendeu quando disse que não ligava, desde que ele fosse minha prioridade, tudo bem eu ficar com outro cara.
Eu já tinha visto o Otávio no campus várias vezes, e sempre tinham muitas meninas falando sobre ele, mas o engraçado, era que ele parecia não ligar.
Nós tínhamos aula de sociologia juntos. Um dia na saída da aula nos esbarramos e nossas coisas caíram todas no chão. Começamos a pegar nossas coisas, sem olhar um para o outro. Depois de pegar tudo eu disse um “até mais” ainda sem olhá-lo e saí da sala.
— Júlia!
Escutei alguém me chamando, e eu sabia muito bem quem era, só não sabia o que ele poderia querer comigo.
Me virei e vi que ele estava correndo, tentando não esbarrar em ninguém.
— Acho que esse livro é seu.
Na mão dele estava meu exemplar de Persuasão.
— Nossa! Obrigada Otávio, minha mãe me mataria se eu perdesse esse livro.
— Então não é seu?
— Não, é dela, ela ganhou do meu pai quando eles namoravam, por isso ele está um pouquinho velho.
— Sabe que eu prefiro assim, livros com esse aspecto de velho.
— Sério? Por quê?
— Livros antigos são sempre melhores.
— Você tem razão.
— O que vai fazer agora? A gente pode almoçar junto, o que acha?
— Claro, podemos ir.
Mandei uma mensagem para o Matheus avisando onde eu estava. Não recebi uma resposta, mas já esperava por isso, concordar não quer dizer gostar.
Durante o almoço eu descobri que o Otávio e eu tínhamos mais em comum do que eu podia imaginar. Ele também gostava muito de poesia, e passamos o almoço todo, e boa parte da tarde falando sobre o assunto. Ele insistiu em me levar até meu prédio, eu morava bem perto da faculdade, mas ele fez questão.
Quando entrei em casa, já era pouco mais de 5p.m, Matheus estava no sofá tocando violão. Uma das coisas que eu mais amava nele, era essa ligação que ele tinha com a música, ele tocava tão bem, e cantava lindamente, ele realmente nasceu para isso. Não é atoa que mesmo sem ter terminado a faculdade já dá aulas em uma escola de música.