- Segredos são perigosos. E quanto mais se deve guardá-los eles se quebram como ossos. Facas são os desejos. Afiados eles seduzem e cortam sua garganta com um beijo. Fuga é melhor nem tentar. Sempre que se quer partir é obrigado a ficar.
Cler estava em sua casa, num bairro nas fronteiras da cidade onde apenas bruxas viviam, um lugar de casas variadas em um e dois andares, porém discretas, paredes de cores claras e detalhes de madeira. Jardins enfeitavam suas frentes e em algumas plantas cresciam pelas paredes.
Eram 4 da manhã, e a bruxa ainda não havia conseguido dormir por conta de sua mente perturbada pelo dia anterior. Ela se levantou da cama, foi até a janela de seu quarto que ficava no segundo andar, olhava além do céu, da sua sacada tinha vista para as ruas da frente e de trás da sua casa. Assim, a jovem conseguiu ver um caminhante de costas indo em direção a mata fechada de árvores altas e ele começava a sumir entre elas a neblina escura. Ela sabia que era Alesso, não hesitou. Desceu com um vestido curto, solto no corpo, amarrado por um cinto fino em sua cintura, pegou um casaco cinza em cima do sofá da sala e saiu. Adentrando a floresta ela apertou o passo para alcançá-lo e então chamou:
– Ei!
Alesso se virou.
– Ei. Você sempre aparecendo do nada. – Se encararam. – Não íamos manter distância?! – Ironizou Alesso.
– Não me julgue. – Respondeu Cler. – O que faz por essa parte da cidade?
– Só estou de passagem, não quero confusão. Estou indo para casa. – Alesso iniciou uma breve reflexão. – Você mora naquele bairro?! – Disse observando as casas a alguns metros depois das árvores.
Cler olhou para trás, para sua casa e em seguida voltou seus olhos para o vampiro que partia em passos curtos e lentos.
– Eu e Anthony conversamos. Ele quer propor algo a você e sua irmã!
– Outro acordo? – Alesso se voltou irado para ela. – A muito tempo não temos uma casa por causa de um acordo devido a um fato que aconteceu um século atrás, no qual aquelas três pessoas nem tiveram culpa porque haviam acabado de se transformarem e estavam confusas! – Desabafou.
– Como sabe que haviam acabado de se transformarem e estavam confusas? – Indagou Cler.
Alesso foi surpreendido com a resposta e inventou qualquer coisa.
– Vocês têm sua versão da história. Nós temos a nossa.
– Não é um acordo. – Falou Cler. – Nos encontre às 20:00 horas, no leste da floresta. – E sem despedidas a bruxa lhe deu as costas e partiu.
Alesso se tornou um vulto entre o breu. Até porque o sol já ia nascer.
***
A manhã veio, o sol brilhava no céu. A tarde veio, o sol era capaz de queimar os próprios humanos. O pôr do sol era um espetáculo. Enfim, a noite fria chegou. Caminhando por entre as árvores e sobe o solo úmido Gaya e a Alesso estavam no mesmo lugar onde haviam se encontrado com os bruxos pela primeira vez. Estava muito escuro, quieto, silencioso, mas os gêmeos sentiam um calor diferente ali.
– Sabemos que estão aí! – Disse Gaya, em bom tom.
Nesse instante, lentamente pequenas lamparinas espalhadas pelo chão terroso coberto por folhas secas se acenderam, uma luz amarelada refletia no rosto de todos eles e nas árvores ao redor. Era linda aquela paisagem. E agora, os vampiros viam aos bruxos em pé a sua frente e vice-versa.
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Eternidade
Vampiros"Por mais de um século conheço um mundo onde as mortes não são explicadas. Homens e mulheres sem rostos e gargantas dilaceradas. A batalha entre vampiros e bruxas de fato aconteceu, mas em Gramado mais uma raça apareceu. Lobisomens retornaram para...