Capítulo Um - parte I

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Octhaw, Califórnia, julho de 1858

Cassie observou a forma como o raio de sol entrava pela janela de seu quarto e incidia na saia do vestido branco que se moldava ao seu corpo. Não podia negar que a seda e a renda eram lindas, estaria feliz pelo vestido tão bonito e caro se o seu significado fosse outro. Engoliu em seco ao erguer a cabeça e encarar o espelho, contemplando em sua totalidade a sua imagem. Sua pele avermelhada e os cabelos cumpridos e negros, que a lembravam da origem de sua mãe, também brilhavam ao sol, assim como os profundos olhos azuis que atestavam também sua descendência inglesa.

Era engraçado pensar em sua própria ascendência diante do que lhe estava prestes a acontecer. Seu pai era James Wiliam Evans, um explorador filho de ingleses e um dos fundadores do vilarejo de Octhaw. Ele chegara à região às margens do rio sacramento há quase trinta anos, ao receber, por sorte, terras repletas de ouro do governo norte-americano, e, após uma interminável rixa com os nativos, havia tomado a filha mais jovem do chefe do acampamento dos Miwok como esposa e prometido uma certa paz. Uma paz que não existira de fato, mas contribuiu para que James construísse uma mina e o vilarejo. Ele se tornou um homem rico, mas o casamento sem amor com Yoomee deu apenas um fruto, Cassandra, pois a nativa acabara morrendo no parto.

Cassie respirou fundo diante de sua perspectiva de futuro, seria condenada a um terrível casamento assim como sua mãe. Odiava sequer poder dizer não. Sentia as mãos suadas dentro das luvas que lhe cobriam os dedos. Como queria que aquela porta fosse aberta e pudesse correr para tão longe quanto seu fôlego lhe permitisse.

No exato momento que fez isso a porta foi aberta e uma mulher na casa dos seus cinquenta anos entrou a passos calmos por ela.

A jovem noiva quase riu com a ironia. A porta foi aberta, porém ela não podia ir a lugar nenhum. Estava sentenciada ao seu pior pesadelo, viver a vida que sua mãe havia levado durante os poucos anos que durara o casamento. Poderia morrer no primeiro parto, pensou. Seria engraçado se não fosse tão triste pensar que a morte de sua mãe fora a sua libertação.

Seu noivo era a forma mais vil e asquerosa que um homem poderia assumir. Isaac Jones era o xerife da cidade, e corriam boatos que ele havia assumido o posto ao matar o xerife anterior. Ele não tinha um pingo de escrúpulos e Cassie se perguntava como um sujeito desse poderia ser um homem da lei. A verdade é que a única lei única lei que existia em Octhaw era a vontade do xerife ou do pai de Cassie que, sendo o dono da mina, era o homem mais influente e com recursos da região, todos o serviam ou trabalhavam para ele de alguma forma. Sem nenhum filho homem, Cassie era a única herdeira de todos os bens, fazendo seu futuro marido o novo dono de toda a cidade...

- Cassandra, está tudo bem, criança? – Elizabeth, a senhora que cuidara de Cassie e a educara conforme os costumes ingleses, parou atrás dela e fez com que se virasse.

- Posso dizer que não? – Balançou a cabeça e olhou para o chão de madeira de seu quarto.

- Sorria é o seu casamento e você está linda.

- Sorriria mais se fosse meu velório.

- Oh! Que meu bom Deus não te ouça.

- Irei me casar com um cruel viúvo com o dobro da minha idade. Seu bom Deus seria piedoso comigo caso me levasse, Beth.

- Seu futuro marido é um homem poderoso, poderá protegê-la quando o seu pai se for, o que pode não demorar muito já que ele está com a saúde bem debilitada.

Cassie balançou a cabeça em negativa. Não havia como discutir com Elizabeth, sua velha preceptora estava ao lado de seu pai e nada poderia fazer. Em alguns momentos chegava até a suspeitar que eram amantes, ou foram.

Roubada do altar #1 Amores do oeste (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora