Capítulo 16 - Um belo dia

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   No segundo dia em que acordei na casa de Eric, olhei por uma pequena fresta da cortina e avistei um céu parcialmente ensolarado, com um sol pálido querendo se esconder por trás das nuvens. E por trás daquelas nuvens eu via Deus. Via que em algum lugar, difícil de ver, ele podia estar lá tentando me proteger. E como sempre incerta do que sentia, fiz a minha simples oração matinal recostando os olhos sobre as mãos.
   Sentia uma enorme falta dos meus pais. Uma falta que construía um buraco dentro de mim, um vazio enorme. Mas por algum motivo me sentia, em parte, completa ao lado de Eric. Ele era muito especial para mim.
   Estava com receio de sair do quarto, embora estivesse louca para dar um bom dia e correr para abraçá-lo e estivesse com muita fome. Eu podia estar passando pela pior parte da minha vida, mas tudo dele me fazia sentir melhor. Seu sorriso, sua boca, seus olhos, sua conversa, suas mãos. Mas eu queria e não queria ficar no quarto debaixo daquele cobertor quentinho em meio às minhas lamentações.
   Então a porta abriu-se e entrou uma alta claridade em meus olhos.

   – Ai, meus olhos! - quase gritei, tampando a cara.
   – Você está bem? - perguntou Eric com tom de ironia.
   – Estou melhor agora e você?
   – Está melhor porque eu cheguei?
   – Talvez? - disse eu sorrindo e ficando vermelha.

   Ele abriu um leve sorriso de lado e com os olhos fixos nos meus segurou minha mão na tentativa de me reconfortar. Ele ficou me acariciando e tentou me beijar quando a faxineira da casa surgiu na porta para me trazer roupas novas. Eu agradeci e pedi a Eric licença para tomar um banho.
   Quando era de tardinha uma visita inesperada apareceu em casa. O pai de Eric me chamou à porta e eu fui com bastante cautela. Não tinha a menor ideia de quem poderia ser.
   Era meu pai e quando o vi, lágrimas jorraram dos meus olhos e eu corri aos braços dele. Papai sempre foi uma pessoa pela qual eu tinha muito afeto. Eu amava os seus abraços, que sempre me deixavam feliz.

   – Pai, estou tão feliz em te ver!
   – Eu também estou minha filha, onde está a sua mãe?
   – Papai, infelizmente... Mamãe não sobreviveu...
   – Oh meu Deus, sinto muito filha! Sei o quanto amávamos a sua mãe. Não fique mal, pois estou aqui com você. E agora com certeza ela está em um lugar bem melhor junto de Deus.
   – Sim, papai. Mas e agora para onde vamos? Se voltarmos para casa seremos levados novamente.
   – Não se preocupe, vocês podem ficar aqui até a guerra acabar. - disse o pai de Eric.
   – Mas Senhor, não sabemos quando a guerra acabará, não será incômodo para nenhum de vocês? - perguntei
   – Não, pode se tranquilizar. Pelas informações que estou recebendo dos meus chefes, a Guerra deve estar próxima do fim.
   – Muito obrigada, Sr. Goering.
   – Por nada, agora entrem e conduza seu pai ao quarto senhorita Scharf.
   – Sim, senhor.

   Eu ainda estava preocupada e desconfiada de toda essa aceitação do Sr. Goering, mas estava estupefatamente feliz por meu pai estar aqui!
   Ajudei meu pai a se estabilizar no quarto e fomos tomar um café. Chamei Eric para uma conversa a sós na sala.

   – Eric, pode me explicar o motivo de seu pai estar nos aceitando tanto? Ele não nos odeia?
   – Ele tem seus ressentimentos contra os judeus, mas não contra vocês.
   – E eu e meu pai somos o que então para vocês, Eric?!
   – Calma, escuta. Por incrível que pareça, ele é um ótimo pai para mim e a única coisa que ele quer é me ver feliz. E mesmo que ele não goste, eu só sou feliz ao seu lado.

   Ele me beijou, então, rápido e todo tímido. Ele tinha aquele jeito romântico e fofo só dele que eu amava.
   Com vergonha e as bochechas rubras, ele ficou me encarando sério por alguns minutos e depois disse me abraçando:

   – Hannah, prometo que farei de tudo para te proteger. Aonde você estiver, eu sempre vou te encontrar.

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