Capítulo 3

888 117 107
                                    

O jantar foi um fiasco, graças ao Gabriel. Teve até discussão à mesa e o meu novo padrasto foi embora de cara emburrada. No dia seguinte minha mãe estava muito pra baixo, aposto que terminaram.
Já se passaram duas semanas, Rennan já me beijou no nosso quinto encontro, atendi dezenas de pessoas e fui elogiada pela chefe. Fiz o enem e passei nervoso na hora que minha mãe foi estacionar, também não podemos esquecer que eu chutei todas as questões de ciências exatas.
Hoje começa minha terceira semana no trabalho e espero não ver o Rennan. Temo que como nosso caso esteja andando rápido demais e ele também se apaixone igualmente rápido.
Entro na loja, bem em cima da hora, e vou correndo guardar minha bolsa. Assim que guardo vou para à frente da loja, dois minutos depois às portas se abrem e com ele Rennan entra correndo. Tento me esconder entre as roupas e acho que da certo, já que ele passa direto.

***

Na hora do almoço sinto, um pouco, falta do Rennan, mas assim que me dou conta jogo esses pensamentos longe. Passei o dia sem vê-lo, e ele não mandou nem uma mensagem. Nem para nos encontrarmos no almoço. Passo o resto do dia trabalhando duro, o que me faz esquecer isso tudo, até que no final do dia, quando estou saindo da loja, ele me manda uma mensagem.

Rennan: Preciso falar com você. Me encontre na lanchonete quando sair.

Meu coração ameaça dar um pulo, mas eu logo o repreendo. Saio da loja e vou na lanchonete. Quando entro, logo o vejo no nosso lugar de sempre. Ele sorri ao me ver e quando me aproximo ele me da um leve beijo nos lábios. Deixando minhas pernas bambas por uns segundos.
Me sento ao seu lado e o observo. Ele parece nervoso, ansioso, não para de balançar a perna esquerda, por baixo da mesa.

— Está tudo bem? Não te vi o dia inteiro... — Tento puxar assunto.

— Eu... Eu preciso te contar uma coisa, Gabi.

— Diga...

Ele olha para os lados, inseguro, mas logo volta o olhar para mim.

— Aqui não.

Ele se levanta e sai da lanchonete. Vou atrás, quase correndo para acompanhar seus passos. Ele para de repente e abre a porta do seu carro, faz um gesto para que eu entre, eu entro e afivelo o sinto-de-segurança. Rennan da a volta, entra no carro e da a partida logo depois de afivelar seu próprio cinto.
Ele dirige até o caís, que tem no final da orla da praia. Depois de estacionar vamos andando até o final, então ele se vira para mim e me olha intensamente, me deixando ver tudo o que está sentindo, pelo olhar. Não sei exatamente o que dizer. Tudo parece errado e fora do lugar. Nós dois, longe do trabalho, na praia, com meus cabelos indo para todas as direções possíveis e entre eles Rennan, com uma cara de apaixonado.
Isso está indo rápido demais. Algo não está certo.

— Tudo bem, vou desembuxar. — Ele diz, quebrando o silêncio. Acinto e ele continua. — Nessas duas semanas eu estava fazendo um teste, para saber como é que anda a loja e essas coisas. Mas então eu te conheci. Já tinha um mês que eu estava ali como repositor e alonguei o tempo por sua causa. Mas agora não posso mais continuar com isso. Eu simplesmente não consigo mentir para você, Gabi...

— Espera. — O corto. — Do que você está falando? Não estou entendendo nada!

— Eu sou o dono da Yara! Eu sou seu chefe e você nem sabia, porque eu menti e isso está me matando!

— Você é o dono da loja? Porque colocou um nome feminino para uma loja masculina? — Comento uma coisa nada haver com a história toda. Talvez eu esteja um pouco nervosa.

Ele ri e vejo que ele se acalmou um pouco. O que me deixa mais nervosa do que deveria estar. Sei o que está acontecendo e sei o que tenho que fazer. Isso não pode mais continuar.

— Gabi, sei que sou seu chefe e que nos conhecemos à duas semanas, mas sinto que o que temos é mais forte e bonito do que a maioria das pessoas conseguem em anos.

— Rennan...

— Espera. Olha, não se sinta pressionada, nem achando que vai ter vantagens por ser namorada do chefe...

— Namorada? — O corto. — Rennan, eu não sou sua namorada. — Ele me olha surpreso, mas me deixa continuar.— E nem vou ser. O que tivemos foi legal, mas não podemos ficar juntos, tipo, nem como amigos.

— O que?!

— Eu ia te falar, mas vou pedir conta amanhã. — Minto. — Vou mudar de país e me casar com meu primeiro amor. Eu não te amo, Rennan, e nunca vamos ser namorados. Desculpa, mas não dá. — Sorrio fraco, como uma boa atriz que sou, e saio do caís.

Rennan fica parado onde está, enquanto eu me afasto, mas quando estou prestes a entrar num táxi ele aparece do nada e agarra meu braço, me fazendo o olhar.

— Você não pode ir assim, não pode me deixar! Eu te amo, Gabi! — Vejo uma lágrima cair de seus olhos tristes.

Por um momento tenho vontade de ficar, o abraçar e dizer que vai ficar tudo bem, mas só por um momento. Me solto dele e o encaro.

— Se me amasse não teria mentido para mim. — Entro no táxi e fecho a porta.

Sei que sou a maior hipócrita, mas ver um homem chorando, no meio da rua, por minha causa, lá no fundo me da uma sensação boa. Só lá no fundo mesmo, porque por fora, na real, eu estou bem chateada comigo mesma por ser esse monstro. Mas tudo bem, é como o Victor me disse, uma hora passa.

***

Eu já disse que ninguém sabe que eu engano os homens, os faço se apaixonarem por mim e depois vou embora? Talvez sim, talvez não ( não me lembro agora), mas a única que sabe é minha melhor amiga Ana. Ela não é muito a favor, mas sempre me da uma forcinha. As vezes até diz ser minha irmã ou que moro com ela em seu apartamento. E por causa disso ela ultimamente anda muito brava comigo, por conta das constantes visitas de Rennan, principalmente, à minha procura.
Ana maria é minha melhor amiga a tanto tempo que nem sei, mas sei quando ela está nervosa comigo. E essa é uma hora que ela ta.

— Dessa vez eu estou falando sério, Gabi! Você tem que parar com isso e pedir desculpas pra cada um deles!

— Você sempre está falando sério — Ironizo.

— Você é um saco, não sei como consegue fazer um monte de caras se apaixonarem por você!

— Não sou reclamona, igual você. — Sorrio e dou um pulo da cama, pra não receber o tapa que ela quase me da.

Cruzo os braços e olho a Ana deitada na minha cama, com a cara emburrada para mim, me fazendo lembrar de quando éramos crianças.

— Quando vai voltar para o trabalho? — Ela pergunta, mudando de assunto.

— Não vou voltar. — Ela arregala os olhos e se senta. Eu continuo. — Mandei um email para a gerente dizendo que Rennan se aproveitou de mim mentindo sobre seu cargo. — Me sento no puf e cruzo as pernas. — Ela respondeu que sente muito e me indicou para outra loja, que vai fazer uma entrevista comigo amanhã, quarta-feira. — Ana fica de boca aberta.

— Você é louca ou coisa parecida?! Poderia namorar um empresário e ter uma vida boa. E eu sei que no fundo você acaba gostando desses caras. Você não é má, Gabi, você sempre chora quando os deixa...

Dou de ombros e olho pro meu computador, aberto na página das regras. A regra número seis ainda está em branco e Ana Maria continua sendo minha amiga, mas não entende. E eu também não posso falar nada, eu mesma não me entendo direito às vezes.
Deixo que minha amiga continue falando sozinha, me levanto e vou até meu computador e digito a sexta regra, mas não a menos importante.

RN°6: Não misture trabalho e homens.

Não crie regras | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora