Capítulo 1 - Kyle, Kyle Newman.

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Três meses tinham se passado desde aquela noite no bar, e desde então Anna tinha procurado desesperadamente por um emprego, ou então alguma chacoalhada em sua vida pacata.

Durante aqueles inteiros três meses ela tinha entrado em contato com tanta gente que deu até tempo de esquecer Dominic. Claro que, ela havia pensado nele diversas vezes e em algumas queria até mesmo encontrá-lo, mas com o tempo se passando e ela querendo desesperadamente que algo de bom acontecesse, deixou de pensar nele.

Deitada em sua cama, ainda de pijama e com o cabelo todo embaraçado, ela encarava o teto, cansada de pensar tanto. Era terça-feira, e por mais que tivesse o resto da manhã para dormir e esquecer os problemas, ela não conseguia pregar os olhos. Tinha acordado diversas vezes no meio da noite pensando na maldita ligação.

Sua última opção de emprego tinha aparecido uma semana antes, quando ela trombou com um de seus antigos professores no mercado e lhe contou o que estava acontecendo. Ela sempre fora uma boa aluna e todos os professores sabiam o amor que ela tinha pela sétima arte e ainda  quando estudava, eles faziam questão de incluí-la nas produções cinematográficas que a faculdade mesmo fazia, fazendo com que o currículo dela se destacasse diante de todos os outros.

Com a rápida conversa que tivera no mercado, seu professor havia mencionado que conhecia alguém que estava trabalhando em uma grande produção de um clipe, e que essa mesma pessoa precisaria de um assistente o quanto antes e, depois que trocaram informações e ela lhe enviou seu currículo ele disse que iria indicá-la para o trabalho.

O prazo para alguém entrar em contato com ela era até hoje e por isso estava tão nervosa.

Decidiu de vez sair da cama, mesmo sendo sete da manhã, e foi direto para o banheiro tomar uma ducha quente, que era tudo que ela precisava. O frio de dezembro era um dos mais assombrosos, e ainda assim ela não se importava com seus ossos congelando no caminho entre a pia e o chuveiro.

Depois que saiu do banheiro, se aqueceu em suas roupas e procurou uns trocados na carteira para ir em qualquer esquina tomar café. Nunca gostou de depender dos outros e mesmo agora desempregada, evitava ao máximo fazer suas refeições em casa, já que qualquer coisa era motivo para a mãe e o irmão jogarem na cara dela a maldita profissão que havia escolhido. "Isso só se faz nos Estados Unidos Anna, aqui é Londres", eles diziam.

Claro que ela amava a mãe e o irmão, devia muita coisa a eles, mas sabia que com a profissão que escolhera apoio ela não teria, já que o pai fazia a mesma coisa.

O pai era outra história, nunca o conhecera e a única informação que tinha dele era que deixara a mulher e os filhos para viver em função do cinema em outro país e desde então nunca mais entrou em contato. O que nem chegava a ser um problema pra ela, e também não guardava rancor do pai, às vezes até o entendia pois sentia muito que deveria correr também atrás dos seus sonhos, independentemente. Só não entendia o posicionamento dele em relação a não manter contato algum. 

Pegou o celular, desbloqueou para ver se tinha alguma notificação e não vendo nada saiu de casa em silêncio, respeitando os que ainda dormiam. O frio da manhã a atingiu como uma agulha perfurando seu corpo e ela se encolheu ainda mais em seu casaco, enquanto observava o céu.

Entrou na padaria que cercava a esquina de sua casa, pediu um café e no momento que se sentou no balcão para esperar seu pedido, o telefone começou a vibrar no bolso da calça. Automaticamente ela gelou e começou a implorar pra Deus por uma única notícia boa.

Se deparou com um número estranho e tremendo de nervosismo, desbloqueou a chamada e atendeu.

-Anna Edwards? - uma voz masculina perguntou do outro lado da linha.

-Bom dia, ela mesma - tentou ser o mais educada possível.

-Antes de tudo gostaria de pedir perdão pelo horário, é que o fuso da onde estou é completamente diferente e eu perco a noção de tempo. - Riu. - Mas aqui quem fala é o Kyle, Kyle Newman.

No segundo que percebeu com quem estava falando ela só queria gritar. Se lembrou dos quatro anos que passou admirando pessoas como ele e escrevendo sobre elas em seus artigos científicos, fora as diversas vezes que se imaginou trabalhando com alguém desse porte.

-Misericórdia. - Falou a primeira coisa que veio na mente enquanto ouvia risadas do outro lado. - É o Kyle Newman mesmo?

-Sim, o próprio. - Ele ainda ria da reação dela. - Falei com Raphael esses dias, seu antigo professor e ele me fez analisar seu currículo com toda a paciência e calma do mundo e pode-se dizer que estou surpreso.

Por um momento ela tinha se esquecido de respirar e pensou se era alguma pegadinha dos santos pro lado dela.

-Bom, eu e a minha equipe gostaríamos de saber se você ainda está disposta a trabalhar nesse projeto com a gente. - Ele dizia enquanto ela piscava sem parar, para ver se aquilo tudo era real mesmo ou só coisa da cabeça dela. - Sei que está bem em cima da hora, mas caso aceite preciso de você já na semana que vem, se possível no domingo.

-Meu Deus do céu, claro que eu estou disposta. - Ela tremia. - Estou mais que disposta, se tem uma coisa que eu estou é disposta.

-Adoro essa animação de começo de produção. - Ele ria. - Vou enviar os detalhes pra você por e-mail, mas desde já gostaria de avisar que trabalharemos por mais ou menos vinte dias em função disso. Vamos ter uma semana de adaptação, ideias e reuniões, outra para a gravação e uma para divulgação. A semana da divulgação vai acontecer somente em fevereiro mas quero deixar claro que vou precisar de você aqui.

-Tudo bem, sem problemas. - Anna ainda processava toda a informação que recebia.

-Sei que você é de Londres e por isso tomei a decisão de incluir no seu pagamento o apartamento para você ficar até fevereiro, e algumas coisas já estão inclusas nas despesas do projeto como sua passagem pra cá.

-Minha passagem? - Ela engoliu em seco. Sabia que ele trabalhava com produções americanas mas até então a ficha dela não tinha caído de que ela iria mudar de país por três meses.

-Isso mesmo. - Ele disse e no fundo podia ouvi-lo digitando algo em seu computador. - Estou te enviando os detalhes, e alguns ajustes faremos durante essa semana. Seu avião para Los Angeles sai na sexta.

-Sexta? - Ela afogou com o café que tinha acabado de chegar.

-Sim, tudo bem pra você né?

-Está tudo incrível. - Ela dizia, mesmo sabendo que sua mãe surtaria.

-Então tudo bem. Qualquer dúvida você pode entrar em contato comigo mesmo ou com a minha esposa Jaime, ela estará a sua disposição para a adaptação. Estou feliz que você vai fazer parte da nossa equipe, Raphael falou muito bem de você.

-Olha, eu não sei nem o que te dizer Kyle. Sou uma grande fã. - Ela finalmente conseguiu falar algo que queria desde que atendeu o telefone.

-Obrigado, aprecio muito essa admiração e estou muito ansioso para te conhecer Anna. - Disse, muito educado. - Tenho a sensação de que seremos bons parceiros.

-Pode parecer loucura, mas eu tenho essa sensação desde Fanboys em 2009. - Ele gargalhou do outro lado da linha.

-Já gostei de você Anna e por mais que eu esteja adorando a conversa preciso desligar para resolver algumas coisas, mas nos vemos no domingo então? - Kyle perguntou.

-Com certeza. - Ela disse sorrindo. - Obrigada pela oportunidade, significa o mundo pra mim.

-Eu quem agradeço. - Ele suspirou. - E Anna, mais uma coisa que você precisa saber antes de vir pra cá.

-Sou toda ouvidos. - Disse a expressão que sua mãe mais usava quando queria dizer que estava prestando muita atenção em determinado assunto.

-A produção em que vamos trabalhar, é o novo Clipe da Taylor Swift, Style. - E antes mesmo que Anna pudesse surtar ou responder, ele desligou. 

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⏰ Última atualização: Mar 16, 2019 ⏰

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