Capítulo I

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Eu estava a quase meia hora em uma fila para pegar um sanduíche, e nem era para mim. Minha mãe me avisou mil vezes que adiar os planos para poder pagar uma faculdade dos sonhos era o melhor plano no momento, levando em conta que não temos condições de pagar nenhuma. Quase 23 anos e eu não consigo sair de uma cafeteria onde só ganho reclamações de um chefe que fica sentando fazendo palavras cruzadas, não que seja uma coisa ruim as palavras cruzadas, mas o fato dele não me ajudar e ainda me fazer pegar o sanduíche dele para garantir meu emprego era uma sacanagem.
Já era quase inverno e as ruas estavam mais movimentadas do que nunca! Nunca vi tantos carros parados como estava hoje. Depois de duas quadras andando cheguei ao meu tão esperado trabalho.

- Poderia demorar mais? Falou ironicamente Bily, meu chefe. - Anda Verônica! Os clientes não vão se servir sozinhos.

- Seria de bela ajuda você me dando uma força. Falei colocando meu avental que ia da minha barriga até um pouco a cima dos joelhos.

- Menos papo mais trabalho. Disse ele mal humorado.

Forcei um sorriso para ele e fui atender os clientes, calma Verônica.. ainda tem muitas horas que você precisa aguentar e manter a paciência se quer garantir seu emprego.

Eu gostava daqui, não de Bily, mas do trabalho.., observar as pessoas parando seu tempo para simplesmente sentar e conversar enquanto toma um café, ou lê algum livro, revista.. era raro isso hoje em dia, as pessoas sempre estão com pressa.. me pergunto se deveríamos ter.. a vida é um choque assim? De alguma forma aquelas pessoas faziam a vida, quer dizer, o final dela.. parecer apenas o próximo plano, ou um plano que nunca será necessário citar, como se não houvesse mesmo importância o quanto faltava para dar o próximo passo e só curtir enquanto seus pés estão nas alturas antes de chegar no chão. Onde os sonhos ficam limitados e a vida com a pressa de sempre.
Já estava anoitecendo, e os últimos clientes estavam fechando a conta, e o meu horário também estava chegando.

- Vai fechar hoje. Estou com pressa, o ringue final já vai começar, e eu não posso perder. Falou Bily deixando as chaves encima do balcão e saindo da cafeteria. 

Suspirei profundamente, Bily não era um cara muito legal. Ele ficou com a cafeteira depois que seu pai faleceu de câncer, era um senhor muito atencioso, e foi graças a ele que consegui um emprego aqui, Bily só aceitou pelo fato de conseguir me explorar nisso. Ele já tinha muitas ocorrências na delegacia por ser acusado de abuso sexual e violência doméstica. Mas nunca foi realmente preso ou passou para alguma etapa próxima a isso, eu imaginava que ele deveria ter algum amigo em comum naquele meio, por isso ficou sempre ileso de qualquer culpa ou acusação de mais de 25 mulheres, eu também havia denunciado. Houve rumores que diziam que ele batia em sua mulher depois que se casou, ela viajou para longe ano passado e ele sempre dizia para se defender "Ela era uma vagabunda mal agradecida!" Isso era realmente uma injustiça contra dona Clara.. dava para perceber de longe o quanto era cega de amor por esse verme.. e ele a machucava tanto.. depois disso, ele continuou com seus atos abusivos.. mas com outras mulheres indefesas. Já eram oito horas da noite, eu realmente pensava na hipótese de o que aconteceria se eu deixasse aberto e acabassem com a loja de Bily e ele se culpar para sempre e parar de explorar os outros. Mas é lógico que só pensei, meu futuro dependia daquilo, e sinceramente eu não sou tão má assim.
Depois que apaguei todas as luzes e guardei meu avental, fechei a loja e segui a rua pouco iluminada em direção ao meu doce lar, que realmente era o meu lugar preferido nessa cidade. Minha mãe resolveu se mudar quando fiz 15 anos, então não consegui fazer muitas amizades depois disso, e não conheço muita gente por aqui. Me perdi em meus devaneios e me assustei ouvindo um barulho estranho perto de uma rua pequena e escura que eu teria que passar, de todo jeito. Resolvi desacelerar meus passos, e andei bem devagar na ponta dos pés até a beirada da parede para verificar o que estava acontecendo. Não conseguia enxergar muito pela escuridão, mas havia duas pessoas ali, uma delas tentava se debater, mas sem sucesso, quando de repente meu coração acelerou, eu estava tremendo, um homem, com um capuz, ajoelhava um rapaz pela garganta que aparentava ser um morador de rua ele não me era estranho. Ele segurou em seu queixo, fazendo o mesmo o encarar, passou suas mãos enormes com suas luvas pretas grossas contornando seu pescoço, como se analisasse o local onde iria cometer o ato ou se divertindo com o desespero do rapaz que tremia de medo e implorava por misericórdia, ele segurava algo afiado, e em seguida sussurrou alguma coisa. E sem hesitar rasgou a garganta do rapaz. Eu congelei, não conseguia pensar em nada, apenas deixei escapar meu desespero e isso atraiu olhares.

-NÃO!!! Gritei assustada. O mesmo virou sua atenção para mim.

Verônica corre. Repeti a mim mesma em pensamento.

Ele me fitava com os olhos que aparentavam estar irritado. Depois de  jogar a cabeça do pobre homem para trás, seus passos fortes no chão vinham agora em minha direção. Eu estava em pânico, eu queria chorar, gritar, mas eu só corri e eu nem sei como estava fazendo aquilo, a minha vontade era desmaiar e abandonar meu corpo, minhas pernas estavam trêmulas, e minha visão embaçada, eu não conseguia enxergar as ruas direito. Mas não havia ninguém por perto a quem eu pudesse recorrer. Aos poucos meu corpo parou.

Senti suas mãos com as luvas grossas puxar meus braços para algum lugar mais discreto, não conseguia imaginar o que ele poderia fazer comigo, depois do que fez com aquele homem.
Ele me levantou e me encostou na parede, meus olhos semifechados e minha mente implorando para eu ficar consciente. Seus olhos escuros, com uma cicatriz que invadia suas pálpebras aos lábios inferiores, ele segurou meus braços para cima, em meio ao borrado da minha visão, conseguia ver um símbolo em seu pulso, mas não sabia o que significava, eu podia sentir sua respiração fria a poucos centímetros de meu rosto.
Eu não estava mais ali.. pelo menos, não queria estar. Meu corpo implorava para desistir, e simplesmente deixar que o inconsciente ganhasse. Ele tirou sua faca do bolso, e passou a mesma bela minha bochecha me sujando de sangue, do sangue daquele homem que acabará de assassinar na minha frente.

- Por favor.. não.. consegui dizer falho em meio ao desespero.

Ele sorriu. Como se sentisse prazer naquilo, no medo, no desespero, no olhar assustado, ele queria me ver assim.. e gostava daquilo.
E então, eu apaguei.

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