O QUE EU DIRIA PRO MEU CORPO
Queria te pedir perdão por todas as vezes que te transformei numa área em conflito, por colocar as mãos em você de maneira tão despretensiosa que não me dei conta de que você é o que de mais bonito existe.
Pelas vezes que chorei por não te ter como ideal ou bonito, e pelas vezes que ousei te agredir verbalmente, e com atitudes tão desesperadas de te fazer melhor que não percebia que estava piorando aquilo que era sua função primordial: me proteger de todas as quedas, arranhões e ataques externos.
Queria te pedir perdão por todos os dias que te olhei com maus olhos, tanto que seria capaz de nunca mais olhar com amor ou apreço – porque essas sensações me parecem grandes demais e eu às vezes te acho pequeno –.
E implorar que me perdoe pois no fundo percebo que tudo o que você quer é me deixar confortável na superfície da vida, que quer me tornar um ser humano incrível ainda que com todas as falhas que insistem em dialogar comigo.
Te peço perdão por exagerar nas tentativas de me desfazer de você e de te colocar pra baixo sempre que vejo outros como você, quem sabe mais bonitos e agradáveis, e desejar veemente ser como eles a ponto de deixar que você não exista em mim e não me sustente.
Pelas vezes que desejei qualquer outro que não você.
Eu me desculpo.
E pelos possíveis traumas que minhas mãos ocas e vazias te causaram, pela minha falta de sensibilidade em te perceber tão frágil, e por não compreender o milagre que é saber que você existe e consegue se movimentar com tanta vontade.
Te peço perdão por ser tão distraído que nunca entendi o esforço que você faz para que eu não tropece nas minhas próprias fraquezas, pra que eu continue respirando e experimentando o ar limpo, da cidade e do amor.
Te peço perdão por tentar tão avidamente deslocar meus pés na direção contrária à que você me leva.
Pelas vezes que duvidei da capacidade que você tem de me manter de pé.
Pelas vezes que desgostei de tantas curvas e cicatrizes que você desenhou em mim pra me diferenciar dos outros, pra me tornar único e especial.
Perdão, porque, ao te olhar, seria capaz de não gostar de mim e tem ato mais terrível e desesperançoso do que não gostar do que se vê?
Te peço perdão por nunca ter te visto com olhos tranquilos, olhos que observam beleza ainda que em momentos difíceis, e por estar tão apressado que perdi você crescer, ficar mais forte e firme.
Peço perdão por todos esses anos duvidando que existisse beleza, afinal, em tudo que sempre disse não ter: olhos, boca, rosto, pernas, pés, cabelo... e por tentar mudá-los ou melhorá-los como se eu pudesse colocar a mãos na minha essência e na minha luz, e conseguisse fazê-las voltar atrás.
Perdão por querer voltar atrás muitas vezes, por não te ouvir, te perceber, te enxergar, e por chegar aqui, neste texto, tão tardiamente.
— Textos Cruéis Demais
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