The Demetria's point of view.
Minha noite foi algo, acredito, turbulento. A pior noite que já vivi, já tive dias melhores e esse não foi um deles. Incrivelmente e quase impossível, segundo os enfermeiros e médicos, estou respirando sem a ajuda dos aparelhos e isso deixa todo mundo "mais tranquilo" e disseram para mim que meus órgãos ou, o que sobrou deles, estão melhorando do trauma lentamente e isso pode significar o meu despertar em breve.
Alguns enfermeiros veio me visitar, uma assistente social e todos eles conversam como se eu fosse um bebê frágil. A enfermeira que me chama de "docinho" disse que eu comando tudo, eu que estou no controle, viver ou morrer é a minha decisão. Mas, como eu decido isso se eu nem ao menos consigo dizer que essas merdas de esparadrapos em meus olhos estão me irritando?
Alguém, por céus, venha tirar isso.
Ouço passos se aproximando de mim, o barulho termina de frente para minha cama e uma voz que eu tanto conheço ecooa em meus ouvidos fazendo meu coração se aquecer.
- Olá, pequena patinha. - Diz o meu pai. Há muito tempo papai não me chamava assim, a última vez foi quando eu era ainda menor que Chloe. Papai caminha devagar em minha direção, com a respiração entrecortada à medida que se aproxima mais.
A assistente social puxa duas cadeiras e as coloca ao pé da minha cama.
- Demi, seus pais estão aqui. - Ela gesticula pedindo a eles que se sentem. - Vou deixar você com eles agora.
- Ela pode nos ouvir? - Pergunta minha mãe. - Se falarmos, ela vai entender?
- Pra ser sincera, eu não sei - responde a assistente social. - Mas a presença dos senhores pode ser reconfortante desde que o que disserem realmente possa ajudá-la.
Sei que é esse o seu trabalho, alertar as pessoas sobre coisas desse tipo, e que ela está ocupada com milhares de coisas e nem sempre pode ser sensível, mas, naquele segundo eu odiei.
Depois que a assistente social sai, eles ficam sentados ali, em silêncio. Então minha mãe começa a tagarelar sobre vários assuntos aleatórios. Meu pai fica ali, sentado, imóvel, mas com as mãos tremendo. Ele nunca foi de falar muito, então deve ser difícil ter de conversar comigo agora.
Outra enfermeira passa. Não é a enfermeira que cuida de mim, mas mesmo assim ela se aproxima dos meus pais.
- Não duvidem nem por um minuto que ela consegue ouvi-los - Diz ela. - Ela tem consciência de tudo que está acontecendo.
A enfermeira fica ali parada. Quase posso ouvi-la mascando chiclete. Mamãe e papai ficam olhando para a mulher, absorvendo o que acabou de dizer.
- Vocês podem achar que são os médicos ou as enfermeiras ou todos estes equipamentos que controlam o show - Diz ela, gesticulando na direção dos aparelhos. - Nã-Não. É ela quem controla o show. Talvez, ela esteja só esperando a hora certa. Por isso, conversem com ela. Digam que pode usar o tempo que for necessário, mas que volte, porque estão esperando por ela.
Após a enfermeira ter dito isso, minha mãe voltou a conversar comigo, coisas que, se eu estivesse no meu estado normal, me deixaria feliz, mas não consigo. Ela diz sobre Maddie que está indo muito bem com as notas na faculdade e que estava quase voltando pra casa, disse também que Chloe estava acordada e que Miley e Lauren estavam juntas com ela, cuidadando da minha pequena macaquinha, mas que não trariam ela para cá até estar reagindo melhor aos tratamentos. Pelo menos meu bebê está bem. Eu consigo imaginar ela querendo levantar da cama para ir brincar e Lauren a mimando para convencer ela a ficar deitada.
Estou um pouco aturdida agora. Mamãe e papai saíram há pouco tempo, mas eu fiquei para trás. E é quando eu reflito sobre o que a enfermeira disse. É ela quem comanda o show.
Se eu ficar. Se eu viver. A escolha é minha.
Todo esse lance de coma induzido é papo de médico. Não cabe aos médicos. Não depende dos anjos que não podemos ver. Também não depende de Deus, que, se existir, está em algum outro lugar por aí neste momento. Só depende de mim.
Mas como vou decidir isso? Como é que posso partir sem Chloe? Sem a minha família? ou sem Selena? Isso é de mais para mim. Não sei nem mesmo como é que isso funciona, como estou neste estado em que me encontro e nem como sair dele se for esse o meu desejo. Se eu pudesse falar, diria eu quero acordar, e, nesse caso, será que eu acordaria agora mesmo, neste exato momento? Já tentei levantar e sair à procura de Chloe, mas não funcionou. Tudo isso parece demasiadamente complicado.
Mas, apesar de tudo, acredito que é verdade. Ouço as palavras da enfermeira de novo. Sou eu quem está no comando. Todos estão esperando por mim.
Sou eu quem deve decidir. Agora sei.
E isso me aterroriza mais do que qualquer outra coisa que aconteceu hoje.
De repente, ouço gritos distantes.
- Demi.
Cortinas de plástico sendo arrastadas pelo seu longo varão de alumínio, fazendo um barulho completamente perturbador.
Passos pesados, mais gritos ainda distantes, alumínio sendo arrastado. Parece que alguém está procurando algo.
- O que a senhorita pensa que está fazendo? - Ecoou uma voz grave e com tom de autoridade. - Saia já daqui ou iremos chamar os guardas.
Os passos se aproximavam, meu corpo inteiro estava arrepiado, eu queria abrir os olhos para ver o que era ou quem era o responsável por atrapalhar meus pensamentos entediantes.
- Demi.
Selena. Ela está aqui.
O silêncio tomou conta do lugar, eu conseguia sentir o seu calor, conseguia sentir a sua respiração, mas eu precisava sentir o seu toque, precisava desesperadamente para me acordar desse sonho horrível e me levar de volta para casa. Eu preciso que você me toque, Selly.
Eu sentia o calor de sua mão se aproximar da minha, estava tão perto.
- Me solte, me solte. - Ouvi ela gritar. - Me solte, solta, solta.
E assim a voz foi se afastando e com ela, todo seu calor e o toque que eu tanto almejava naquele momento.
- Eu disse que chamaria a segurança, não quero te ver mais aqui. - A mesma voz autoritária disse.
Selly.
- Isso é um absurdo! - Esbraveja ela.
Dentro da UTI, todos os enfermeiros olham para a porta, com os olhos cansados, porém, atentos. Sei muito bem no que estão pensando: Será que já não temos muito trabalho aqui dentro para ter de acalmar pessoas malucas lá do lado de fora? Quero explicar para eles que Selena não é nenhuma maluca. Que ela nunca grita, exceto em ocasiões muito, muito especiais.
A enfermeira rabugenta de meia-idade (a que não atende os pacientes pelo nome, mas fica sentada ao lado dos computadores, monitorando os telefones) balança a cabeça ligeiramente e se levanta como se estivesse aceitando uma designação que lhe fora atribuída. Ela ajeita sua calça branca e caminha até a porta. Ela não é a melhor pessoa para falar com Selena. Não mesmo. Gostaria de alertar-lhes de que seria melhor enviara enfermeira Ramirez, aquela que confortou meus os meus pais (e que "me deixou em parafuso").
Ela conseguiria acalmá-la. Mas essa outra só vai tornar as coisas piores. Ela vai para as portas automáticas onde Camila e Selena estão discutindo com um atendente de plantão.
As vozes se calam quando as portas automáticas se fecham e meu vazio perturbador volta a me atingir.

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Moonlight
FanfictionA vida pode ser boa e te oferecer outra chance. Me diz, se pudesse fazer tudo diferente, faria? #2 - Semi 02.20